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Adriana Souza: Pacheco, Lula e a aliança democrática por Minas

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A presença de Lula em Minas é sempre um acontecimento político de grande impacto. Quando ele esteve aqui, há exatos três meses, escrevi que as visitas do presidente Lula não eram apenas agendas administrativas, mas seriam movimentos estratégicos da disputa de projetos políticos opostos para o futuro do estado (1) Pois bem, se em março o Presidente demarcou posição frente ao governador Zema, nesse dia dos namorados Lula foi além: apresentou a pré-candidatura de Rodrigo Pacheco ao governo do estado.

Foi um gesto de ofensiva política carregado de significados. Ao anunciar investimentos e entregar equipamentos às prefeituras, Lula reforçou a parceria federativa com o Estado e também sinalizou uma aliança democrática com a possibilidade real da candidatura de Rodrigo Pacheco ao governo de Minas em 2026 como parte de uma frente ampla, progressista e que isole a extrema direita. As falas de Lula e Pacheco apontaram para a necessidade de construir um novo ciclo de desenvolvimento para o Estado, ancorado na democracia, no respeito às instituições e na centralidade dos municípios como motores de transformação.

Estamos há pouco mais de um ano para o início das eleições presidenciais e estaduais, e Minas Gerais é um estado estratégico para a reeleição do presidente. O campo popular e democrático no estado ainda não se recuperou da derrota de 2018. O cenário é de fragmentação política, oposição fragilizada, movimentos sociais desarticulados e ausência de projeto para um novo ciclo de desenvolvimento em Minas. Não temos nomes que se disponham ou que nos unifiquem. Diante desse panorama, a aliança democrática Lula-Pacheco se torna uma possibilidade real.

Essa possibilidade ganha ainda mais força quando ouvimos Pacheco defender, com firmeza, o fortalecimento do municipalismo. Em um Estado com mais de 850 municípios, a centralidade dos territórios e das cidades na formulação de políticas públicas não é apenas uma pauta técnica — é uma questão de justiça e desenvolvimento. Pacheco propõe que os municípios tenham voz ativa na disputa pelo orçamento e nos processos decisórios, reconhecendo que é nos territórios que a vida acontece e onde as desigualdades precisam ser enfrentadas com mais urgência.

Como Lula lembrou, “não existe possibilidade de um país estar bem se a cidade não está bem. E não é possível a cidade estar bem se o estado e o país estiverem falidos.” Em seguida ele lembrou os lindos versos de uma música utilizada pelo PT nas eleições de 1985, “uma cidade parece pequena se comparada ao país, mas é na minha, é na sua cidade que se começa a ser feliz”. Essa visão municipalista pode apontar para um novo ciclo de reconstrução em Minas e no país, que passa necessariamente, por um modelo federativo mais equilibrado e inclusivo.

Outra questão que parece fundamentar essa aliança é defesa da democracia. Enquanto Romeu Zema relativiza a existência da Ditadura Militar (1964-1985), Pacheco ressaltou que a ditadura é “inegável”, e que “pessoas foram torturadas e assassinadas” nesse período sombrio. O senador fez menção a grandes nomes mineiros que lutaram por liberdade e democracia como Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves e Itamar Franco. E emendou com críticas contundentes à “política feita por videomaker, Tik Tok e redes sociais”. Nas palavras do senador – com as quais tenho pleno acordo – o populismo, a demagogia e a lacração de rede social têm tornado a política cada vez menos expressiva e resolutiva para a vida das pessoas”.

Existe um contraste político claro: enquanto Rodrigo Pacheco reforça o respeito às regras democráticas, ao diálogo e o fortalecimento das instituições, o atual governador Romeu Zema representa um projeto de desmonte da democracia. Sob sua gestão, Minas mergulhou em uma política de abandono dos serviços públicos, privatizações, desprezo pelas cidades e alinhamento com as pautas da extrema direita — sempre à base do espetáculo e da superficialidade, sem compromisso com o povo mineiro.

Pacheco encerrou seu discurso clamando pela união do estado para sua necessária reconstrução: “nós temos que melhorar urgentemente a autoestima do Estado de Minas Gerais. Isso se faz com a política. Não é com a negação da política, da ciência ou da história de Minas. Gostaria de invocar para que estejamos unidos na reconstrução do Estado”, afirmou o senador. E Lula, ao final da cerimônia, afirmou que sai com a certeza de que tem um nome para governador de Minas.

A aliança democrática entre Lula e Pacheco por Minas parece estar selada. E precisamos defender que esse pacto vá além da ideia de uma “frente ampla” apenas como contenção de danos. A aliança deve ter sua centralidade na luta democrática sim, mas também precisa ter um caráter combativo e progressista para que o cenário da derrota de 2022 não se repita. Uma frente capaz de substituir o negacionismo pela ciência, a privatização pelo investimento público, a demagogia e superficialidade pelo combate às desigualdades sociais e regionais no estado, os arroubos autoritários pelo fortalecimento da democracia.

Minas precisa de um projeto de desenvolvimento perene e sustentável, que retome seu protagonismo nacional não apenas como símbolo histórico, mas como força viva da reconstrução do país. Que a presença de Lula e Pacheco juntos em solo mineiro marque o início de um sólido compromisso progressista rumo a 2026.

Adriana Souza é graduada em história e vereadora de Contagem (PT)

(1) Adriana Souza: Lula em Minas, a retomada da ofensiva política — Blog do José Prata e Ivanir Corgosinho

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