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José Prata: “O governo Marília Campos no pós pandemia”

Tratamos neste texto de diversas questões do governo Marília Campos e da política estadual e nacional: o controle da pandemia em Contagem; a melhor avaliação histórica do SUS; as “políticas emergenciais” do governo municipal; uma análise da grande aprovação popular da prefeita e do governo e diretrizes para se melhorar ainda mais; os desafios de Contagem no pós pandemia; a necessidade de humanização da militância política; reflexões sobre a eleição para o governo de Minas; um clipping com análises do governo Bolsonaro.

1-COM O CONTROLE DA PANDEMIA, FASE EMERGENCIAL DO GOVERNO MARÍLIA CAMPOS ESTÁ “SE ESGOTANDO”. Nunca desejamos tanto que o “esgotamento” de uma fase de um governo. Quando dizemos que um governo “esgotou-se” é porque envelheceu e não tem mais capacidade de renovação. No caso de Contagem é diferente: a “fase emergencial” está chegando ao fim porque as medidas emergenciais tiveram bons resultados e a principal meta está sendo cumprida, ou seja, o controle da pandemia do coronavírus em nosso município. (…) Veja os principais indicadores epidemiológicos em Contagem: a) o número de casos depois de atingir um pico de 5.911, em março/21, recuou para 1.252 casos em agosto, uma redução expressiva de 79%; b) o número mensal de óbitos recuou de 356, em abril/21, para 41 em agosto, uma redução de 88%; a média móvel de casos dos últimos sete dias foi de 0,6, no dia 17/09/21, uma mortalidade de 4 pessoas em uma semana, o que significa que já temos dias sem nenhum óbito; c) com a redução do número de casos de covid-19, reduziu-se, de forma expressiva, a ocupação de leitos hospitalares: eram 113 pessoas internadas em enfermaria e 79 em uti, no início de abril; agora, no dia 19 de setembro, são, respectivamente, 32 e 19 pacientes; d) se a pandemia está sendo controlada em Contagem, não podemos deixar de lembrar e prestar nossa solidariedade às famílias das 47.053 pessoas infectadas e das 1.934 pessoas que foram a óbito; e) o controle da pandemia se deu com o empenho dos governadores e prefeitos, que apostaram no isolamento social, na utilização de máscaras e da utilização do álcool em gel, e, sobretudo, com o avanço da vacinação; em Contagem, no dia 16/09/21, a campanha de vacinação alcançou 434.533 pessoas com a primeira dose (65% da população); e 229.339 pessoas com a segunda dose ou dose única (35% da população); no total foram 663.872 doses de vacinas aplicadas em Contagem.(…) Como o vírus não tem fronteira, dizemos que a pandemia está sendo controlada em Contagem porque ela está sendo controlada também no Brasil: a) o número de casos, que atingiu o ápice no dia 23 de junho (77.328, na média móvel semanal) recuou, agora em 11 de setembro (foram 14.314 casos em todo o país); o aumento mais recente se refere ao lançamento de uma grande quantidade de casos de meses anteriores; b) o número de óbitos que atingiu o teto no dia 12 de abril (3.124 na média móvel semanal) recuou agora em 18 de setembro (564 na média móvel semanal); c) a vacinação é a principal responsável pelo maior controle da pandemia em todo o Brasil: são 141.623.847 pessoas vacinadas com a primeira dose (66,30% da população); os brasileiros que já completaram o esquema vacinal são 80.285.227 pessoas (37,64% da população).(…) Outro dado importante é que não se confirmaram avaliações de alguns epidemiologistas de que a variante “delta” pudesse colocar, de novo, a pandemia fora de controle no Brasil. Alguns estudos divulgados recentemente mostram felizmente que, mesmo com a delta, a pandemia continua recuando no Brasil: “A variante delta do coronavírus, que causou avalanche de novos casos nos últimos meses em países da Europa, Ásia e também nos EUA, parece estar se comportamento de uma forma diferente no Brasil. Aqui, quatro meses depois da identificação dos primeiros casos, a variante não provocou uma piora nas contaminações, internações e mortes. Os números, ao contrário, são declinantes” (Valor Econômico, 11/09/2021).

2-SUS TEM, PROVAVELMENTE, A MELHOR AVALIAÇÃO DA HISTÓRIA. O SUS, desde que foi criado na Constituição de 1988 e implantado na prática no início da década de 1990, nunca teve provavelmente uma avaliação tão positiva como agora na pandemia do coronavírus. A saúde pública, desde sempre, lidera a lista das políticas públicas mais reclamadas pela população. A saúde, seja nos governos municipais, estaduais e federal, é em geral muito mal avaliada de uma forma genérica (neste caso pesa muito a dificuldade de acesso), mas quando a pesquisa aborda a avaliação do atendimento realizado, aí sim o SUS é muito bem avaliado.(…) O SUS está muito bem avaliado (“Viva o SUS”, é o que mais se vê pelo país afora) por diversas razões: a) primeiro porque trata-se de uma política pública fundamental num momento dramático do nosso país, onde enfrentamos uma pandemia com um enorme grau de adoecimento e letalidade; b) O SUS é um sistema amplo de saúde, como diz Gustavo Vecina: “Ao contrário da percepção da maior parte da população, as atribuições do SUS não ficam restritas à assistência médica. O SUS é responsável por um conjunto muito amplo de ações. As ações em saúde pública não abrangem somente as ações de assistência médica. Temos toda área de vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, verificação da qualidade de água e alimentos, fornecimento de vacinas, controle de zoonoses. É muito mais amplo. Não existe um cidadão que pode dizer que não é usuário do SUS” (Jornal do Sindicato dos Bancários de São Paulo, 30/08/2019); na campanha de vacinação, como não existe vacinação pela rede privada, o SUS tornou-se efetivamente, neste caso, um sistema único de saúde do povo brasileiro; c) com o Orçamento de Guerra, aprovado a contragosto de Bolsonaro e Paulo Guedes, foi possível um grande incremento dos gastos com saúde, fora do teto de gastos, com compra de vacinas, ampliação dos leitos de enfermaria e uti, contratação de mais profissionais de saúde, o que melhorou a resposta do SUS à pandemia; d)na assistência médica, a rede privada de saúde não conseguiu garantir uma oferta de serviços diferenciada, durante vários momentos da pandemia faltaram leitos de enfermaria e uti, o que retirou o “diferencial” em relação ao SUS; na verdade o SUS, muitas vezes, teve oferta de leitos até superior à rede privada.(…) Nos próximos meses, com a pandemia controlada, a saúde voltará a ser muito avaliada novamente, infelizmente, a partir de seus problemas estruturais: a) a pandemia, com a forte redução do número de casos e de mortes, deixa de ter o peso que hoje tem na agenda política dos prefeitos(as); b) a classe média volta novamente as atenções para os planos de saúde e o SUS se enfraquece como “o sistema único de saúde da população”; c) o desfinanciamento da saúde, com o teto de gastos, volta a ser novamente um grande empecilho para a melhoria da saúde pública; d) os problemas históricos da saúde – consultas especializadas, cirurgias eletivas, por exemplo – apresentam uma enorme demanda “represada” que vai demorar um tempo para ser equacionados; e) com o fim da pandemia, sem uma pauta diária, o governo perde também um grande espaço conquistado na mídia da capital da campanha de vacinação em Contagem, que, bem organizada e criativa, teve uma cobertura como nunca aconteceu em nossa cidade.

3-GOVERNO MARÍLIA CAMPOS ENFRENTOU, COM ENORME SUCESSO, A “FASE EMERGENCIAL” DE SEU GOVERNO. O ótimo desempenho do governo Marília Campos começou a ser desenhado já no programa de governo. Ao invés de um programa emergencial fragmentado por temas e com data definida para 100 dias, como era a ideia inicial, definimos, como primeiro ponto do programa de governo, as “medidas emergenciais”, de forma horizontal, cujo eixo era: “Vencer a pandemia, sair da crise e reconstruir Contagem”. No início do mandato, o governo teve dificuldade de dar uma dimensão mais “política” para as “medidas emergenciais”, ficando muito dividido nas “caixinhas”, como se diz, mas aos poucos, sobretudo com uma maior politização, o governo “engrenou” e polarizou nossa cidade. Veja os bons resultados do governo Marília Campos, que lhe deram uma ampla aprovação:
a)SAÚDE: campanha de vacinação vitoriosa, Contagem terminou a vacinação da população adulta à frente das grandes cidades de Minas, criatividade contribuiu muito para a repercussão na mídia: mutirões, rolezin, virada; melhoria dos indicadores epidemiológicos, com redução expressiva do número de casos, internações e mortes; intervenção no IGH e retomada da gestão da assistência de urgência e hospitalar; reinauguração do Iria Diniz; contratação de médicos e outros profissionais de saúde para as UBS; mutirão de consultas especializadas e de cirurgias eletivas. A saúde foi fundamental na aprovação do governo, sobretudo a campanha de vacinação, com 90% de aprovação e até mesmo a saúde de em geral foi aprovada ainda que com um índice menor de 53% de avaliação positiva a 46% de avaliação negativa.
