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Rômulo Fegalli: Anistia para quem? A manipulação tenta encontrar espaço em Contagem

A cena política contagense, mais uma vez, revela um paradoxo perigoso. Quem acompanhou a 3ª Sessão Plenária da Câmara Municipal, ocorrida nesta semana, assistiu a uma manifestação pública que serviu doses de constrangimento e preocupação. Um pedido de anistia para aqueles que participaram deliberadamente da tentativa de golpe de Estado ocorrido no fatídico dia 8 de janeiro de 2023, quando uma multidão ensandecida, financiada e manipulada por poderosos da extrema-direita, invadiu e depredou os prédios dos Três Poderes em Brasília com o objetivo de derrubar o governo legitimamente eleito e impor um regime ditatorial militar.

Aqueles que dizem defender a ordem e se colocam como aliados da segurança pública agora pedem clemência para os que atacaram o coração das instituições democráticas, ou seja, cometem crimes inegáveis, que foram transmitidos para o mundo inteiro. E não me refiro a um ou dois, já que muitos dos eleitos democraticamente endossaram – ainda que com omissão – um pedido de anistia para golpistas que repelem a soberania popular. Ora, ora!

É preciso expor a contradição. Os mesmos que exigem rigor máximo contra crimes comuns, que defendem a criminalização de movimentos sociais, se autoproclamam guardiões da moralidade, condenam ações desesperadas de quem tem direitos básicos negligenciados e oportunidades sistematicamente negadas, agora relativizam a destruição do patrimônio público e o desrespeito à ordem democrática que quase nos lançou num poço de horrores. Se esses ditos “cidadãos de bem” que barbarizaram em Brasília tivessem feito o mesmo contra a Casa Legislativa de Contagem, onde os vereadores e vereadoras ocupam cadeiras graças ao voto do povo, será que também sustentariam esse discurso por anistia? Ou será que a indignação seletiva revelaria uma face oculta?

O argumento utilizado para justificar essa postura é lamentável. Exploram histórias de pessoas comuns, que são cruelmente manipuladas. Primeiramente para executar o plano golpista. Agora, após tentativa fracassada, para encobrir as reais intenções: livrar Jair Bolsonaro, que foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) essa semana e está cada vez mais perto de se defrontar com a justiça por seus inúmeros crimes. Como líder de uma organização criminosa que tentou um golpe, Bolsonaro e seus aliados tentam desesperadamente reescrever a narrativa. Para isso, lançam mão desse expediente baixo, usando pessoas simples, humildes, que foram feitas massa de manobra dos interesses autoritários de poderosos.

Você já sabe, mas não custa lembrar: o que aconteceu em 8 de janeiro de 2023 não foi uma manifestação pacífica, nem espontânea, mas sim uma tentativa de subverter a ordem democrática. Ao defender a anistia para quem quer que seja que tenha atacado as instituições democráticas brasileiras, políticos eleitos em Contagem ou qualquer outro lugar desonram o voto popular que os colocou no Poder.

Não podemos nos calar diante dessa tentativa de reescrever a história. Como bem destacou a vereadora Adriana Souza em seu posicionamento na mesma Sessão Plenária, e que viralizou nas redes sociais, “para defendermos a democracia, primeiramente é necessário respeitá-la”. A impunidade para quem tentou destruí-la não é justiça, é incentivo para que isso se repita.

A sociedade de Contagem precisa estar atenta. A classe política precisa refletir. Quem flerta com o autoritarismo e minimiza atos golpistas e violentos fatalmente será lembrado por suas escolhas. Afinal, quem relativiza a democracia em um momento crítico não pode se dizer seu defensor quando lhe convém. Vale lembrar que não se posicionar é um posicionamento.

Uma cidade que venceu a polarização e quer olhar para frente, não isentará aqueles que vendem uma atuação progressista e democrática, mas, na primeira oportunidade, mostram uma outra face.

Enfim… vamos falar de coisa boa. Neste fim de semana tem carnaval em Contagem. Esperamos que a folia seja colorida, criativa, com alegria e fantasias, mas sem máscaras.

Rômulo Fegalli é jornalista pós-graduado em Comunicação Pública e Governamental

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