No início da carreira política de Marília, o professor Etevaldo Britto Dias disse: “Este é o sonho que vejo representado em Marília: uma mulher da classe média, trabalhadora, esposa, mãe, gente como a gente, sensível, incomodada com as injustiças sociais. Marília nunca se impôs como candidata. Foi sempre procurada por grupos de cidadãos comuns, que viram nela uma digna representante. O que fez sempre foi discutir com seus apoiadores o sentido de sua candidatura, apresentando como condição não ficar sozinha como estrela solitária, mas irradiar a sua luz no meio de uma constelação. Marília representa voltar a acreditar em política como a nobre arte de promover o bem público e a ele se dedicar com zelo e garra de quem se vê lutando por um bem imprescindível à vida. E é exatamente assim que ela gera identificação. Eu acredito em política assim. E você?”.
Marília costuma dizer:”Ninguém deve aspirar à política apenas pelo desejo de ocupar um cargo, querendo representar a si mesmo. É preciso ir além disso, ter um projeto coletivo para cuidar das pessoas”. Mais do que uma representante na política, ela se torna a representante de ideias e ideais de milhares de pessoas que se inspiram nela.
Mas o que torna Marília uma inspiração para tantas pessoas? Há várias respostas possíveis para esta pergunta, mas essa reflexão não se limita somente às suas qualidades individuais. Precisamos entender como sua trajetória ressoa junto ao povo, que legitima essa percepção.
Muitos governantes – sobretudo ao longo dos últimos anos – têm induzido a sociedade a um estado permanente de guerra entre os cidadãos, sem se dar conta de que este é o caminho que os levará para o ostracismo. Por que insistem nessa tática se, no fim do dia, o que as pessoas mais desejam é estabilidade na vida e nas relações? Acreditamos que uma das explicações para a longevidade de Marília na vida política reside exatamente na sua capacidade de transformar disputas em acordos e de construir consensos para promover o bem comum, nos ensinando que a democracia e os princípios republicanos são o caminho para pacificar os conflitos.
Exemplo de sua capacidade de diálogo é o fato de que durante todos os seus governos em Contagem, Marília teve adversários do PT no governo estadual, como os governadores Aécio Neves e Antônio Anastasia, ambos do PSDB e, atualmente, Romeu Zema, do partido Novo. No entanto, isso nunca foi empecilho para que ela buscasse o diálogo para consolidar parcerias necessárias para a cidade. Áreas como saneamento, saúde, educação, regularização fundiária, habitação, meio ambiente, infraestrutura sempre contaram com o apoio e a colaboração do governo estadual durante seus governos. Assim como se articula com diferentes agentes políticos em busca de resultados comuns, em agendas imprescindíveis para a população e suprapartidárias.
Além disso, a população reconhece que Marília não enriqueceu com a atividade política. Em sua prestação de contas nas últimas eleições, ela declarou como patrimônio a casa onde mora há mais de 20 anos no bairro Eldorado, um carro do ano de 2013 e um apartamento que estava sendo pago a prestações. Ela sempre adotou uma postura firme de recusa de privilégios da classe política. Enquanto deputada, foi autora da lei que acabou com a aposentadoria especial dos parlamentares mineiros e suas prestações de conta acumularam a devolução de milhões de reais aos cofres públicos, por meio da recusa de verbas como as de paletó e diárias de viagem, reforçando sua integridade, honestidade e transparência com a população.
Mas há quem se engane ao acreditar que para construir consensos é preciso ser isento. Marília também é uma figura combativa mas, acima disso, é propositiva. Enquanto vereadora, em um período em que a Constituição Cidadã e a democracia eram novidades no Brasil, Marília produziu jornais, cartilhas e organizou plenárias muitas vezes realizadas em praça pública, para divulgar os direitos do povo, que ainda eram pouco difundidos entre a população. Além disso, enquanto deputada, Marília teve destacada atuação no Estado na defesa de políticas de igualdade racial, LGBT+ e proteção das mulheres. Ela apresentou um projeto de reconhecimento da dependência previdenciária para casais homossexuais e assumiu o protagonismo na luta pela defesa e ampliação da rede de proteção da vida das mulheres em Minas Gerais. Durante seus primeiros mandatos como prefeita, Contagem tornou-se uma das primeiras cidades a implementar cotas para negros e negras no serviço público.
É crucial reconhecer que Marília Campos luta e lidera como uma mulher, em um ambiente político dominado por homens. Ela fez história ao se tornar a primeira mulher eleita prefeita de Contagem em mais de 100 anos, e novamente ao ser a primeira reeleita desde que a reeleição foi implantada no Brasil. Ao longo de sua trajetória, marcada pelo combate ao sexismo e a subestimação das lideranças femininas, é notável que, muitas vezes, seus feitos não receberam o reconhecimento que merecem. Enquanto alguns homens são lembrados por realizações menores, mulheres como ela têm seus esforços minimizados ou ignorados.