b)MANUTENÇÃO E LIMPEZA EM TODA A CIDADE. A manutenção e a limpeza urbana pesou muito na aprovação do governo Marília Campos. A prefeita Marília Campos recebeu a prefeitura com somente 40% da cidade atendida com serviços de capina e limpeza devido à falta de contrato para execução desses serviços urbanos. Para enfrentar essa situação e dar vazão à demanda reprimida, a Prefeitura de Contagem reforçou as equipes de limpeza com a contratação de cerca de 100 trabalhadores. Esses trabalhadores atuam em mutirões: capinam e varrem as ruas, avenidas, becos, beira dos córregos, áreas de escolas e unidades básicas de saúde. A força-tarefa fica na região por alguns dias e conta com sete equipes fazendo parte dessa intervenção, com cerca de 100 profissionais atuando simultaneamente. A eficácia na manutenção pesou positivamente na avaliação do governo Marília Campos. Na limpeza urbana 72% de aprovação contra avaliação negativa de 29%; nos cuidados com a cidade / manutenção de ruas, aprovação é de 68% contra desaprovação de 30%; e no saneamento básico a aprovação é de 74% e desaprovação de 25%.
c)OBRAS JÁ TEM APROVAÇÃO, MAS O PERCENTUAL É MAIS APERTADO. As obras do plano de investimentos de Contagem de R$ 500 milhões estão sendo retomadas aos poucos pelo governo Marília e os desafios são grandes: em muitos casos é preciso refazer projetos; existe uma enorme demanda de revisão de contratos motivada, principalmente, pela disparada dos insumos da construção civil; em alguns casos será preciso relicitar obras, devido à desistência de empresas ou incapacidade das empresas de tocarem as obras; mas o importante é que não faltam recursos para as obras que já estão garantidos através de empréstimos. Além disso, outras obras dependem da execução do governo do Estado, como a drenagem fluvial na região do Riacho. (…) E tem ainda o novo plano de investimentos que já está sendo articulado pelo atual governo, que também exigirá um enorme esforço de gestão. (…) Uma retomada parcial das obras já garante uma avaliação positiva nesta área, mas apertada: 55% de aprovação e 39% de desaprovação.
D)DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. A população associa o crescimento econômico ao governo federal, ainda que os governos municipais possam também contribuir com políticas que melhorem o ambiente econômico. Mas mesmo sendo uma política nacional, é evidente que o crescimento da economia mexe com o humor dos cidadãos e cidadãs nas cidades.(…) A geração de empregos tem sido boa em nossa cidade. Os 7.833 empregos gerados em Contagem de janeiro a julho estão assim distribuídos por segmento da economia: serviços (2.900 empregos); indústria (1.896), comércio (1.830), construção civil (1.203) e agropecuária (4 empregos).(…) No entanto, a economia brasileira, que deve crescer 5% neste ano, dá fortes sinais de desaceleração e as previsões para 2022 é de um crescimento de apenas 0,5% a 1%, com repercussões negativas na geração de empregos e nas finanças públicas. Já temos sinais desta desaceleração em Contagem neste ano na geração de empregos: janeiro (443 empregos), fevereiro (1.811), março (1.062), abril (603), maio (1.655), junho (1.457) e julho (802 empregos).
d)EDUCAÇÃO, PROGRAMAS SOCIAIS E TRANSPORTE. O governo Marília Campos precisa melhorar a avaliação nestas três áreas. A educação, apenas virtual durante a pandemia, não tem boa avaliação: 46% de avaliação positiva e 45% de avaliação negativa. Os programas sociais tem avaliação positiva de 42% e avaliação negativa de 46%. E o transporte coletivo é um enorme gargalo, como em todos os municípios, tendo em nossa cidade avaliação negativa de 64% e avaliação positiva de 32%.
e)FINANÇAS ORGANIZADAS. As finanças municipais não aparecem nas pesquisas de opinião, mas são elas que interferem decisivamente nas políticas públicas e nos investimentos na cidade. Nas finanças da Prefeitura, o governo Marília apresentou excelentes resultados: a) a receita corrente líquida de 2021, estimada, em julho, em R$ 1,930 bilhão, já tem nova estimativa para R$ 2,050 bilhões; bem acima da LOA, de R$ 1,917 bilhão, e superior em relação à receita de 2020, de R$ 2,006 bilhões; isto é resultado do crescimento em torno de 5% da economia e também do aumento da inflação, o chamado “imposto inflacionário”; b) o IPTU 2021, mesmo com a redução do valor, tem estimativa de arrecadação de R$ 210 milhões, superior aos R$ 196 milhões de 2020, ou seja, o crescimento da adimplência compensou a redução do valor; a nova política do IPTU permanente está em discussão na Câmara Municipal; c) com o aumento da receita, a dívida municipal recuou de 33% para 30% da receita corrente líquida; d) também com o aumento da receita, com o congelamento dos gastos de pessoal determinado por legislação federal e o aumento das alíquotas de contribuição dos servidores, trouxe os gastos de pessoal para 37% da receita corrente líquida. Não temos pesquisa sobre o tema finanças públicas, mas se o jornal da Prefeitura e outras mídias dedicarem grande espaço ao tema, certamente isto irá fortalecer Marília como uma grande administradora.

4-CONTAGEM TEM PREFEITA (E TEM GOVERNO). Quando Marília tomou posse e, ilustrado com uma foto dela entrando na Prefeitura, eu, copiando Kalil, cravei em meu perfil no Facebook: “Contagem tem prefeita”. Na verdade, utilizei esta expressão mais para expressar a alegria de ter uma mulher à frente da Prefeitura de Contagem. Acontece que “Contagem tem prefeita” acabou sendo utilizado, inclusive por mim num texto de julho, para destacar Marília e o seu papel protagonista e com grande capacidade de realização à frente da Prefeitura. Muitas pessoas do governo, eu senti isso, gostariam que o título fosse na verdade: “Contagem tem prefeita e tem governo”.(…) O certo é que o governo e a prefeita, tem boa aprovação, porque se reforçam mutuamente; mas é certo também que o governante tem sempre avaliação melhor do que seu governo, no caso a Prefeitura de Contagem. Veja só: Nas pesquisas de opinião a aprovação / desaprovação dos líderes políticos se dividem: fatores exógenos (o legado de realizações nas políticas públicas) e endógenos (atributos políticos e individuais da liderança). O governo ou a Prefeitura, em nosso caso, como não é pessoa física, só tem aprovação exógena. Já o líder político tem aprovação exógena e também aprovação endógena. Não conheço casos de líderes políticos que tem avaliação pior que seus governos; seria algo, por exemplo, como o “governo vai bem apesar do prefeito”, o que pouco provável de acontecer na prática. Portanto, o líder político carrega a avaliação positiva de seu governo (ou negativa), acrescentada da avaliação pessoal como liderança. E no caso de Contagem, a “cidade tem governo”, o que dá prestígio à Marília e a “cidade tem prefeita”, em função das enormes qualidades políticas e pessoais da Marília, o que a distancia da avaliação do governo que é bem avaliado. Na pesquisa Doxa, Marília tem avaliação positiva de 81% (12%, ótimo; 47%, bom; e 22%, regular positivo); já a avaliação geral da Prefeitura é positiva de 76% da população (3%, ótimo; 41%, bom; e 32%, regular positivo). Como se vê, a diferença está no ótimo e bom, que Marília tem 59% e a Prefeitura em geral tem 44%. No caso de Contagem, está claro que o desempenho da Prefeitura alavanca a aprovação da Marília e não é verdade que puxa para baixo. De toda maneira, o ideal é que a aprovação da prefeita e da Prefeitura seja mantida nos níveis atuais, que já é uma situação muitíssimo confortável, e se tiver que mudar que seja para melhor.
UM GOVERNO AINDA MELHOR. Contagem precisa de um governo ainda melhor, mesmo tendo que contar menos com a presença da prefeita na gestão administrativa diária da cidade, liberando um pouco a Marília mais para a gestão política, que é garantir a direção política geral do seu governo: manter uma boa articulação com a Câmara Municipal; articular recursos junto aos deputados e senadores para nossa cidade; articular os grandes investimentos na cidade; acompanhar de perto a participação popular, que deverá desabrochar com o fim da pandemia e a retomada das reuniões presenciais; garantir tempo para uma forte presença no meio do povo; realização de visitas permanente às obras em toda a cidade; se articular com outros prefeitos e prefeitas e participar de entrevistas para a mídia; estudar, como sempre fez, os assuntos políticos diários e as pautas do interesse do município.(…) Uma observação: não cabe politicamente à prefeita liderar a oposição aos governos estadual e federal, trata-se de tarefa de partido político, mas, até em nome da transparência e sinceridade política, Marília pode e deve se vincular ao PT, à esquerda e a Lula, que deverá vir, inclusive, a Minas Gerais brevemente; e mais: Marília deve se somar às forças democráticas toda vez que a democracia estiver ameaçada em nosso país. (…) O governo precisa melhorar ainda mais a gestão, sobretudo naquelas áreas que irão liderar a aprovação popular da Marília e da Prefeitura: obras; manutenção da cidade (limpeza urbana e manutenção dos bairros e ruas); saúde; áreas diversas da Prefeitura, que irão articular uma grande aglomeração popular no final de 2021 e em 2022 (cultura, esporte, lazer, meio ambiente, segurança social, comunicação); além de uma gestão também melhorada naquelas áreas onde o governo precisa melhorar a avaliação: educação, programas sociais, transporte coletivo.(…) E cada secretário, cada gestor setorial, devem ser os primeiros a dar uma dimensão de “política de governo” para as principais políticas de suas áreas. Tem uma expressão que, na minha opinião, vale para todo gestor: “Cresça e apareça”; ou seja, o desafio é fazer cada vez melhor; o “crescimento”, enquanto política pública depende que a realização deixe os limites da “caixinha” e ganhe uma dimensão de governo e que tenha uma boa aprovação do destinatário dos serviços públicos: a população; e não tem como “crescer” sem que uma realização seja amplamente divulgada pelos meios de comunicação da Prefeitura, ou seja, é preciso “aparecer” e cada secretário ou gestor setorial deve “brigar” para que as políticas de suas áreas sejam divulgadas. É nesta perspectiva é que a “gestão administrativa” ganha uma “dimensão política”.
