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José Dirceu: Carta Aberta à militância petista

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Mais uma vez nosso PT renovará suas direções, e agora por eleições diretas depois de dois PED indiretos e uma prorrogação de mandato. Temos de reconhecer a árdua e difícil tarefa que as últimas direções do PT enfrentaram sob a presidência do companheiro Rui Falcão e depois de nossa presidente Gleisi Hofmann em condições de ataque e guerra jurídica contra o partido e o nosso projeto.

O momento politico exige de nós a luta pela unidade da CNB e do PT, na sua diversidade e no seu pluralismo. Além da construção de uma maioria que vá além da CNB e assegure ao partido a governabilidade nos próximos quatro anos. Essa unidade se expressa na participação de todas as Correntes e tendências politicas na direção nacional e em sua executiva, e no reconhecimento das candidaturas, todas representativas e legitimas: o companheiro Rui Falcão, militante politico da luta contra a ditadura, com experiência na presidência do PT, parlamentar e de governo; Romênio Pereira, dirigente experiente do PT que representa o Movimento PT; e, por fim, Valter Pomar, militante E dirigente do PT, historiador e professor, que representa a Articulação de Esquerda.

O apoio à candidatura do companheiro Edinho Silva, de início dentro da CNB e agora no PED, baseia-se na legitimidade e na sua experiência como vereador, deputado estadual, presidente duas vezes do PT paulista, quatro vezes prefeito e ministro de Estado no Governo da presidenta Dilma. Edinho tem uma vasta experiência na direção do PT e nos governos que dirigiu e participou, conhece o mundo parlamentar e vem de uma vida de lutas, nas pastorais da juventude operária da Igreja Católica.

Como eu, foi office-boy, depois funcionário de uma empresa, operário na fábrica de meias Lupo e na extinta metalúrgica Climax, atual Electrolux. Apaixonado por futebol, atuou como atleta nas categorias de base da Ferroviária na década de 1980. Identificado com as propostas democráticas e socialistas do PT, filiou-se em 1985, aos 20 anos de idade. Foi presidente do Diretório Municipal de Araraquara e coordenador regional, assessorou nossa bancada de deputados estaduais durante a Constituinte Estadual, da qual participei como deputado. Em 2007, foi eleito presidente do PT de São Paulo e reeleito com voto de 9036 dos filiados e filiadas. Em 2010, foi eleito deputado estadual com 184397 votos, sendo votado em 500 municípios do estado.

Creio que Edinho está à altura do desafio de presidir PT nesse momento histórico e nessa conjuntura que enfrentamos. Tem experiência e competência para nos dirigir com apoio do presidente Lula e não só da CNB como também de outras correntes e lideranças do PT, respeitando a unidade na diversidade e o pluralismo do partido.
Temos a tarefa de praticamente reconstruir o PT depois de uma década de ataque frontal, de perseguição e mesmo tentativas de cassação de nosso registro, sem falarmos no golpe parlamentar-jurídico que sequestrou o mandato da nossa presidenta Dilma e da infame prisão do nosso companheiro Lula num processo ilegal, sumário e político, felizmente já anulado pelo Supremo Tribunal Federal. A tarefa de unificar toda a esquerda numa frente que vá além do PV e do PC do B para enfrentar o PL e o bolsonarismo.

A conjuntura e as condições que governamos exigem de nós a capacidade de fazer alianças mais amplas que a centro-esquerda, mas, ao mesmo tempo criar as condições de mobilização popular, social e sindical para fazer avançar as reformas estruturais que o país reclama: a política, tributaria e financeira, o que exige que nosso PT se autorreforme para retomar a capacidade de mobilização, recriando nossas sedes, nos emponderando nas redes, expandindo a formação politica via EAD, ampliando e refazendo nossas relações com os movimentos sociais e nossas campanhas nacionais.

É preciso ainda continuar nossa transição geracional e nosso compromisso com a diversidade e o pluralismo interno, organizar as oposições aos governos estaduais da direita, sustentar e orientar nossa atuação no governo e no Parlamento e, principalmente, reviver as instâncias partidárias e nossa democracia de base, as consultas e relações entre os diretórios municipais e estaduais, as bancadas, governos e nossa direção nacional, facilitadas hoje pelo uso das videoconferências, o que não substitui, pelo contrário, a presença dos dirigentes nos estados, municípios e principalmente nas lutas e mobilizações, e não só pelas redes.

