O recente discurso de Donald Trump na Assembleia Geral da ONU trouxe um gesto que surpreendeu parte da opinião pública: um aceno amistoso ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado da declaração de que pretende se reunir com ele em breve. A mídia e as redes sociais embarcaram automaticamente na narrativa de que trata-se de um “afago” inesperado, mas, o recuo momentâneo da retórica agressiva contra o Brasil, à luz da análise política, revela mais um método que uma mera contradição.
Trump não é um líder incoerente por acidente. Seu estilo de comunicação combina hostilidade e elogio de forma consciente, como técnica comum à figuras autoritárias. Ao oscilar entre o ataque e a conciliação, o presidente norte-americano desorienta e prende públicos distintos, centralizando o debate em sua persona. O objetivo é alimentar a imprevisibilidade, uma arma poderosa na economia da atenção que Trump domina tão bem. Esse comportamento, que Bolsonaro copiou no Brasil, corrói a racionalidade da política e a substitui por uma dramaturgia personalista, confusa e centrada no ator.
É neste cenário que o Brasil aparece. Trump fala em “química” com Lula após aplicar sanções e forçar interferência contra o país. Agora, não há mudança substancial de política externa; há cálculo. Tanto que ele alegou em seu discurso que o Brasil “só melhorará se trabalhar com os EUA”, tentando nos inferiorizar. O encontro que ele anunciou com o presidente brasileiro, se acontecer, pode ser uma armadilha com o objetivo de enquadrar o Lula em uma posição desconfortável diante da opinião pública mundial, como intransigente, enquanto Trump simula disposição em distensionar as relações, o que é uma farsa que ele tenta naturalizar com essas movimentações divergentes.
Há também um ponto central que expõe o varalatismo da mídia corporativa em relação à política externa, sempre exigindo de Lula uma postura subserviente aos interesses estrangeiros. Foi assim com Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, no contexto da guerra com a Rússia, e agora com as pressões recentes vindas de Trump e seu tarifaço. Lula, porém, não se dobrou. Enfrentou o desconforto diplomático firme de suas posições, reafirmou a soberania brasileira, deixando claro para o mundo que o Brasil não será tratado como colônia. Lamentavelmente, a imprensa brasileira demonstra ser mais simpática ao comportamento vassalo de Bolsonaro quando presidente.
O resultado é que, mais uma vez, a história se encarrega de revelar quem tinha razão. O Brasil com Lula não recuou “um milímetro” e fez Trump ter esse gesto público de recuo. E isso reforça uma verdade incômoda para os críticos internos: Lula age como um estadista respeitado.
O “afago” de Trump é uma vitória conquistada e que deve ser confirmada perante a opinião pública nesse possível encontro, que deve ser construído com cautela e estrito à questões econômicas. O Brasil mostrou que não aceita ser subalterno, que não negocia sua dignidade em nome de interesses externos e nem aceita interferências ideológicas. Se Trump opera no campo da espetacularização, Lula responde no campo da soberania.
É essa a diferença fundamental: enquanto líderes autoritários usam a contradição como método para gerar medo, confusão e atenção, Lula usa a coerência estratégica e o diálogo horizontal para garantir respeito e afirmar o Brasil como ator global relevante. E é por isso que, diante das pressões, o presidente brasileiro segue consolidado como uma das principais lideranças políticas do mundo contemporâneo.
Rômulo Fegalli é jornalista especialista em Comunicação Pública e Governamental