GESTÃO DA INFORMAÇÃO, DIAGNÓSTICOS E PROJETOS DE CIDADE. Marília tem uma tradição na esquerda mineira de uma impecável “gestão da informação” e de uma aposta na formação política. Seus mandatos foram politizados e ganhou muito respeitabilidade por isso. Mesmo sem meios técnicos adequados, na Prefeitura, de 2005 a 2012, chegamos a ter um estudo das “1.000 obras”, grandes intervenções até pequenas obras nos bairros; tínhamos um acompanhamento das políticas públicas de todas as secretarias, que serviram de base para a comunicação e para a publicação de três revistas e, no final dos dois governos, para a redação das quatro revistas, com um balanço pormenorizado de seus dois governos. (…) Como deputada estadual, Marília tinha uma enorme quantidade de publicações sobre as pautas políticas de seus mandatos – principalmente cartilhas- e tinha um blog, de enorme sucesso, que publicava semanalmente, com compartilhamento no Facebook, os principais artigos publicados na mídia brasileira. E importante: Marília, como titular dos seus mandatos, estuda com afinco toda a produção teórica, como as inúmeras cartilhas, fazendo dela uma liderança qualificada mesmo em assuntos complexos, como a previdência social e previdência dos servidores.(…) Não tem jeito: sem teoria e formação política não se constrói um grande governo numa cidade das dimensões de Contagem. O programa de governo é um ponto de partida importante para a reflexão política e teórica de nossa cidade.(…) A gestão da informação é fundamental, temos um projeto grandioso de obras e investimentos na cidade, que não é compreendido pelo governo; para conhecê-lo melhor é preciso estudá-lo e visitar as obras. É fundamental a realização de diagnósticos sobre muitos aspectos de nossa cidade: economia e mercado de trabalho; educação; saúde, plano diretor; finanças municipais; bacia hidrográficas (Vargem Flores e Pampulha, por exemplo); saneamento básico; estrutura da segurança pública; história de Contagem; patrimônio cultural; programas sociais; perfil da população de Contagem; servidores da cidade; habitação e urbanização; SIM – Sistema Integrado Municipal, que poucos conhecem.(…) Sem a gestão da informação e sem diagnósticos da cidade, é muito difícil: a) pautar, de forma mais precisa, a comunicação da Prefeitura; b) a assessoria diária à Marília, para entrevistas e reuniões, é um “Deus nos acuda”, com uma “corrida diária” atrás de informações; c) sem uma produção teórica, a própria Marília não tem mais o que “estudar”, ficando apenas com um clipping que não a forma politicamente, como é tradição dela, para exercer o cargo político; d) sem uma produção teórica de diagnósticos de políticas públicas da cidade não se tem como formar, uma tarefa fundamental, os conselheiros populares para consolidar a participação popular em nossa cidade.
RODRIGO PAIVA: UMA “INSPIRAÇÃO” DO GOVERNO. Tomo a liberdade para falar de uma pessoa que para mim representa uma “inspiração” para o governo Marília Campos em termos de gestão política: Rodrigo Paiva. Ele me influenciou fortemente ao longo do tempo porque é uma pessoa completa, ainda que para ser “completa” custe a ele enorme uma enorme carga de ansiedade. Rodrigo, veja só: a) é uma pessoa com enorme convicção do projeto político, organizativo e de comunicação da Marília; não é um teórico, como é o Ivanir Corgosinho, mas valoriza enormemente a produção política, cujas teses capta com leituras, é muito “antenado” nas reuniões e sempre procura interlocução com os autores; ele sempre “namora” todos os meus estudos, quando, nas madrugadas, cuida da “programação visual” de forma de apoio voluntário; b) Rodrigo é um “craque” da “narrativa política”; todos os slogans, músicas, cartazes, jornais da Marília, que polarizaram nossa cidade desde 2004, tem nele o principal formulador; e impressionante: a “narrativa”, quase sempre, não foi baseada em pesquisas, mas na identificação com a Marília e com o projeto político dela e na interpretação da “alma” de nossa cidade. Foi assim com o slogan da última campanha: “Contagem feliz de novo”, que ele, inclusive, “cantarolou” para o autor do jingle onde este slogan deveria ser inserido na música, que é de 2008; c) todos artistas, pessoas de muita “imaginação”, quase sempre, não são muito afeitos à gestão; Rodrigo tem “imaginação” e é obcecado pela gestão, ou seja, em ver “as coisas acontecerem”; d) uma das maiores influências que tive do meu amigo é a “organização da política”; para Rodrigo toda campanha política, todo governo, precisa ser pensado em seus diversos “momentos”, em suas “fases”; precisa, como ele diz, “ter começo, meio e fim”, precisa se ajustar “ao tempo político”. Esta reflexão apareceu muito fortemente nas posições dele em relação à política de comunicação, mas como a política de comunicação é a “comunicação da política”, Rodrigo se tornou um “especialista” em organizar campanhas políticas, em organizar governos; e) e ele tem mais uma caraterística imprescindível: tem um enorme apreço pelo “sentido social” daquilo que faz; ou seja, o que produz ganha “sentido” é naquilo que vai de encontro aos desejos da militância e de toda a população; ele não é de fazer e “deixar para lá”, só se sente feliz com um feedback positivo das pessoas; f) o cara é ainda um grande programador visual de folhetos, cartazes, jornais, livros e de tudo mais; nos tempos vagos se mostra um grande fotógrafo; é um ceramista brilhante; e é um ótimo cozinheiro. Impressionante!

5-O GOVERNO MARÍLIA NO PÓS PANDEMIA E OS DESAFIOS PARA SE MANTER UMA GRANDE APROVAÇÃO POPULAR. Quando falamos do governo “pós pandemia” não significa que isto já é meta para a semana que vem; tudo indica que o controle amplo da pandemia, zerando as mortes por covid-19, será alcançado nos próximos quatro meses, em dezembro, ou no início de 2022. Significa que o governo municipal tem ainda, neste período, muito o que trabalhar naquilo que chamamos de “medidas emergenciais”; mas se o fim da pandemia está próximo é preciso planejar o governo pós-pandemia, que deverá ser um período de grande reencontro da população nas ruas da cidade, além de um momento decisivo para se colocar um fim, nas eleições de 2022, no período de trevas que vivemos neste país. Seguem a seguir algumas reflexões sobre as tarefas do governo municipal: as políticas para a contenção definitiva da pandemia, e as políticas de governos que serão prioritárias no próximo ano: saúde; manutenção e limpeza urbana; obras públicas; e cultura, lazer, esportes e segurança social.
CONCLUIR COM ÊXITO AS MEDIDAS EMERGENCIAIS. A campanha de vacinação ainda não acabou. Pelas pesquisas que fiz nas redes sociais das prefeituras das maiores cidades do Estado, Contagem foi uma das cidades que sempre esteve à frente na vacinação e, no “sprint” final, a “virada da vacinação”, nos dias 27 e 28 de agosto, foi a cidade que concluiu primeiro a vacinação da população adulta, com 18 anos ou mais. E isto foi tão importante, que teve uma intensa cobertura da mídia local e com boa repercussão inclusive na mídia nacional. Mas não sabemos por quais motivos, depois da “virada da vacinação”, praticamente não se falou mais em vacinação em Contagem, nos 15 dias seguintes, numa espécie de “apagão político” do governo. Veja só: Contagem tinha, no dia 16/09, 434.533 pessoas vacinadas com a primeira dose e 209.239 pessoas vacinadas com a segunda dose; portanto, a vacinação tem ainda uma enorme dimensão para completar o esquema vacinal de 225.294 pessoas. Portanto, cabe ao governo manter uma intensa publicidade da campanha de vacinação: a) quem está vacinando (segunda dose, adolescentes de 12 a 17 anos e terceira dose ou dose de reforço dos idosos e, tudo indica, como em outros países, a vacinação deverá chegar também às crianças, como está acontecendo no Chile com a Coronavac); quantidades de vacinas aplicadas diariamente; veja os números recentes que não foram divulgados: 09/09 (8.839 doses), 10/09 (8.350), 13/09 (7.559 doses). Infelizmente a nossa campanha “Contagem está vencendo a covid-19” não é consenso no governo; as mídias da Prefeitura nada falam da melhoria dos indicadores epidemiológicos, o que é feito somente nas mídias pessoais da Marília (face, instagran), o que deve continuar acontecendo em minha opinião.(…) Além da campanha de vacinação, as medidas emergenciais devem continuar em outras áreas: volta do ensino presencial (que retomará a normalidade com a mortalidade zero da covid-19); continuidade das obras e da manutenção urbana; programas sociais; dentre outras áreas.
