O ano era 2018. Em meio a uma onda antipolítica, o brasileiro médio procurava alternativas que passavam ao largo da chamada velha política. Havia uma incessante busca pelo novo, pelo diferente. Os cientistas políticos gostam de usar o termo outsider – aquele “diferentão” que, no fim, pode surpreender. Nesse contexto de negação da política, apareceu um candidato presidencial que, embora fosse um deputado federal medíocre ao longo de quase 30 anos, se apresentava como o tal antissistema, mesmo que estivesse há três décadas no sistema.
Com poucos segundos de TV, apostando nas redes sociais como braço forte, aquele candidato venceu as eleições sem se dar o trabalho de discutir um projeto de país. Colocava em evidência uma anacrônica pauta moral, em detrimento de discutir a fundo os problemas do Brasil. Citava termos como Deus, pátria e família que pouco ou nada explicavam sobre um projeto de país que pudesse gerar prosperidade e igualdade social.
Qual era a proposta trabalhista daquele candidato? E a linha econômica em detalhes? O que ele pensava sobre a fome no país? Qual a ideia dele de desenvolvimento social? Qual seu projeto para o SUS? O que pensava sobre a educação? A verdade – e já ouvi isso de quem votou nele – é que Jair Messias Bolsonaro venceu as eleições de 2018 sem apresentar à população a noção exata do que ele pensava para o Brasil. Falar apenas que era liberal na economia e conservador nos costumes era algo amplo, que pouco ou nada explicava. Ele apenas vendia a pecha de ser diferente. O resultado disso, todos sabemos. O Brasil viveu quatro sombrios anos sob seu atrasado (para dizer o mínimo) governo.
Faço toda essa explanação para voltar a sua atenção agora, caro leitor e cara leitora, ao nosso quintal. Esse fenômeno que descrevi em 2018 teve uma espécie de avant première em 2016, com a eleição de antipolíticos em várias cidades do Brasil. Uma boa parte deles foi eleita sem apresentar aos munícipes o que realmente pensavam sobre as cidades. Criticar é fácil e isso eles sempre souberam fazer bem. Mas apresentar soluções depende de conhecimento técnico, político e sensibilidade social. E aí, todos sabemos, a conversa é outra.
Na nossa Contagem, o ritmo normal das coisas voltou nas eleições de 2020. Venceu quem discutiu a fundo a cidade e seus problemas. Venceu quem apresentou propostas. Venceu quem tinha a experiência de governar a terceira maior cidade de Minas e sair com 80% de aprovação popular. Venceu quem tinha projeto de cidade. Venceu Marília Campos. Venceu quem não cedeu à tentativa torpe dos oponentes de nacionalizar uma disputa que era local. E a lógica disso parece bem evidente: na falta de um projeto efetivo de cidade, o que fizeram os concorrentes? Propuseram uma descabida nacionalização da disputa que nada discutia os problemas de Contagem. Felizmente, a população não caiu no conto do vigário, como já havia ocorrido no passado.
Sei que ainda falta um ano para as eleições de 2024. Marília sequer tomou a decisão de ser ou não candidata à reeleição. Como ela tem dito ao secretariado, esse é um assunto para o começo do próximo ano. Mas as lições de 2016, 2018 e 2020 precisam ser relembradas e repassadas à cidade pelos seus formadores de opinião. A campanha do ano que vem precisa discutir a cidade. Alguns aventureiros já começam a colocar uma pauta nacional dentro de Contagem, tentando antecipar o processo eleitoral. Como diria Galvão Bueno, pode isso, Arnaldo?
Não é por acaso que Marília é aprovada por mais de 70% dos contagenses em todas as pesquisas. A cidade reconhece o trabalho de sua líder e vê nela alguém que tem, de fato, um projeto de cidade. Não é apenas um projeto de governo. Governos passam; a cidade fica. Nem de longe, ela vende a imagem de que resolveu todos os problemas de Contagem. Ela vê e entende a política como um ato de construção contínua. E entende que é com diálogo, sensibilidade política e embasamento acadêmico e teórico que se constrói a cidade que todos queremos. Por isso, a cidade avançou tanto de 2021 para cá.
Pensando nesse prisma, é que devemos perguntar, no ano que vem, a todos os candidatos – inclusive aqueles que apenas criticam tudo o que é feito: Qual seu projeto de cidade? Falar apenas que defende emprego, saúde e educação é balela. O bom candidato saberá explicar como fazer e detalhar suas propostas. O bom candidato saberá que Contagem não pode ser resumida a um centro industrial e comercial onde as pessoas apenas vão para dormir. O bom candidato saberá que tudo de bom tem que acontecer em Contagem. Esse bom candidato precisa entender que a cidade se constrói com um dueto que deu certo nos três governos de Marília: desenvolvimentismo e humanismo.
Neste artigo, meu objetivo não é aprofundar no que devem ser boas propostas para a cidade. Essa tarefa, deixo para companheiros que entendem de finanças, leis e políticas públicas muito mais do que eu: José Prata, Ivanir Corgosinho, André Teixeira, Hamilton Reis e, claro, Marília Campos… Aqui, com minha visão de cidade, apenas quero deixar o alerta de que, num município com o tamanho e os desafios de Contagem, não se pode errar nas escolhas. É preciso que tenhamos consciência de avaliar propostas que são reais. Devemos valorizar quem faz compromissos com a população e não apenas promessas vazias e inexequíveis. A diferença é abissal!
Por fim, antes de perguntar aos pretensos candidatos de 2024, é preciso que você cidadão contagense faça perguntas a si mesmo: O que quero para minha cidade? Na saúde, basta fortalecer a assistência ou precisamos também ter servidores motivados e com salários de mercado? Na educação, devemos ter um projeto pedagógico que alinhe inclusão, acolhimento e tecnologia e professor bem remunerado? Na mobilidade, basta apenas exigir novos ônibus sem pensar em ciclovias, terminais e integração intermodal? O que devem ser os espaços públicos? Qual a importância das praças e dos parques enquanto locais de ocupação pacífica da sociedade e como verdadeiros pontos de encontro? Quero uma cidade que tenha eventos para todos os gostos e cultura gratuitos e de qualidade? Quero uma cidade para trabalhar, estudar e viver ou apenas dormir e procurar tudo de bom fora daqui?
Se dependesse de mim, qual o meu projeto de cidade? Cidadão contagense, faça essas perguntas a si mesmo. Certamente, vai ser fácil decidir quando chegar a hora certa.
Rodrigo Freitas é jornalista.