Sustentar o governo do presidente Lula e suas propostas de retomada do projeto de desenvolvimento nacional, sintetizados na Nova Indústria Brasil, no PAC e na transição energética-ambiental. Defender a reforma tributaria progressiva, a revisão do Imposto de Renda dos ricos, a maior participação dos trabalhadores e trabalhadoras no Orçamento. Reafirmar nosso compromisso com a reforma agrária e a agricultura familiar orgânica e sustentável. Reforçar o debate sobre a liderança brasileira na COP-30 e as ações de enfrentamento a emergência climática. Defender o fim da escala 6×1, impedir o desmonte das estatais e bancos públicos, e do Estado de Bem-Estar Social conquistado com todas suas limitações na Constituinte de 1988.

Derrotar de novo a extrema-direita e o bolsonarismo, sem anistia ou mudanças no Código Penal que livre os golpistas de prestar contas à Justiça, mas, ao mesmo tempo, aumentar nossa bancada na Câmara e no Senado, nossos governos estaduais, e nossa presença nas assembleias legislativas, com atenção especial ao Senado, onde o bolsonarismo trama a retomada de seu projeto autoritário e ditatorial, criando assim as condições para dar continuidade ao nosso projeto politico e reeleger o Presidente Lula em 2026.

O ataque ao sindicalismo e a luta em defesa do emprego, dos direitos trabalhistas e da Justiça do Trabalho deve ser uma prioridade frente a escalada de fortalecimento do sindicalismo patronal e do desmonte da legislação que protege os direitos conquistados na luta das últimas décadas.

O PT deve priorizar a reforma politica nos próximos anos, construindo uma proposta e a defendendo junto à cidadania. Trata-se de uma urgência, dada a degradação do parlamento via o desvirtuamento das emendas parlamentares e os desvios de recursos para fins eleitorais e mesmo enriquecimento ilícito, o avango do parlamento sobre os poderes constitucionais do presidente, a indecente decisão de aumentar o número de deputados e as ameaças à Independência dos poderes, seja o Judiciário ou o Executivo.

É preciso uma verdadeira mudança na vergonhosa concentração de renda e no cartel bancário financeiro, na politica de juros e nas metas da inflação, que exigem uma radical reforma tributária e financeira, capaz de por fim a apropriação e expropriação da renda nacional pelo capital financeiro e agrário, num circuito entre o Banco Central e a Faria Lima, que cada vez mais concentra renda, via os juros altos únicos no mundo. O serviço da divida publica e praticamente a isenção histórica que gozam nossas elites da obrigação de pagar impostos limitam nossa capacidade de investimento, impedem que o Estado financie o gasto social, com o agravante de que a saída de uma elite que representa 1% da população é exatamente a manutenção do status quo e o fim do Estado de Bem-Estar Social, com o desmonte dos bancos públicos, das estatais e da nossa capacidade de planejar e financiar o desenvolvimento nacional.

Ao PT e às esquerdas resta a tarefa histórica de concluir a revolução social brasileira inacabada, que exige duas condições: a soberania e independência nacional, de um lado, e a democracia, de outro, num mundo onde precisamos ter lado, lutar contra a extrema-direita e o neofascismo e manter nossa politica externa independente e não alinhada, guiada pelos interesses nacionais e pelo nosso projeto de desenvolvimento e integração regional.
Nosso lugar é no Sul Global, nos Brics e na relação com a América do Sul e América Latina, com a África e os países árabes. Nosso norte é o bem-estar de nosso povo e a defesa de nossa cultura. Nossa soberania, nossa terra e riquezas naturais, e nossa independência financeira e tecnológica. Sem isso nada será possível, mesmo com nossa riqueza e soberania alimentar e energética, com nosso mercado interno e nosso imenso território continental.

Com esse espírito e ânimo convido filiados e filiadas do PT, nossa brava e guerreira militância a participar do PED, na construção das chapas, no debate politico e votando no próximo dia 6 de julho. Vamos dar uma demonstração da forca de nossa democracia interna e de nossa capacidade de unir o PT na diversidade e na pluralidade, para reeleger nosso presidente Lula em 2026 e dar continuidade ao nosso projeto politico em defesa do Brasil democrático e popular, reiterando nosso compromisso com a CNB e a candidatura mais ampla do nosso companheiro Edinho Silva.

José Dirceu foi ministro-chefe da Casa Civil no primeiro governo Lula (2003-2005), presidente nacional do Partido dos Trabalhadores e deputado federal por São Paulo.

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