SAÚDE SERÁ FUNDAMENTAL PARA A AVALIAÇÃO DO GOVERNO. Tudo indica que a vacinação contra covid-19 vai continuar sendo realizada anualmente; neste ano o grande interesse pela vacina foi para evitar o grande nível de infecção e de mortes; no ano de 2022, com a retomada da aglomeração das pessoas, é possível que a vacina contra a covid continue muito valorizada pelas pessoas como uma forma de se aglomerar com mais segurança. Na saúde já tem muita coisa planejada e ou em andamento, além da vacinação; retomada da gestão da assistência hospitalar e de urgência, que precisa da definição da nova forma de gestão que implemente uma melhoria no atendimento; duas UPAS já estão em construção (Nacional e Industrial) e são grandes os desafios para concluir as obras e colocá-las em funcionamento; uma nova UPA está sendo articulada (Petrolândia); a construção da nova sede do Iria Diniz; contratação de médicos e profissionais de saúde para as UBS; mutirão de consultas especializadas e de cirurgias eletivas; construção de um equipamento de saúde mental 24 horas, algo como um pequeno hospital psiquiátrico; articulação para a ampliação dos hospitais conveniados com o SUS Contagem e implantação de novos equipamentos da rede privada para atendimento à pessoas com planos de saúde.
CONTAGEM PODERÁ VIRAR UM “CANTEIRO DE OBRAS”. Contagem poderá se tornar um grande canteiro de obras nos próximos meses. São investimentos de R$ 500 milhões em infraestrutura urbana, sistema de transporte municipal, urbanização de bairros populares e favelas; construção de equipamentos de saúde e de educação em continuidade de governos anteriores. Na verdade, Marília não vai concluir apenas obras de governos anteriores; foi ela que iniciou muitas obras, que outros governos continuaram e será ela que vai concluir, como são os exemplos dos equipamentos sociais que estão sendo entregues nas obras do Arrudas (Cemei e UBS); algumas obras do córrego Ferrugem; as obras de mobilidade urbana do SIM; obras em vilas e favelas no valor de R$ 40 milhões. Importante: muitas obras estão paradas, mas não por falta de recursos, que é mais difícil de resolver nestes tempos de raros investimentos públicos, mas por problemas basicamente de gestão, que são complexos, mas que tem solução à vista. (…) E Marília já conseguiu articular um novo plano de investimentos da ordem R$ 250 milhões, com recursos do governo do Estado para obras no córrego Ferrugem e para um grande programa de pavimentação asfáltica; além de recursos de emendas parlamentares, recursos próprios do Tesouro para obras diversas na cidade; e novas obras de saneamento devem ser articuladas junto à Copasa e avanços na habitação popular vão depender de iniciativa, agora ou futuras, em um novo governo federal.
MARILIA CUIDA DA MANUTENÇÃO DA CIDADE COMO NUNCA ANTES. A manutenção da cidade é, quase sempre, um fator de desaprovação dos prefeitos. Em Contagem isto é diferente: a limpeza urbana e os cuidados com a cidade e manutenção de ruas tem sido um fator de liderança na ampla aprovação da Marília. Na Contagem pós pandemia, isto precisa continuar, com capina, varrição, limpeza de bocas de lobo, operação tapa-buracos, limpezas da beiradas dos córregos, dentre outras coisas. E a forma de isto ser feito também precisa continuar: a realização de mutirões limpeza, com um trabalho concentrado e eficaz garantindo a manutenção de cada região em um prazo bastante curto.
CULTURA, LAZER, ESPORTES E SEGURANÇA PARA GARANTIR UMA ONDA AGLOMERATIVA HISTÓRICA EM CONTAGEM. A pandemia, de forma impressionante, revalorizou, como nunca, a política de ocupação dos espaços públicos, uma marca histórica de nossa prefeita. Falar de “Marília das praças” é um “tiro nos pés”; uma das coisas que a população mais deseja, arrisco a dizer que todos os segmentos sociais, é voltar às locais de aglomeração para: conversar, abraçar, beijar, dançar, cantar, sorrir, beber, comer um tira-gosto. Temos um grande encontro marcado nas praças e parques de Contagem, já no Natal deste ano; quem sabe também no Carnaval; e durante o ano todo de 2022. Isto será fundamental para manter um clima de otimismo e de vibração da população contagense. Para isso será fundamental um esforço articulado de diversas secretarias, em especial de Meio Ambiente, Cultura, Esportes, Segurança Social, Comunicação. A pandemia não vai mudar o mundo, mas é possível que, controlada a covid-19, tenhamos uma épica aglomeração e a derrota de governos negacionistas de extrema-direita.(…) Muitas coisas já estão encaminhadas: projetos de reforma das principais praças; contrato específico de manutenção destes espaços públicos; Luzes de Natal; reforma de equipamentos culturais importantes da cidade; projetos de revitalização de todo o centro histórico; equipamentos de lazer como o Boulevard Portugal; defendo que o governo deveria colocar mais recursos no Parque Fernão Dias, para acelerar a reconstrução da infra-estrutura do local: imóveis administrativos; quadras de esportes; chuveirões; brinquedos; velódromo; mirante.
EDUCAÇÃO: RETORNO DAS AULAS PRESENCIAIS VAI CRIAR CLIMA DE OTIMISMO. A volta das aulas presenciais, com a covid-19 controlada, deverá ter um impacto importante num certo otimismo na cidade: melhoria do ensino realizado de forma presencial; intensa socialização das crianças e adolescentes; retomada da merenda escolar; uma melhoria da qualidade de vida dos pais e avós, com os filhos voltando de novo às escolas.(…) Na educação, a grande demanda em termos quantitativos é de escolas infantis, os nossos Cemeis. Neste caso já temos avanços com a inauguração do Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Vila São Paulo; estão em obras os Cemeis Colonial, da Sede, e Arvoredo, na região da Ressaca; Previsão de construção de mais 8 unidades de educação infantil: Cabral – Ressaca, Solar do Madeira – Petrolândia, Carajás/Pedra Azul – Nacional, Granja Ouro Branco – Sede, Industrial – Industrial, Bairro Cinco – Eldorado, Vargem das Flores, Novo Riacho – Riacho.
AVANÇOS PARA OS SERVIDORES MUNICIPAIS. Por fim, acho que o governo Marília deve realizar um enorme esforço de valorização dos servidores municipais. Primeiro, é preciso politizar este debate. A valorização dos servidores não é uma disputa similar a empresa privada, onde trabalhadores se organizam para “arrancar dos patrões” parte dos lucros que eles obtêm. Prefeito, prefeita no nosso caso, não é “patrão” como no setor privado; a Prefeitura não é uma entidade lucrativa, sua receita depende de um projeto de desenvolvimento para o Brasil, Minas e Contagem. Temos uma situação promissora porque a situação financeira da Prefeitura é boa e os servidores não pagarão a conta do ajuste fiscal, como nos últimos anos. Mas a valorização não pode ser feita de uma vez só, é um processo ao longo do mandato Marília. É preciso arrumar a situação dos servidores com pior remuneração; reposição das perdas salariais do governo Marília Campos: de janeiro de 2021 a abril de 2022; avançar planos de carreira como no caso da Guarda Municipal; reabrir novos concursos públicos; mas também é preciso adaptar as regras previdenciárias dos servidores municipais às já vigentes para os servidores federais, servidores estaduais, e todos os segurados do INSS.

6-PELA HUMANIZAÇÃO DA MILITÂNCIA POLÍTICA. Não tem nenhuma virtude a pessoa viver “em função” da política, ser “casado” com a política. Primeiro, porque não é possível ser feliz sem uma vivência significativa da vida privada: amores, família, amigos, amigas. Segundo, porque política “não é um fim em si mesmo”, uma questão somente “individual”; é “um meio coletivo” de transformação da sociedade. Quando a política vira “um fim”, boa coisa ela não vai produzir.(…) A militância política sempre foi muito dura e invasiva da vida privada; isto se tornou ainda mais dramático com o golpe contra a esquerda e a vitória de Bolsonaro, que transformou nossa vida pública e também a vida privada em um inferno. Espero que Bolsonaro seja derrotado, que recuperemos a “normalidade democrática” e possamos voltar a curtir a vida privada de uma forma mais saborosa.
PELA “PRIVATIZAÇÃO” DA VIDA PRIVADA”. Podemos vivenciar esta forma diferente e mais humana da política em Contagem e não transformar o governo municipal na nossa “razão de viver”. Marília, depois de 40 anos de militância, praticamente sem nenhuma derrota política, ela chega pela terceira vez à Prefeitura de Contagem, a maior cidade brasileira governada pelo PT, plena e rejuvenescida pessoal e politicamente. Marília tem esta trajetória de vitórias pelas suas enormes qualidades políticas e pessoais; ela se tornou uma “mulher inesquecível”. Marília é “inesquecível”, mas isso não quer dizer que a população de Contagem viva “em função” da política e da liderança que ama e admira. As prioridades dos cidadãos e cidadãs “comuns” são as questões concretas da vida privada. Marília é, como se diz, “gente como a gente” naquilo que se assemelha a vida dos cidadãos comuns nos hábitos e gestos; mas tem, como pessoa pública, um grau de dedicação à cidade e às pessoas que deixa um espaço muito limitado para a vida privada. Nós, os familiares, amigas e amigos, precisamos “arrancá-la” da vida pública regularmente e inseri-la nos sonhos e prazeres da vida privada: cultura, lazer, esporte, amor, família. E a vida privada, já muito restrita, não pode ser “invadida”, “atropelada” pela política. Sou favorável a manter público o que é público, mas sou favorável a uma ampla “privatização” da vida privada. Estou em campanha pela humanização da militância política. (…) Temos em nossa família um exemplo que levo muito em conta em minha análise: nossos três filhos são progressistas, mas nenhum deles seguiu a carreira política; nenhum tem uma militância mais engajada como a minha e da Marília e a “pauta” de assuntos da família pouco inclui as questões políticas.(…) Eu confesso: não gosto de encontros em botecos, encontros em festas, almoços e jantares “despachando” assuntos de governo; e “deliciando” com os “jogos do poder”; não gosto que a política invada meu merecido tempo para o descanso e o lazer.
