Dizem que o ano só começa após o carnaval. E, neste ano, a presença de Lula em Minas nos dias 07 e 11 de março fez com que o início do nosso ano político começasse em um ritmo diferente.

No dia 07, Lula visitou um acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Campo do Meio. Nessa visita, anunciou o assentamento de 12 mil famílias e a concessão de créditos rurais para pequenos produtores.

A visita simbolizou uma retomada do diálogo entre o governo e os movimentos populares, restabelecendo pontes e interlocuções orgânicas com os lutadores do campo, uma reivindicação central deste setor na atual conjuntura.

Já no dia 11, Lula fez duas agendas fundamentais para o desenvolvimento de Minas. Primeiro, visitou a fábrica da FIAT, que compõe o grupo Stellantis para a inauguração do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Híbrida Flex em Betim. Em seguida, participou da cerimônia de expansão da produção de aço da Gerdau em Ouro Branco, com investimento de R$ 1,5 bilhão.

As duas agendas representam exemplos concretos da política de reindustrialização do governo Lula. Ao apostar na modernização da indústria e no fortalecimento do setor produtivo, o presidente busca reforçar o papel do Estado como indutor do desenvolvimento econômico, contrapondo-se ao modelo de gestão neoliberal adotado pelo governo de Minas Gerais.

O embate com Zema e a disputa política em Minas

As visitas do presidente Lula a Minas Gerais não foram apenas agendas administrativas ou protocolares, mas um movimento estratégico da disputa de projetos políticos que se opõem enquanto visão de Estado e de sociedade. Foi também uma ação de fortalecimento da base de apoio do governo federal.

Em um estado historicamente decisivo para as eleições nacionais, Lula utilizou sua passagem por Betim, Ouro Branco e Campo do Meio para reforçar alianças políticas, consolidar pautas econômicas e sociais. Sua passagem demarcou posição frente ao governo Zema, expoente da direita neoliberal. Sua vinda causou ruídos na imagem frágil do atual governador, que se utiliza da máquina administrativa para propagar sua imagem sem, no entanto, entregar resultados concretos para o povo mineiro.

Desde 2023, o governo federal anunciou investimentos significativos para Minas Gerais, totalizando mais de R$ 120 bilhões de reais, distribuídos nas mais diversas áreas: energia, rodovias, ferrovias, conectividade, sustentabilidade, aeroportos, saúde, educação e ciência, saneamento, infraestrutura social e hidrovias.

Além disso, o governo federal aprovou o Programa de Pleno Pagamento das Dívidas dos Estados (PROPAG). O Propag é o novo instrumento para negociação da dívida de estados com a União. Foi, portanto, criada uma alternativa ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). Apesar de não ser o ideal, o PROPAG possibilita melhores condições de pagamento, como: prazos maiores, juros reduzidos, formas de abatimento por meio de transferência de créditos e ativos, além de não mexer com as conquistas históricas dos servidores públicos.

Graças ao presidente Lula e ao governo federal, Minas Gerais está recebendo investimentos que há anos não existiam, criando possibilidades de desenvolvimento, geração de emprego e renda, bem como melhorias em sua infraestrutura. Além de possibilitar um horizonte de resolução do grave problema fiscal que Minas se encontra devido à dívida com a União.

O encontro entre Lula e Zema evidenciou as diferenças entre suas visões de Estado. O presidente reforçou a defesa do papel ativo do setor público como um agente organizador fundamental da economia, enquanto o governador seguiu a linha neoliberal e privatista, pautada pelo estado mínimo.

O discurso de Lula e a retomada da ofensiva política

Durante os discursos, a disputa política pelos rumos do Estado ficou nítida e o Presidente Lula foi enfático em afirmar seu compromisso com o desenvolvimento econômico e social de Minas, desafiando o governador Romeu Zema a mostrar o que seu governo e o de Bolsonaro teriam feito pelo estado.

Em suas falas, o presidente enfatizou o compromisso com o fortalecimento da indústria nacional como motor do desenvolvimento e geração de emprego de qualidade para o país. Destacou o desejo de transformar o Brasil em um polo de inovação e sustentabilidade da indústria automotiva mundial.

Lula fez questão de afirmar que o governador não se lembrava “há quanto tempo” a economia brasileira não crescia mais de 3% ao ano. Em tom de ironia, afirmou que apenas um cara de sorte como o próprio presidente podia fazer o Brasil voltar a crescer e gerar empregos e oportunidades para o povo.

O fato é que Minas Gerais tem sido um dos estados que mais tem recebido investimentos do governo federal. Mas isso, por si só, não garante uma reversão no quadro da queda de popularidade do governo. Para que isso ocorra, é preciso fazer a disputa política sobre cada uma das realizações e dos investimentos feitos em Minas.

No encontro de prefeitos e vice-prefeitos petistas de Minas, a Prefeita Marilia destacou a importância da presença de Lula e de sua postura ofensiva na disputa política da agenda de entregas para Minas. Defendeu uma mudança de postura por parte do governo federal, no sentido de ampliar a disputa da narrativa sobre os investimentos realizados no território mineiro.

A ofensiva política de Lula em Minas Gerais busca retomar terreno em um dos estados mais importantes do cenário político nacional, ao mesmo tempo que possibilita a aproximação com os movimentos populares. Para além desse diálogo, o reforço de investimentos sinaliza que o governo pretende recuperar espaço entre setores que foram desmobilizados ou se distanciaram nos últimos anos.

Minas Gerais é, historicamente, um estado-chave para as disputas nacionais e certamente repetirá sua posição estratégica para a definição do quadro eleitoral de 2026. Lula precisa fortalecer sua presença no estado para reverter a queda de sua popularidade e avaliação de seu governo, bem como aprofundar a disputa política direta sem intermediários. Suas visitas sinalizam o início dessa ofensiva política tão necessária para a construção de uma estratégia vitoriosa no próximo ano.

Adriana Souza é graduada em história e vereadora de Contagem (PT).