Muitos desejaram ser a mente-pensante ou foram pretensamente intitulados intermediadores de Marília, no entanto, com uma capacidade diferenciada de escuta e refinada inteligência, ela considera opiniões, mas não transfere a ninguém a responsabilidade de formular diretrizes e estratégias. Se orienta pela busca do diálogo e consenso, mas não se exime de desgastes para defender suas convicções, sua cidade e seus eleitores. Sua defesa pela mudança da lei do ICMS, por exemplo, é uma luta para assegurar mais justiça social e tributária para municípios de grande porte, que foram drasticamente impactados pela mudança legislativa.
O trabalho e legado de Marília demonstram sua capacidade de agregar necessidades e sonhos de pessoas comuns, diversas e plurais, demonstrando que o verdadeiro poder está na capacidade de unir, inspirar e transformar. Apesar dos obstáculos impostos por uma sociedade machista, a trajetória de Marília Campos não será lembrada apenas como a história de uma mulher extraordinária, mas também como uma protagonista em seu tempo.
Marília conseguiu se consolidar como uma figura majoritária, capaz de construir pontes com segmentos mais conservadores da sociedade e com a classe média. Mesmo diante da desaprovação do PT em alguns segmentos da sociedade, Marília transcende essa rejeição e é votada e bem avaliada por eleitores que se opõem ao Partido dos Trabalhadores.
Durante suas administrações, Marília foi reconhecida por “arrumar as contas” e fazer uma gestão fiscal de excelência, garantindo mais autonomia para o município e mais investimentos públicos. Afinal de contas, o povo reconhece que durante suas administrações, Contagem deixou se ser uma cidade dormitório para se tornar uma cidade com oportunidades, desenvolvimento, cultura e lazer.
Não é à toa que Contagem testemunhou em 2019 o movimento “Volta Marília”, que clamava pelo seu retorno à administração municipal. Um ano depois, prometendo uma “Contagem Feliz de Novo”, Marília conquistou seu terceiro mandato como prefeita, e conta hoje com uma aprovação positiva superior a 72%, conquistando assim o objetivo da esquerda democrática, que segundo o economista José Prata de Araújo, é “transformar maioria social em maioria política”.
De modo particular, em seu atual mandato, destacamos não só o investimento de quase R$1bilhão em obras, mas principalmente o fortalecimento da saúde pública. Além de ter liderado um processo complexo de desprivatização da rede de urgência e emergência em meio à pandemia de Covid-19, Marília deixou mais uma marca importante: nunca antes na história de Contagem o SUS foi tão valorizado. Os investimentos globais em Saúde saltaram de R$600 milhões em 2020 para R$900 milhões em 2024.
Em pouco mais de três anos, Contagem tem feito uma revolução na educação, com destaque para a inclusão digital dos estudantes da rede pública, modernização das escolas e valorização dos professores. A gestão Marília também foi responsável pela geração recorde de empregos, investimentos históricos em obras de infraestrutura, pavimentação, renovação asfáltica e mobilidade. Pela valorização dos servidores públicos, garantia dos direitos humanos, ampliação das políticas públicas de assistência social, geração de renda e segurança alimentar. Uma gestão que trabalha por todos e cuida de quem mais precisa.
Hoje, como prefeita, Marília Campos continua sua missão de transformar sonhos em realidade e seu terceiro mandato é um testemunho vivo de sua capacidade de inspirar confiança e de governar com excelência. Marília se destaca pela defesa dos direitos universais e pelo fortalecimento do Estado Social, assim como o trabalho incansável de quem honra o conselho de sua mãe, dona Silvia, que a ensinou que “a gente guarda o que comer, não o que fazer”, explicam sua hegemonia política e aprovação popular.
A capacidade política de Marília a coloca em evidência positiva, mas também em um permanentemente campo de disputas e desconstruções. Sua capacidade não é apenas individual, é coletiva. Ela poderia estar em muitos lugares, mas escolhe seguir fazendo política com as suas bases, se colocando à disposição para ser prefeita de Contagem pela quarta vez. Marília transcende a si mesma e se consolida como um símbolo de resistência, compromisso e esperança. Não é uma simples líder política e não representa a si mesma, ela é uma amiga, uma aliada e uma defensora incansável do povo.
Ela se tornou a personificação de uma ideia; de um povo que quer continuar e que merece estar no poder, conquistando a cada dia mais dignidade, justiça social e qualidade de vida. Representante de pessoas comuns que se sentem vitoriosas. Marília é uma ideia que torna a vida das pessoas mais feliz.
Daniela Tiffany é psicóloga e Mestre em Psicologia Social pela UFMG. Secretária de Desenvolvimento Social, Trabalho e Segurança Alimentar da Prefeitura de Contagem.
Lucas Frittzes é jornalista.