SUGESTÕES PARA INCREMENTAR A VIDA PRIVADA. Tenho muitas sugestões, a partir de minhas experiências e das experiências de outras pessoas, para que possamos “incrementar”, “incendiar” nossa vida privada, especialmente minha vida com a Marília. Neste novo momento que estou vivendo, como poeta, sinto que tenho mais “repertório” para fazer amizades que sejam mais interessantes, homens e mulheres; amizades que podem ser somente minhas ou minha e da Marília. (…) Quero investir amizades mais individualizadas, com quem possamos compartilhar nossas intimidades, muitas vezes “esquecidas” em função de uma militância e de uma vida desregradas. Além do mais, como escrevi um livro de crônicas, com a divulgação “no limite” de minhas intimidades, estou curioso para saber as “fofocas” das vidas das minhas amigas e amigos; recentemente surpreendi um amigo com curiosidades desconcertantes da vida dele. Claro que as “fofocas” poderão se transformar em “crônicas da vida cotidiana”, desde que evidentemente autorizadas pelas minhas amigas e amigos.(…) Veja só: não existe “veto” a nenhum assunto em uma amizade; política, por exemplo, pode ser discutida, mas a minha preferência é que isto seja feito de uma forma mais “genérica”, mais em “tese”, mais “filosófica”.(…) Festas de aniversários, encontros nas casas dos amigos, de preferência, que seja com uma roda de viola, que consiga “pautar” a moçada.(…) Encontros públicos, minha preferência, é em bares com uma boa música ao vivo, para que possamos cantar, e com um espaço para a dança; principalmente quando o papo fica “ruim” a gente convida nossos amigos para dançar, como eram nossas festas, há alguns anos, no Bar Abóboras, da Edvane Freitas, e, mais recentemente, do bar Vitrola, das nossas amigas Karol Maia e Poli Dias. Já convidei a Marília para entrar na aula de dança comigo; acho a dança, de quem sabe dançar, muito bonita, sensual e até mesmo “indecente” (no bom sentido).(…) Acho legal também a ida com amigos ao cinema, ao teatro, e um show musical e, ao final, com uma boa bebida, falar das emoções daquela atividade cultural.(…) Eu nunca participei, mas acho que deve ser muito legal, encontro de amigos, onde as pessoas se revezam recitando poesias, e, quem sabe, lendo suas crônicas da “vida cotidiana”, ou, mesmo, participando do popular Karaokê.(…) Sinto falta dos encontros com amigos e familiares para jogar “truco” e “buraco”; que marcou sobretudo os encontros dominicais da minha família quando meus pais eram vivos; e acho que esta será uma boa alternativa para estar mais próximo dos meus irmãos; além disso sinto falta das partidas com os melhores times de vôlei do Brasil no Ginásio do Riacho.(…) Adoro também banho na pequena piscina que temos em nossa casa, junto com a Marília e meus filhos, construída, em grande parte por mim e por amigos em 2005, uma “raiazinha” com 7,5 metros de comprimento; 2,0 metros de largura e 1,20 metro de profundidade, uma boa opção de banhar para adultos e crianças. Eu e Marília estamos planejando também, como é inviável férias muito longas, umas quatro ou cinco viagens por ano de três a cinco dias cada uma, para praias de perto de Minas, no Rio de Janeiro e Espírito Santo, onde viajaremos de ônibus.(…) Marília disse recentemente na atividade no Espaço Popular de comemoração dos 110 anos de Contagem: “Gostei muito de ter a minha família ao meu lado em uma agenda política. Isso acontece raramente. Dessa vez senti mais proximidade e cumplicidade”. Na verdade, uma das minhas paixões por Contagem é a vida pública intensa, nas praças e parques; adorei as luzes do Espaço Popular; adorei a ida com Marília no Parque Fernão Dias, onde, num impulso inexplicável, tomei uma “chuveirada”, e, molhado, fiz uma “regressão” aos velhos tempos em que vivi momentos tão felizes. Já estou sonhando com o apoteótico reencontro com a população nas ruas de Contagem já no Natal; quem sabe também no Carnaval em Contagem (Marília acha que o tempo dela para a folia se esgotou, mas sendo o Carnaval em Contagem, ela vai cair na folia). Quando vou com Marília em grandes atividades de lazer, claro que ela é muito abordada pelas pessoas, para abraços, conversas e fotos, mas nada disto tira o prazer de estar ao lado do povo, porque, neste caso, não é política “dura” e “que esgota-se em si mesmo”; é “política pública” de cultura, lazer e esportes para conversar, abraçar, beijar, dançar, cantar, sorrir, beber, comer um tira-gosto.(…) Uma forma de fortalecer a vida privada é, sempre que possível, devemos almoçar e jantar com nossos familiares, inclusive nos dias de semana. Sempre cobro isto da Marília: ela trabalha há quinze minutos de nossa casa e não tem porque almoçar fora. Em nossa casa, historicamente, não se discute política durante as refeições, além de assuntos tristes, como violência e doenças. Na minha “Matemática do amor”, o horário de almoço de 1 hora, é dividido em três partes: meia hora para o deslocamento; 15 minutos para o almoço feito de forma carinhosa pela minha sogra, Sílvia; e 15 minutos para fazer o “quilo”, período que devemos utilizar para uns “amassos” e beijos (nossa “cota” diária é, de no mínimo, sete beijos).

7-DUAS REFLEXÕES SOBRE AS ELEIÇÕES PARA O GOVERNO DE MINAS. Aa esquerda formula muito pouco sobre a conjuntura nacional; o que formula, como o programa político do PT, permanece praticamente “clandestino”; e sobre a conjuntura estadual então vive-se um “apagão permanente”. Impressionante: quase não se vê reflexões sobre o Estado de Minas Gerais, por exemplo. Seguem a seguir duas reflexões, que foram publicadas em meu perfil no Facebook e no site Brasil de Fato.
GOVERNO DE MINAS. SE KALIL NÃO SE VINCULAR À FRENTE DEMOCRÁTICA CONTRA BOLSONARO PERDERÁ A ELEIÇÃO PARA ROMEU ZEMA. Matéria publicada no Valor Econômico, do dia 10/08/2021, traz como chamada: “Em Minas, sucessão estadual está descasada da nacional”. Este “descasamento”, em minha opinião, é amplamente favorável a Romeu Zema, que numa eleição “desnacionalizada” tem tudo para se reeleger governador. Já Kalil, para se tornar uma candidatura competitiva e vencer a eleição, terá que se vincular à disputa nacional à candidatura de Lula ou, pelo menos, no primeiro turno “abrir” o palanque para candidatos da Frente Democrática e, no segundo turno, apoiar o adversário de Bolsonaro.(…) É possível derrotar Romeu Zema em Minas Gerais e o melhor nome para esta tarefa é o de Alexandre Kalil. Mas depende da estratégia política a ser adotada pelo prefeito. Kalil será vitorioso se confrontar o governador em três frentes: a) na política de combate à pandemia, vinculando Romeu Zema ao negacionismo de Bolsonaro, responsável por mais de 600 mil mortes por covid-19 no Brasil; b) combatendo o privatismo de Romeu Zema, que propõe privatizar tudo, inclusive saúde e educação; pesquisa da XP/IPESPE mostra que o povo é contra este privatismo; perguntada qual a “melhor maneira para recuperar a economia depois do Coronavírus”, a população respondeu: 65%, mudar a política econômica com mais investimentos do governo para o Brasil voltar a crescer; 25%, manter a política econômica atual com as reformas, e maior participação das empresas privadas para retomar o crescimento; 10%, não sabe / não respondeu; c) Kalil precisa demarcar com Romeu Zema também na questão democrática; o governador é um aliado de Bolsonaro nos ataques à democracia e não participa de nenhuma articulação dos governadores em defesa da democracia, como aconteceu recentemente em uma nota de crítica aos ataques de Bolsonaro ao STF; vale dizer que Romeu Zema está à direita do Partido Novo, que defende o impeachment de Bolsonaro.
