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Ludmila Queiroz: Quando a morte é política de Estado

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O que aconteceu no Rio de Janeiro essa semana não foi erro — foi projeto.
O que vimos não é uma tragédia isolada, mas a repetição de uma lógica que se mantém há décadas: o uso da violência como ferramenta de manutenção de poder.
Há mais de vinte anos, quase todos os governadores do Rio foram presos, processados ou investigados.
Mas o que permanece intacto é o modelo de segurança pública que transforma a morte em plataforma eleitoral.

Os dados escancaram a farsa
As maiores apreensões de fuzis da história do Rio não aconteceram em favelas e sim no Méier: 117 fuzis na casa de um amigo de Ronnie Lessa. E a maior operação contra o crime organizado no país foi na Faria Lima.
Nenhuma dessas operações disparou um tiro. Nenhuma foi chamada de “guerra”.
Mas a favela continua sendo tratada como território inimigo.

A cor, o território e o alvo
O Estado escolhe quem deve morrer e onde.
E, invariavelmente, o território é o mesmo.
A cor também é a mesma: preta.
O perfil é o mesmo: jovem e periférico.
E morre como bandido, mas também como policial — que tem o mesmo perfil e a mesma origem: a favela.
Isso não é acaso.
É projeto — um projeto que atravessa décadas, consolidando uma cultura de guerra que chama extermínio de política pública de segurança.

A política da morte e o aplauso do medo
Falar sobre isso não é ser contra a polícia.
É ser contra a lógica da morte.
Porque segurança não se constrói com fuzis aterrorizando famílias durante a madrugada, nem deixando os mesmos moradores recolherem os corpos de seus vizinhos.
E o mais perverso é que o cidadão médio brasileiro aplaude esse tipo de violência, acreditando que é assim que se constrói segurança.
Mas se o número de mortes cometidas pela polícia fosse métrica de combate à violência, o Rio de Janeiro seria a Suíça.

O projeto da barbárie
Enquanto a política for de guerra — e não de segurança — e insistir em matar através do próprio Estado, a violência não diminuirá.
Porque ela é o elemento central de um projeto eleitoral que transforma o medo em voto.
Cláudio Castro usa o medo da população e o barulho da opinião pública como gasolina na fogueira para recolher dividendos políticos enquanto aterroriza o povo fluminense.

O silêncio também mata
Enquanto parte do país aplaude o espetáculo da violência, o Estado segue investindo em morte — e não em vida.
Segue financiando operações e não escolas, comprando fuzis e não futuro.
A barbárie só sobrevive porque encontra eco no medo e na indiferença.
Mas todo projeto de morte precisa ser desmascarado, exposto e enfrentado.
Porque segurança de verdade se constrói com justiça, oportunidade e dignidade — não com corpos caídos nas vielas.
E enquanto a sociedade aceitar o extermínio como política pública, a democracia continuará sangrando nas esquinas do Brasil.

Ludmila Queiroz é da assessoria da vereadora Moara Sabóia. Produtora cultural, carioca e moradora de Contagem.

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