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Keith Richard Braüer: Protecionismo de Trump afetará Contagem?

Os Estados Unidos são o maior parceiro comercial da nossa cidade. Nesse texto, busco apresentar especificidades sobre nossa relação com a Terra do Tio Sam e como as anunciadas medidas taxativas de Trump podem mudar tudo isso – em um cenário atual de arrefecimento econômico dos EUA e ampliação da diversificação econômica de Contagem.

Enquanto o Brasil ocupou a 5ª posição em crescimento do PIB em 2024, com 3,4% de aumento, os EUA ocuparam a 10ª com 2,8%. E as perspectivas não são excelentes para nosso parceiro: nas visões mais otimistas, o FMI prevê um crescimento do PIB dos EUA de 2,7% em 2025 e 2,1% para 2026, enquanto outras agências, como a JPMorgan, preveem 1,6% em 2025.

Pois é, meu caro leitor – o crescimento econômico continuará sendo impulsionado pelos BRICS. Nos EUA não há governantes como Marília. Azar deles.

Thomas Piketty, importante economista, escreveu recentemente ao Le Monde comparando o Trumpismo a um nacional-liberalismo, ou mais precisamente, nacional-capitalismo (até se fazendo referência ao Nacional-Socialismo que é o Nazismo). Criticando também no artigo as medidas protecionistas, que a longo prazo só irão aprofundar os problemas econômicos do país.

Paralelamente, a instabilidade econômica do país pelas medidas protecionistas, anticíclicas e contraintuitivas de Trump (para não chamar de racistas) – como a sobretaxa para o aço importado anunciada, impactarão diretamente as exportações chinesas e brasileiras. Lembrando que o aço é um ativo econômico importantíssimo para Contagem.

Partindo para os dados, fato importante de se destacar é que analisar balanças comerciais em nível municipal apresenta diversas dificuldades, tanto metodológicas quanto práticas, pois muitas exportações são registradas no local onde a empresa está sediada ou onde ocorre o despacho aduaneiro, e não no município onde os bens foram efetivamente produzidos, o que é o caso de Contagem, por não possuir portos ou outras zonas alfandegárias, fato que subestima quantitativamente nossas exportações. Além disso, os anos de pandemia afetaram o comércio mundial e alteraram várias dinâmicas anteriores, dificultando uma análise mais precisa do período.

Em 2024 o saldo foi bem positivo para Contagem, principalmente pela exportação de Máquinas e produtos elétricos, nosso maior ativo relacionado. Nos dados abaixo, são descritos os produtos exportados de Contagem para os Estados Unidos nos últimos anos e o seu valor.

Donald Trump tem divulgado iniciativas de tarifas recíprocas (isto é, aplicar tarifas a seus parceiros comerciais na mesma proporção em que são taxados). Com base em informações do Banco Mundial, o Bradesco identificou que a alíquota média vigente é de 11,3% (2022, dado mais recente), sendo mais elevada para produtos de consumo e praticamente inexistente para combustíveis. Por outro lado, as tarifas aplicadas pelos Estados Unidos sobre mercadorias brasileiras são significativamente menores (em torno de 2,2%), com uma incidência um pouco maior para bens de consumo e quase nula para bens de capital e combustíveis.

Infelizmente, tais dados não possuem boa transparência para que se faça uma análise apurada, produto a produto, do impacto ao nosso país e a nossa cidade, mas é possível se aferir que essas taxas em curto prazo desequilibram o mercado, alteram preços e incentivam as empresas a buscarem novos mercados internacionais de importadores/consumidores. A longo prazo, quem perde é quem se restringe: enquanto Contagem terá a oportunidade de ampliar sua diversificação e internacionalização, os EUA se fecharão em si mesmos.

Nesse sentido, Contagem já tem apresentado um notável crescimento na diversificação de mercados nos últimos anos, como apresentado em dados no meu último texto ao blog. Nossa relação com a Europa e Mercosul tem saldo positivo e tem crescido no período, apesar do baque da pandemia.

Pensando nos EUA, países que adotam medidas protecionistas tem perdas no longo prazo devido à menor eficiência e competitividade de suas empresas, que ficam menos inovadoras sem a concorrência externa. Além disso, parceiros comerciais tendem a retaliar, restringindo exportações e prejudicando setores produtivos. O protecionismo também eleva custos de importação, aumentando a inflação e reduzindo o poder de compra da população. A incerteza econômica afasta investimentos estrangeiros, limitando o crescimento. Sem acesso a mercados globais e tecnologias avançadas, a produtividade cai, e a economia se torna mais vulnerável a crises. No geral, o protecionismo pode trazer ganhos imediatos para alguns setores, mas prejudica o desenvolvimento sustentável do país.

Tudo bem considerado, Contagem não somente sobreviverá – mas incrementará seu desenvolvimento econômico como tem feito nos últimos anos. Estratégia, planejamento e investimento já são matrizes da nossa gestão pública e serão essenciais para a continuidade de um bem aprovado e vitorioso Projeto Político que se capilariza economicamente e internacionalmente, encabeçado e liderado por Marília Campos.

Keith Richard Brauer é formado na USP e Mestrando em Economia na UFMG. Assessor de Gabinete na Secretaria Municipal de Fazenda de Contagem.

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