“BOMBA RELÓGIO”. DÍVIDA DE MINAS “EXPLODE” COM ROMEU ZEMA; VALOR SUBIU QUASE R$ 30 BILHÕES EM DOIS ANOS. Já mostrei em outros estudos, que Minas Gerais tem “desequilíbrios estruturais”, que impossibilitam uma solução duradoura para as finanças públicas estaduais. Mas, quase sempre, os governos estaduais que se sucedem fazem uma politização “rasteira” desta questão e jogam a culpa pela deterioração fiscal nos governos anteriores; é como se a crise fiscal de Minas se resumisse a uma questão “de gestão”, de “competência administrativa”, e não fosse resultado de desequilíbrios de difícil solução. (…) Veja agora a situação fiscal de Minas Gerais no governo Romeu Zema. A dívida pública estadual, principal indicador fiscal do setor público, passou, em dois anos e quatro meses, de R$ 113,819 bilhões para R$ 143,203 bilhões, um crescimento nominal de quase R$ 30 bilhões, e crescimento percentual num prazo muito curto de 26%. (…) O que isto significa? Quando Minas Gerais voltar a pagar a dívida, seja por decisão judicial ou pela adesão ao plano do governo federal, os encargos da dívida serão tão elevados que irão inviabilizar financeiramente o nosso Estado novamente. Já se passaram cinco governos – Itamar Franco, Aécio Neves, Antônio Anastasia, Fernando Pimentel, e agora Romeu Zema -, e a dívida de Minas Gerais continua próxima a 200% da receita corrente, limite da Lei de Responsabilidade Fiscal, o que a torna inadministrável. (…) A combinação do aumento das receitas (aumento nominal de 31,26% em dois anos e quatro meses de governo) e contenção das despesas, sobretudo de pessoal (aumento de apenas 2,73%), de fato, deram algum fôlego ao governo Romeu Zema, que está colocando o pagamento dos servidores estaduais em dia, provavelmente também o 13º salário deste ano; repassando recursos aos municípios referentes aos impostos retidos nos anos anteriores; fechamento de acordo com o Tribunal de Justiça para reposição de recursos de precatórios; negociação com os municípios do pagamento das repasses atrasados na saúde; pagamentos de fornecedores em atraso; e mais os investimentos com os recursos da Vale. São medidas de impacto social e político inegável. Mas o grande desequilíbrio do Estado permanece sem solução: a enorme dívida que o Estado tem, sobretudo, com a União.

8-BOLSONARO, TUDO INDICA, NÃO SERÁ UM CANDIDATO COMPETITIVO NAS ELEIÇÕES DE 2022, SERÁ ELE UM GOLPISTA COMPETITIVO? Tomei emprestado este título de um artigo de Fernando Barros e Silva, da revista Piauí/UOL. Nos últimos dias, em particular nos dias que antecederam o 7 de setembro, e depois na avaliação das manifestações, aconteceu um enorme debate na esquerda brasileira sobre a força ou fraqueza de Bolsonaro. São três posições que polarizam o debate: a) Bolsonaro tem condições de encaminhar um golpe político/militar e a resposta deve ser a ampliação das manifestações de rua contra o golpe e a constituição de uma Frente Amplíssima para impedir os planos de Bolsonaro; b) Bolsonaro tem condições políticas de dar o golpe, mas, inversamente, ao que os frentistas propõem, deve-se apostar numa frente de esquerda; Vladimir Safatle, do PSOL, expressou de forma contundente esta posição: “Não foi por falta de frente ampla que estamos nessa situação. O cálculo simplesmente não é este. A esquerda precisa entender de uma vez por todas a natureza do embate, ouvir aqueles mais dispostos ao confronto, esses que não tiveram medo de ir para a rua hoje, e assumir uma lógica de polarização. Isso implica que ela precisa mobilizar a partir da sua própria noção de ruptura, em alto e bom som. Uma ruptura contra outra. Não há mais nada a salvar ou a preservar nesse país. Ele acabou. Um país cuja data de sua independência é comemorada dessa forma simplesmente acabou. Se for para lutar, que não seja para salvá-lo, mas para criar outro” (El País Brasil, 08/09/2021); c) uma terceira posição, que me parece a mais correta, expressa por analistas da grande imprensa; cientistas políticos; e me parece pelo “entorno” de Lula é que o governo Bolsonaro vive uma profunda crise; que dificilmente vai vencer em 2022; e está praticamente afastado a possibilidade de uma golpe sustentando pelos militares.
Os principais argumentos desta última posição são os seguintes: a) no século 21, a democracia está sendo destruída de “dentro para fora”, e não como no século passado de “fora para dentro”, as “quarteladas”; b) não vivemos mais na “guerra fria” e os Estados Unidos e os países europeus não dariam sustentação a uma ditadura militar no Brasil; c) os militares não tem projeto nacional como no século passado; a presença de mais de 6 mil militares em cargos políticos não caracteriza uma ditadura militar, ainda que intelectuais como José Luís Fiori defendam que a volta dos militares aos quartéis seja uma das questões relevantes de um futuro governo de esquerda; d) Bolsonaro não tem um controle como precisaria da institucionalidade para dar um golpe na democracia “de dentro para fora”, porque não tem apoio no Poder Judiciário; tem grandes resistências no Senado e, mesmo na Câmara dos Deputados, não tem um apoio decidido ao golpe; não tem apoio de prefeitos e governadores; e) o Centrão, que ainda sustenta Bolsonaro na Câmara, está numa posição muito delicada, porque nas eleições de 2022 a base fanática de Bolsonaro não vai votar nos partidos PP, PL, PSD e outros, mas nos radicais de direitas, como Zé Trovão, e isso poderá levar o Centrão a experimentar uma grande derrota e até se desfazer nos moldes atuais; pois isso mesmo, por sobrevivência política, o Centrão poderá se distanciar de Bolsonaro nas eleições de 2022; f) Bolsonaro, está cada vez mais isolado na sociedade; sofre uma forte oposição nas ruas e nas redes sociais; é sustentado por uma minoria fanática e barulhenta, mas não tem o apoio de uma maioria social para realizar uma pressão fortíssima sobre as instituições democráticas; Bolsonaro tem força para não ser “impichado”, mas não tem força para governar; f) sem forças para dar um golpe mais profundo na democracia, Bolsonaro precisaria vencer de forma convincente em 2022 e o cenário para ele é cada mais ruim: a pandemia e os mais de 600 mil mortos vai ficar “na conta do presidente”, o genocida, e a economia deverá ter um desempenho pífio e até uma recessão em 2022, com a “tempestade perfeita” que está se armando: crise política sem fim; investimentos públicos e privados irrisórios; inflação muito pressionada; elevação expressiva dos juros; dólar muito alto; crise energética neste ano e, tudo indica, também no ano que vem.(…) Impressionante como a esquerda, que está prestes a voltar ao governo, esteja tão despreparada politicamente. Os estudos que elabora, como o programa do PT para a reconstrução do Brasil, está praticamente “clandestino”; os intelectuais de esquerda estão isolados e sem interlocução social, e as principais lideranças do partidos, com grande peso político, com raras exceções, imitam a extrema direita na forma do combate político: contratam assessorias de internet para dar respostas rápidas e em tempo real aos acontecimentos, mas a forma é despolitizada: provocações, memes e muita “teoria da conspiração”. Resultado disso, é o que estamos vendo: analistas da mídia, cientistas políticos tem uma análise do governo Bolsonaro mais correta do que grande parte da esquerda.(…) Devido à importância deste debate, faço, a seguir, um pequeno clipping com a posição de diversos analistas, intelectuais e cientistas políticos sobre a crise do governo Bolsonaro.
JOSÉ LUÍS FIORI: “DO MEU PONTO DE VISTA, NÃO HAVERÁ GOLPE”. “A despeito de todas as vantagens corporativas e salariais adquiridas no período recente, creio que não se colocará para os militares a possibilidade de aceitarem ou não voltar aos quartéis no caso de uma troca de governo em 2022. Creio que eles simplesmente voltarão para casa tangidos por um mínimo sentido de sobrevivência, depois do gigantesco fracasso deste governo com o qual estiveram comprometidos visceralmente.(…) Do meu ponto de vista, não haverá golpe nem os militares participarão de qualquer tentativa desta natureza por parte do Sr. Bolsonaro e seus apoiadores mais fanáticos. Mas reconheço que existem sólidos motivos históricos para a existência de tal preocupação. Basta lembrar a longa série de intervenções e golpes de Estado que tiveram participação direta ou indireta dos militares, durante todo o século XX, em 24 de outubro 1930; em 10 de novembro de 1937; em 29 de outubro de 1945; em 24 de agosto 1954; em 31 março de 1964; e agora mais recentemente, no golpe que começou em 2015 e culminou no dia 31 de agosto de 2016. Ou seja, seis golpes de Estado, o suficiente para que qualquer cidadão com boa memória se preocupe com a possibilidade de que isto volte a se repetir. No entanto, acho muito difícil que isto aconteça, porque os militares já são os verdadeiros donos deste governo e neste momento eles não dispõem de nenhuma alternativa consensual para substituir seu capitão-presidente, mesmo quando sua dificuldade de convivência com a marginalidade da família presidencial seja cada vez maior, pelo menos entre a oficialidade de melhor nível intelectual. Além disso, existe um problema ainda maior, que é o fato de que os militares brasileiros não têm hoje nenhum projeto nem alternativa econômica para o Brasil, apesar de que muitos deles já tenham percebido que que o ultraliberalismo do Sr. Guedes é um grande blefe e não tem a menor condição de tirar o Brasil do fundo poço em que eles mesmos o colocaram. Essa estratégia ultraliberal esgotou-se em todo o mundo, e em particular no caso dos Estados e economias nacionais de maior extensão e complexidade, como o Brasil. Além disso, os Estados Unidos já não estão em condições, nem querem assumir a responsabilidade pela criação de um novo tipo de “dominium canadense” ao sul do continente americano”. (Carta Maior, 19/07/2021).
