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Hamilton Reis: Retrato do medíocre que nos ronda

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Do alto de sua pequenez, ele destila ódio. Em frente ao espelho, conspira. Contra ele mesmo, se não tiver a quem atazanar. Não pode perder o hábito, e o hálito amargo faz podres as palavras. Seu linguajar é chulo, sua intenção é perversa, seus pensamentos fedem.

Acha-se o rei do pedaço, o dono da bola. Criança mimada que não sabe ouvir não. Coleciona desafetos no peito vazio de bons sentimentos. Sua insistência atordoa, seu rancor ecoa por quarteirões. Pessoa a serviço do mal, sua amizade é falsete, sua diabrura é razão de viver. Um ser insuportável, do qual é prudente se manter distância.

Parece culto, mas engana. É cópia da cópia. Com a sua mente perturbada, mente. E cria inverdades que espera que se tornem reais. Seu maior feito, que alardeia sem pudor, é destruir reputações e abalar sanidades. Ele é feio, não como o ogro. Pior, porque não é caso de cara e de bunda, é do caráter que a ele faz falta, o desregrado.

Sua mordida pode ser fatal, pois veneno de cobra cultiva entre molares e caninos. Quase um vampiro, suga os corações, espalha o terror, chantageia, ataca os pontos fracos, ridiculariza, destrói. Apega-se ao poder, ao pouco poder que tem. E para que maior ele pareça, se esmera em puxar o saco, a lamber botas. Especialista em bajulação, não mede esforços, infla egos, faz ares de grande articulador, doura a pílula.

É um pústula orgulhoso de seus malefícios, um covarde malicioso, do tipo que bate e esconde a mão. Seu habitat preferido é a política. Por meio dela busca espalhar desavenças, semear discórdia, vilipendiar os cofres públicos sem perder a aura de inocente, do tipo que diz só querer ajudar. Asqueroso, sua prática é vil, e se enriquece impondo o medo, embora não seja segredo que o valente mia se for confrontado.

Autoritário, faz pose de democrata. Tem até trejeitos. Infla o peito ao defender o bem comum. Mas é pura demagogia. Puto velho sabe fazer remendos, dar os anéis para não perder os dedos. Tolos os que acreditam em seu discurso bonito, vazio de práticas, embalando ilusões.

Gosta mesmo é de ser ditador. Arrogante. Prepotente. Astuto, mas pouco inteligente, acredita que controla os cordões e nem vê que é feito muitas vezes de marionete, mequetrefe, bobo da corte, servil a reis e rainhas que não se deixam enganar. Mas que por meio dele, enganam os súditos aflitos, carentes, dependentes das migalhas que são jogadas ao chão.
Suas pregações são falso testemunho. Frequenta igrejas, terreiros, casas de oração. Diz-se ecumênico, mas é traiçoeiro, longe de ser cristão. Sabe das escrituras, faz citações de cor, deixa coradas as moças e risonhas as velhas senhoras de terço na mão. Mal sabem elas que está mais para anticristo, falso profeta que troca por moedas a sua fé. Como os vendilhões do templo, aqueles açoitados por Jesus.

Ele tem cartão de visita, tem cargo e tem ostentação. Faz negócios sem pudor, vende facilidades, empurra para o abismo quem ousar contrariar seus desejos de luxo, luxúria, acúmulo do vil metal. E ainda propaga a imagem de bom moço, de marido fiel e devotado, embora digam as boas e más línguas, que a ninguém engana: é desviado.
Do armário, amaldiçoa os pares, em diálogos pouco nobres. Cospe seu preconceito, como se fosse possível dar jeito no que talvez tenha sido escolha de Deus. Para confronta-lo. Para abaixar a crista, para ver se a criatura fica mais humilde. Mas qual o quê, ele não tem jeito. Não se ajeita, não se assume, não sabe que ser verdadeiro, ao menos uma vez, poderia ser a sua salvação.

Quanto mais vocifera, mais explícita a sua condição. A sua conduta desdita, a sua trapaça, a sua enganação. Por isso, todo cuidado é pouco, todo silêncio é bem vindo, não se deve cair em tentação. Afinal, ele é o maldito, e que fique dito, não tem mesmo solução. Ao fim e ao cabo, irá espezinhar, espernear, agonizar. E aí o que se verá é que a montanha pariu um rato.

Hamilton Reis é jornalista e advogado.

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