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Rômulo Fegalli: Uma viagem de trem para o futuro

Terceira maior economia de Minas Gerais, Contagem tem no transporte público um de seus principais desafios para seguir se desenvolvendo. Embora a gestão Marília esteja promovendo avanços necessários e bem-vindos, como a renovação de parte da frota de ônibus e a implantação em curso do Sistema Integrado de Mobilidade (SIM), essas medidas não resolvem definitivamente a questão. O sistema rodoviário, por mais moderno que seja, é insuficiente para atender cidades com características metropolitanas, sobretudo Contagem, cuja localização estratégica demanda soluções mais amplas. Pior: 60% da frota que circula no município está sob gestão estadual, que não dá qualquer prioridade para as necessidades locais nem para a integração eficaz da RMBH.

Uma solução possível? Implantar o trem de passageiros. A cidade já possui trilhos ferroviários, boa parte duplicados, mas que hoje são usados exclusivamente para o transporte de carga, sobretudo minério. Além disso, uma implementação desse meio de transporte pode ser subsidiada com recursos de outorga, oriundos das renovações de concessões da EFVM (Vale) e da empresa MRS. Segundo entidades como a ONG Trem, já foram pagos mais de R$2 bilhões até o fim de 2024, mas não aplicados em ferrovias. Ou seja, com vontade política, essa alternativa pode ser colocada à serviço do povo em curto prazo, oferecendo um transporte rápido, sustentável e eficiente para a população. Existe, inclusive, um projeto ligando Contagem a Betim e Belo Horizonte sem prejudicar a logística das mercadorias.

Precisamos observar mais atentamente o exemplo de cidades como Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro, Maceió, Natal, João Pessoa, entre outras, onde o trem de passageiros já provou ser uma alternativa eficaz e mais barata, reduzindo o caos no trânsito, a emissão de gases poluentes e o tempo de deslocamento. Contagem, no entanto, permanece refém de praticamente um único sistema de transporte coletivo, os ônibus, sempre lotados, prendendo o trabalhador por até três, quatro horas diárias no trânsito. Conforme levantamento de especialistas e de movimentos sociais em defesa do transporte ferroviário, cada composição (conjunto de vagões) corresponde à capacidade de 60 ônibus e o tempo previsto para percorrer o trajeto Betim-Contagem-BH seria de aproximadamente 30 minutos. Já pensou no alívio no trânsito, a economia de tempo e a redução da poluição?

Nesse contexto, é urgente reforçar também a luta pela ampliação do metrô em Contagem. Minas Gerais segue como o único estado do Brasil com um metrô abaixo da demanda real, um problema que exige solução urgente, por isso, a luta pela expansão precisa ser uma prioridade. Atualmente, contamos com apenas uma estação em uma cidade com mais de 620 mil moradores. Um número absolutamente incompatível com a necessidade da população.

Por bem, contamos com o engajamento de peso de lideranças fortes como a prefeita Marília Campos e a vereadora Adriana Souza, que vêm lutando bravamente tanto pela volta do trem de passageiros quanto pela expansão do metrô até o bairro Beatriz, o que beneficiará milhares de moradores da nossa cidade e de Betim. Estima-se que uma nova estação terá uma média de 40 mil usuários diariamente. Ou seja, é altamente vantajoso para a concessionária que controla o metrô. Todos saem ganhando. Por isso, é fundamental que os governos estadual e federal façam os investimentos para a ampliação da malha metroviária, garantindo conexão eficiente e acessível para a população de Contagem.

A dependência exclusiva dos ônibus compromete o futuro da mobilidade urbana em Contagem. O trem de passageiros é uma solução viável e urgente, inclusive, pela urgência climática, uma ameaça real à vida que enfrentamos no nosso tempo. O debate precisa continuar, ser ampliado e ganhar cada vez mais apoio. Aliás, a vereadora Adriana Souza propôs uma Audiência Pública para discutir o tema no próximo dia 2 de abril, no plenário da Câmara Municipal. Precisamos avançar para decisões e ações práticas. Contagem não pode mais ficar estacionada nos trilhos.

Rômulo Fegalli é jornalista pós-graduado em Comunicação Pública e Governamental

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