EMIR SADER: “NÃO HOUVE GOLPE OU GOLPE EM ANDAMENTO”. “São tantas e tão desbaratadas as bobagens que ele diz, que dá vontade de não levar em conta, de só ridicularizá-lo ainda mais. É um erro. Em primeiro lugar, porque ele está na presidência, tem certo poder. Em segundo, porque incentiva os seus adeptos a levar a sério as coisas que ele diz. Levá-lo minimamente a sério porque expressam pelo menos suas intenções. Dá pra medir suas possíveis ações, o que ele gostaria de fazer, se pudesse. Ele já disse coisas tão absurdas tipo: Só’ saio daqui morto, Só’ Deus me tira daqui, Só’ há dois poderes: o Executivo e o Legislativo, entre tantas outras bobagens. Além do desconhecimento do que o Judiciário decidisse. (…) Mas outro erro é levar demasiadamente a sério o que ele diz. Por mais absurdas que sejam as coisas que ele diz, não tem o poder de transformar a realidade com suas palavras. Ele ameaça sempre dar um golpe, voltou a fazer isso na semana de 7 de setembro. Houve gente que correu a dizer que já tinha havido um golpe, por ele desconhecer o Judiciário e por outras coisas afins que ele disse. É um risco cair no impressionismo, tão imbecis são suas palavras. Ou no jurisdicismo, de acreditar que o que ele diz basta para romper a realidade, para introduzir uma nova jurisdição.(…) Falta uma visão política da realidade. Não basta ele querer mudar a realidade com suas pregações, para que consiga. As palavras contam, mas não tem esse poder. Golpe foi o de 1964, golpe foi o de 2016, que alteraram a realidade, romperam com a democracia existente até então. Temos que evitar de banalizar a palavra golpe. Considerar bravatas o que são bravatas. Bolsonaro quer dar outro golpe. Romper com a institucionalidade existente, para concentrar mais poder em suas mãos. Ele o faz, agora, porque sabe que a continuidade desta institucionalidade, por limitada que seja, levará à sua derrota nas eleições.(…) Daí que incita os militares e os policiais militares a brecar o que ele considera que seria um golpe contra ele, que teria tirado o Lula da prisão e o levaria à Presidência. Que o limita e até o impede de governar, com limitações impostas pelo Judiciário. Mas é preciso evitar o impressionismo com suas bravatas e o jurisdicismo de considerar que a violação verbal de normas já representa a ruptura da realidade concreta. Ele disse essas coisas todas na terça, depois não apenas teve que se retratar (não importa quanto tempo demorará essa atitude), como se enfraqueceu e enfraqueceu o golpe. Erraram os que correram a dizer que tinha havido um golpe ou um golpe em andamento. Sabemos, com Marx, que as palavras, quando penetram na realidade, se transformam em força material. Mas precisam penetrar na realidade, precisam corresponder à realidade concreta. Não aconteceu isso, pelo menos até agora. E parece, por enquanto, pelo menos, que está mais longe do que estava antes do 7 de setembro e não mais perto.(…) É preciso ter uma visão política da realidade, inclusive das declarações bombásticas e das visões jurídicas da realidade. Senão nos impregnamos de uma dimensão subjetiva que deforma nossa capacidade de perceber e compreender a realidade. Da mesma forma, encarar as alianças para resistir a ele, com uma concepção política. Em princípio, somar a todos os que se oponham a ele. Mas não a ponto de participar de manifestações hegemonizadas pelos que a convocaram com o lema: Nem Lula, nem Bolsonaro. Sempre nos perguntamos se eles estão mesmo contra o Bolsonaro ou, na verdade, manipulam essa polarização para tentar desqualificar o Lula”.(Brasil 247, 12/09/2021).
FERNANDO DE BARROS DE BARROS E SILVA: “BOLSONARO NÃO É COMPETITIVO COMO CANDIDATO NEM COMO GOLPISTA”. “Jair Bolsonaro é hoje muito menos candidato à reeleição presidencial do que candidato a golpista. As duas personas obviamente se confundem, mas à medida que o caminho até as urnas (eletrônicas) se torna mais difícil, a fantasia da ruptura da ordem democrática ganha espaço na retórica, nas ações e nos cálculos do presidente, essencialmente um arruaceiro.(…) A pouco mais de um ano da eleição, Bolsonaro deixou de ser um candidato competitivo. Isso ainda pode mudar, mas a dúvida que se coloca neste momento diz respeito à sua viabilidade como golpista. Que forças sociais e políticas, quais interesses econômicos dariam sustentação ao delírio bananeiro que ele vislumbra? Em outras palavras, será Bolsonaro um golpista competitivo? Nem Bolsonaro nem os militares que se desmoralizam ao seu redor têm forças para implantar um regime de exceção no país. Precisariam ganhar nas urnas em 2022 para completar o serviço de sufocamento gradual e descaracterização das instituições. A opção do golpe abrupto não teria hoje sustentação interna ou internacional. Se já somos párias no mundo, uma quartelada nos jogaria de vez na sarjeta da civilização, com consequências econômicas nefastas – represálias, boicotes, pressões de toda ordem. E o próprio mercado, enfim, começa a desembarcar de Bolsonaro, não por convicções democráticas – isso não existe na elite brasileira, salvo uma ou outra exceção –, mas porque ganhou corpo o diagnóstico de que o ano que vem será frustrante para a economia e Paulo Guedes não tem mais como lhes garantir a rapadura”.(Revista Piauí, 07/09/2021)
BRENO ALTMAN: “A ESQUERDA E A PAIXÃO PELA TEORIA DA CONSPIRAÇÃO”. “Bolsonaro queria que acreditássemos estar em curso um auto-golpe, para juntar sua tropa e amedrontar os adversários. A oposição de direita e a imprensa monopolista compraram e venderam essa crença, pois quanto pior for Bolsonaro, mais limpa ficaria a barra dos golpistas de 2016. Não falta gente do lado de cá, sob essa tese, disposta a abraçar o MBL, FHC, Bolsodória e, até ontem, mesmo a Temer. Muita gente na esquerda foi nessa cantilena do golpe em curso, porque há paixão por uma teoria da conspiração e a suposta radicalização do golpe seria, enfim, o grande momento da mobilização necessária, nos perdoando pela fraqueza diante do golpe real, o de 2016. Além disso, para certos setores de esquerda, nada como um suposto golpe para revigorar a tese da “frente ampla” e propor amizade-quase-amor com o liberalismo decadente, antinacional e antidemocrático encarnado por tucanos, emedebistas e adjacências. Pois é assim, brincando de “Pedro e o lobo”, como na clássica história infantil, que Bolsonaro controla a pauta e os movimentos das demais forças, mesmo nos momentos em que se desmoraliza e sua fraqueza é celebrada, baixando-se a guarda, enquanto o capitão respira um pouco e se prepara para fazer tudo de novo. Já fomos melhores” .(Brasil 247, 10/09/2021).
FERNANDO LIMONGI, CIENTISTA POLÍTICO: “CENTRÃO DEVE DESEMBARCAR POR SOBREVIVÊNCIA ELEITORAL”. “A questão é sempre tentar interpretar o Bolsonaro e tentar encontrar razão onde nunca há razão. Se foi um ensaio de golpe, foi um ensaio mal feito. O que entendo que ele pretendia fazer era uma demonstração de força e que com isso ele forçaria os outros atores a um acordo. O que ele mostrou foi sobretudo isolamento e completa falta de senso político.(…) É a avaliação que todos atores políticos estão fazendo. Com ele não dá pra conversar. Ele não tem a menor capacidade de entendimento da cena política, do que pode, do que não pode, como se negocia e como se obtém resultados. Foi realmente uma manifestação de fragilidade política, de isolamento e de medo.(…) Pode ser wishful thinking (desejo que algo determinado fato aconteça) porque escrevi o tempo todo que ele não seria eleito. Mas eu não vejo qualquer chance de ele chegar forte à eleição. Toda essa discussão da terceira via já está superada. Porque não tem primeira via. Ele está caindo fortemente. Cada pesquisa ele cai mais. Ele está com a guarda baixa no corner apanhando.(…) O que ele fez desde que começou: nada. E fazer bagunça. Tudo que ele fez desde que entrou no governo foi criar crise a cada vez que é ameaçado. Depois, alguém vem passar o pano dizendo: “Vamos tentar nos entender”. E a escalada vem aumentando. Isso já tinha que ter tido um ponto final há muito tempo.(…) O Arthur Lira passou pano. Basicamente subiu no muro. O Ciro Nogueira não deu nenhuma declaração desde que assumiu a Casa Civil e disse que seria um amortecedor do governo. Está desaparecido. O PP e o centrão compraram um barco furado. Eles agora têm que saber como é que eles vão escapar do naufrágio. Se é que eles ainda têm tempo de pular do barco.(…) O centrão não rasga dinheiro. O Bolsonaro fez um acordo com eles e esse acordo envolvia algum tipo de troca e de tentativa de chegar a 2022 com viabilidade eleitoral. Agora, continuar com o Bolsonaro é o abraço do afogado”.(O Globo, 09/09/2021).
