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Viviane França: Diálogo com os evangélicos: políticas de segurança e combate à violência contra a mulher

Em 2024 participei da Conferência Internacional de Mulheres Graciosas, um encontro de mulheres cristãs, organizado pela Pastora Consuello, uma liderança evangélica de Contagem. O tema da minha fala, que contou com a colaboração da Patrulha da Mulher da Guarda Civil e do Consórcio Mulheres das Gerais, foi a importância da informação para superar ciclo de violência doméstica. No entanto, a participação nesse encontro me levou a uma reflexão mais abrangente sobre o papel que as organizações e lideranças evangélicas podem desempenhar na efetivação das políticas públicas nos territórios.

A Pesquisa “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, publicada em 2025 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Instituto Datafolha, revela que 42,7% das mulheres que vivenciaram violência ou agressão por parceiro íntimo ao longo da vida são evangélicas e 35,1% são católicas. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública indica um crescimento em todas as modalidades de violência contra as mulheres no último ano. Mesmo com a Lei Maria da Penha, uma das legislações mais modernas de combate à violência doméstica, ainda existem barreiras significativas no acesso à informação e aos serviços de proteção, principalmente para mulheres de baixa renda e moradoras de periferias.

A população evangélica no Brasil tem demonstrado um crescimento notável e contínuo, conforme indicam os Censos Demográficos do IBGE. Em 1970, o segmento representava 5,2% da população. Esse percentual mais que triplicou até 2000, chegando a 15,4%, e continuou sua ascensão para alcançar 22,2% em 2010. Essa trajetória evidencia uma expansão histórica e significativa.

O crescimento das igrejas evangélicas em Contagem, MG, segue essa tendência nacional de expansão desse segmento religioso. A realização de eventos como a “Marcha para Jesus” em Contagem, com apoio da prefeitura, incluída no calendário oficial da cidade desde 2011, e a presença de grandes nomes da música gospel, indica uma forte e organizada presença evangélica na cidade. Isso não apenas reflete um número significativo de fiéis, mas também a capacidade de mobilização e influência do segmento.

Segundo a jornalista Anna Ballousser, autora do livro O Púlpito – (2024) “em questão de anos, teremos mais evangélicos do que católicos no Brasil. Se os prognósticos demográficos se confirmarem, será um conjunto com maioria de mulheres negras e pobres”.

Esses elementos reforçam duas dimensões fundamentais: a gravidade da violência doméstica entre as frequentadoras das igrejas, e a capacidade que as igrejas têm de ser um canal de acolhimento e de incentivo para que essas mulheres rompam o silêncio, busquem ajuda e denunciem.

Além de considerar crescimento da comunidade evangélica no Brasil, precisamos atentar para o protagonismo social e político que assumem. As igrejas evangélicas estão presentes nos rincões, no Brasil profundo, mas, sobretudo, nas periferias das grandes cidades. Chegam primeiro e onde o Estado não chega, com a coordenação de projetos sociais que atendem de forma irrestrita e acolhedora as pessoas em vulnerabilidade, estabelecendo uma relação de apoio e confiança com membros ou não.

Os dados acima são uma pequena amostra da capilaridade das igrejas e lideranças evangélicas nos territórios e que essas podem e devem se construir cada vez mais como interlocutoras sócias estratégicas para o poder público, principalmente para as prefeituras.

As comunidades religiosas, em seus territórios, podem orientar mulheres em situação de violência para os serviços públicos competentes, somando esforços para que a resposta seja mais rápida e eficaz.

O expressivo número de mulheres evangélicas que vivenciaram violência ou agressão por parceiro íntimo, combinado com o crescimento contínuo e a grande capilaridade das igrejas evangélicas, demonstram que essas comunidades têm um papel essencial no enfrentamento à violência contra a mulher em Contagem. Assim, o Município pode e vem consolidando a colaboração com essas instituições para proteger e fortalecer as mulheres.

No Governo Marília, o enfrentamento à violência contra a mulher é uma sólida realidade. Seguindo as prioridades e diretrizes da Prefeita, empenhamos esforços de diversas esferas do poder público e da sociedade civil para prevenir e reduzir as violências de gênero, além de promover a participação ativa das mulheres em diversas áreas, com autonomia e liderança.