FERNANDO BRITO: “BOLSONARO JÁ NÃO GOVERNA E NÃO TEM MAIS DENTES PARA MOSTRAR”. “Com todos os acenos e até humilhações, Jair Bolsonaro parece não ter conseguido qualquer reversão no mau-humor do Supremo e do Senado. Só a Câmara, sob o comando de Arthur Lira, faz-lhe gestos de agrado mas, como se sabe, o Centrão é tão confiável quanto o presidente, que diz (ou grita) e logo se desdiz. A devolução da MP das Fake News, um monstrengo que confunde liberdade de expressão com liberdade de disseminar mentiras e boatos, é a cota do Senado, que vai se ampliar nas decisões sobre impostos e na provável rejeição da PEC dos Precatórios, que já não terá vida fácil na câmara baixa. O Supremo, que com liminar de Rosa Weber também suspendeu a MP, deve derrubar o decreto armamentista baixado por Bolsonaro e mantém, pendurada sobre a cabeça do clã, o julgamento sobre o foro privilegiado de Flávio e a participação de Carlos Bolsonaro na indústria de difamação bolsonarista pelas redes. A um ano e quatro meses do final de seu mandato, vai se tornando o que os americanos chamam de lame duck (pato manco, em tradução literal), um presidente com poucos poderes, que perdeu o mando e o apoio. Mas ele, infelizmente, não é assim, porque não se conformará com o fim inglório de seu período. A pressão sobre ele não deve cessar e, mesmo com poucas esperanças que, nos dois meses de funcionamento do Legislativo que temos até o final do ano, possa ser iniciado um processo de impeachment, é preciso constranger a maioria parlamentar que o impede de que, da mesma forma, mais poderes não lhe devem ser concedidos. Bolsonaro perdeu a chance de intimidar com as duas forças que poderia ter: uma adesão das Forças Armadas a seu golpe e a ousadia de suas falanges. Ele está juntando os seu cacos e tentando mostrar ser o conciliador que jamais foi. E até as pedras da estradas sabem que isso é falso e apenas tática. Pretender apoiar qualquer coisa que faça, alegando estar se cuidando do interesse público, é fazer seu jogo. Para que seja, mesmo, um pato manco, é preciso que perca o apoio onde é mais frágil, na situação econômica do país”.(Tijolaco, 14/09/2021).
ALOISIO MERCADANTE: “UM GIGANTESCO FIASCO”. “O dia 7 de setembro é uma data relevante da história nacional. O que todos esperávamos era o discurso de um estadista, que se solidarizasse com as vítimas de Covid-19, que tratasse da grave crise econômica e social e que apresentasse propostas para a reconstrução do Brasil, como fez o presidente Lula. Mas, além de uma apropriação indevida da data da independência, Bolsonaro tentou deflagrar um estado de golpe permanente. Jogou tudo o que tinha para mobilizar suas bases de extrema direita e ameaçar o estado democrático de direito: agrediu instituições, xingou ministros, paralisou algumas rodovias e tentou criar um clima de golpe com suas ameaças ao STF e as eleições presidenciais.(…) Entretanto, o resultado foi o aprofundamento de seu isolamento político e, no final, um recuo típico de um covarde. Um espetáculo humilhante e desmoralizante como jamais ocorreu para um chefe de estado em nosso país.(…) A tentativa de deflagrar um estado golpista permanente no 7 de setembro aprofundou o isolamento político de Bolsonaro, mas a assinatura da “carta de rendição”, proposta e escrita pelo golpista Michel Temer, desmoralizou a liderança de Bolsonaro com amplos setores de sua base social misógina, racista, machista, obscurantista, mas mobilizada. Ela que foi convocada para derrubar ministros ou fechar o STF. A humilhação patrocinada pelo golpista Temer, que sempre foi um profissional em trair e em derrubar governos, mas péssimo para ter votos e ganhar eleições, abriu uma fissura nessa liderança e destruiu o pouco de credibilidade que Bolsonaro ainda tinha junto à sua própria base”. (Brasil 247, 11/09/2021).
MARCOS COIMBRA: “O GOLPE DE BOLSONARO NÃO PODIA DAR CERTO E NÃO DEU CERTO”. “Como era previsível, na última terça-feira, a velha história se confirmou: a montanha pariu um rato. Não era bem uma montanha, apenas a figura patética do capitão tentando dar à luz algo maior que ele. Também não foi exatamente um rato, talvez uma ratazana, daquelas despeladas e fedidas. Qualquer tentativa de ganhar o debate político mandando seus seguidores para a rua não funciona, há muito tempo, no Brasil. Ao contrário do que éramos até os anos 1950, quando o povo na Cinelândia e na Avenida Rio Branco derrubava governos, nos tornamos um país populoso demais. Sempre fica a sensação de que, se algo aconteceu em algum lugar, foi apenas lá. Desde o fim da ditadura militar, só deram certo manifestações com alto grau de espontaneidade, pautas amplas e convocação diversificada. Certas ou erradas em suas reivindicações, progressistas ou reacionárias, foi assim nos comícios das diretas, no impeachment de Collor e em 2013-2015. A exibição bolsonarista do dia 7 de setembro não podia dar certo e não deu. Foi convocada por um governante fraco com o único intuito de se fortalecer, sem nem pensar nos interesses coletivos. No palanque, somente ele e sua turma, corresponsáveis por fracassos em série. Na rua, uma gente com a qual a maioria do povo não se identifica, truculenta e grosseira. Como se isso não bastasse, um ato extemporâneo, sem motivo para acontecer agora.(…) O capitão e seus estrategistas devem imaginar que o voto popular em 2022 será guiado pelo receio de contrariar quem anda armado, militares, milicianos e “atiradores esportivos”. Supõem que as pesquisas de opinião estão erradas e que os eleitores vão querer que o capitão continue, por ter o apoio de não se sabe quantas pessoas que foram “às ruas”. Trata-se de um raciocínio idiota. O que as pesquisas atuais mostram é algo inteiramente normal na democracia: na reeleição, quem faz um bom governo é favorito, quem conclui um governo mediano está no páreo e o mau governante tende a perder. O péssimo é carta fora do baralho. Bolsonaro é um presidente ridículo, que mal completou dois terços de seu mandato e já é responsável por catástrofes em todas as áreas, em especial uma calamidade sanitária causada por sua incúria e incompetência. Tornou-se, também, à medida em que aumentou seu nível de conhecimento, uma pessoa de quem a maioria da população não gosta, não admira e não respeita. Se conseguisse levar às ruas um, dois ou dez milhões de pessoas, isso não mudaria. O 7 de setembro de 2021 seria uma exibição inútil e não funcionou”.(Brasil 247, 13/09/2021).
OLGA CURADO, COLUNISTA DO UOL: “LULA PACIFICA O PAÍS; BOLSONARO NÃO VAI AO SEGUNDO TURNO”. “Não adianta o capitão se armar para uma guerra que já perdeu, a guerra pelo voto. Vai gastar retórica. A fala pueril, de almanaque, quem quer paz se prepara para a guerra, é mais um esforço estridente para mobilizar a sua tropa, que míngua. Em vão. A pacificação do país será um resultado da eleição de Lula no primeiro turno, em 2022. A constatação não é de um militante do PT, da esquerda comunista, ou de saudosistas do tempo em que a Lava Jato era sinônimo de garantia de honestidade na gestão pública. A fala é ouvida e dita nos corredores de uma entidade que atemoriza e que justifica políticas econômicas conservadoras, o tal mercado. A conclusão não é resultado de súbita conversão de empresas e conglomerados financeiros a uma lógica que visa benefícios sociais e defesa do meio ambiente, da redução da pobreza e da construção de muros que impeçam práticas de malfeitos no trato da coisa pública. Não se trata de uma aversão do mercado à maneira desaforada como tem sido gerenciada a crise pandêmica, com consequências humanitárias, e a morte, evitável, de 580 mil pessoas no Brasil. São as seguidas as pesquisas qualitativas que vêm sendo realizadas. As amostras, em profundidade, verbalizam o desconsolo pela maneira como o capitão reformado tomou a Presidência da República. O cenário avaliado é de que se torna irreversível sua defenestração. E isso se dará mais cedo do que tarde. Não haveria segundo turno”.(UOL, 01/09/2021).
LAWRENCE PIH, INVESTIDOR: “LULA ESTÁ PRATICAMENTE COM A MÃO NA TAÇA”. ”O governo Bolsonaro: ameaça golpista, reprovação crescente, fantasma do impeachment? Ainda vem mais turbulência? O impeachment está nas mãos de Arthur Lira, político muito mais hábil e sofisticado que Eduardo Cunha. Lira irá até o limite e extrairá o máximo de Bolsonaro antes de jogar ele embaixo do ônibus, como dizem os americanos. Aliás, hoje, Bolsonaro não governo mais. É o Centrão que governa. Dá pena.(…) O Lula está virtualmente com a mão na taça. No campo da terceira via tem ao menos uma dúzia de candidatos. É quase impossível chegarem a um acordo. Os egos e a fome não dão espaço a uma composição. Neste interim, o Lula deve estar a todo vapor costurando alianças. O Centrão sucumbirá ao charme do Lula sedutor. O Lula já está sinalizando seu eterno amor ao mercado com Luiz Trajano na pauta. Lembra do José de Alencar?. (…) Há uma onda rosa varrendo a América Latina e a América Central. O nosso país também está embarcando nesta onda, e não necessariamente é ruim. Pode até reduzir a desigualdade pornográfica do país”. (Folha, 18/09/2021)

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