É assim que o Elo por Elas, nosso programa de prevenção e redução da violência contra mulheres em Contagem, instituído em novembro de 2023, ganha ainda mais força. Ao dialogar com a vasta rede de acolhimento que as igrejas representam, estabelecemos laços firmes com as lideranças de fé, criando um elo pungente de informação e fortalecimento por toda a cidade. O sucesso no combate à violência contra a mulher se potencializa quando as iniciativas públicas se aliam à sociedade. Nesse sentido, as igrejas evangélicas são parte fundamental da solução, pois ampliam vozes, fortalecem redes de proteção e auxiliam mulheres a romperem o ciclo de violência, transformando e protegendo cada vez mais vidas.

Em Contagem, compreendemos que a informação é uma das ferramentas mais poderosas no combate à violência. Por isso, o Elo por Elas propõe uma série de ações de capacitação, desenvolvidas para dialogar sobre as múltiplas formas de violência de gênero. Essas ações são multifacetadas e abrangem diferentes públicos, visando fortalecer a rede de proteção à mulher e promover a prevenção.

Considerando todo o estudo técnico e em atenção ao olhar cuidadoso da Prefeita Marília, que orienta a aproximação do poder público das instituições religiosas, no dia 08 de março de 2025 o Elo por Elas iniciou uma nova série de ações direcionadas às igrejas, reforçando todo o simbolismo e importância da data.

Criado para capacitar nossa rede de proteção, equipamentos públicos e estabelecimentos, o programa Elo por Elas está se expandindo. Ele vem ganhando força e capilaridade para levar informação a locais que antes não eram alcançados. A experiência com as igrejas é reveladora: ela nos mostra o papel crucial que as organizações e lideranças religiosas têm ao aproximar a sociedade das políticas públicas e atenuar os efeitos da violência. Para este ano, 2025, nossa meta é clara: queremos capacitar no mínimo 30 instituições religiosas, com a expectativa de que o efeito de multiplicação nos permita alcançar 15 mil pessoas.

A Patrulha da Mulher da Guarda Civil de Contagem, em conjunto com outros agentes da rede de proteção, percorre o município, levando informações e se aproximando da população. Isso fortalece a confiança da sociedade na pronta resposta que a segurança e a rede de proteção oferecem quando os direitos das mulheres são violados. A atuação especializada da patrulha demonstra a sensibilidade da nossa gestão municipal com a temática, e como a integração e a participação ativa das forças de segurança, rede de proteção e sociedade são cruciais para romper o ciclo de violência.

A receptividade do programa pelas igrejas e a participação das mulheres que as frequentam reforçam a importância de unir forças na luta contra a violência de gênero e outras pautas relacionadas à segurança pública. Além disso, evidencia a necessidade de que o poder público reconheça o protagonismo das instituições religiosas, valorizando-as como parceiras estratégicas no enfrentamento aos problemas sociais.

Destaco ainda que em março de 2024 criamos o Portal Mulher. Nele, compilamos dados da rede de proteção e dos serviços municipais voltados para mulheres, além de apresentar informes relevantes sobre o tema. Nosso objetivo é conscientizar sobre os direitos das mulheres e orientar sobre os canais de denúncia e acolhimento disponíveis na cidade.

Entre as ações do Elo por Elas, há também o protocolo de atuação para estabelecimentos como bares, boates, casas noturnas e hotéis, criado em novembro de 2023. O protocolo é fundamental, pois orienta na identificação de casos de vulnerabilidade ou possível violência contra mulheres e estabelece a conduta adequada para cada situação.

Além disso, em 2025 foi criada a Secretaria Municipal da Mulher e Juventude, simbolizando a consolidando de que as mulheres são prioridades na gestão Marília.

Em Contagem, estamos comprometidos em construir uma cidade onde todas as mulheres se sintam seguras, respeitadas e fortalecidas. Essa é uma luta de todas e todos nós, um verdadeiro Elo por Elas!

Viviane França é advogada, mestre em Direito Público pela PUC/MG e especialista em Ciências Penais. Vice-presidente do MDB Contagem. Secretária de Defesa Social em Contagem. Autora do livro Democracia Participativa e Planejamento Estatal: o exemplo do plano plurianual no município de Contagem.

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