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Cleber Couto: Da ficção científica à vida real. O que os ciborgues nos ensinaram?

Os ciborgues nos ensinaram a desconfiar e desconstruir dicotomias rígidas, como natural/artificial, orgânico/mecânico e possivelmente, o mais importante para o nosso debate: real/virtual. E como a ideia do ciborgue, antes restrita à ficção científica, se tornou parte fundamental da nossa realidade social e política?

Na cultura pop, o ciborgue sempre foi uma figura fascinante. De Frankenstein a O Exterminador do Futuro, passando pelos desenhos infantis da nossa infância a Black Mirror, a ficção científica nos ensinou a imaginar seres híbridos, metade humanos, metade máquinas, muitas vezes presos entre duas naturezas conflitantes. Mas e se os ciborgues não fossem apenas personagens de filmes e quadrinhos? E se, na verdade, nós já fôssemos ciborgues?

Foi essa provocação que a bióloga e filósofa Donna Haraway lançou em seu Manifesto Ciborgue, publicado nos anos 1980. Para ela, o ciborgue não é apenas uma criatura mecânica, mas um símbolo da fusão irreversível entre seres humanos e tecnologia. E essa fusão vai muito além de próteses robóticas ou implantes cibernéticos – ela acontece todos os dias, no simples ato de carregar um smartphone, confiar em algoritmos para nos guiar, usar dispositivos que monitoram nossa saúde e interagir com redes sociais que moldam a forma como percebemos a realidade.

Os ciborgues também nos ensinaram que a tecnologia nunca é neutra. Ela pode servir à dominação, à vigilância e ao controle, mas pode ser usada para a criação, resistência e a subversão. Esses seres humanos/máquinas nos impõe a necessidade de ocupar, disputar e transformar os sistemas tecnológicos que atravessam nossas vidas.

A fronteira entre humano e máquina nunca esteve tão rompida. Se antes víamos os ciborgues como exceções, hoje percebemos que eles somos nós. Desde a ascensão da internet até a popularização da inteligência artificial, estamos cada vez mais conectados e dependentes de sistemas tecnológicos que ampliam nossas capacidades, mas também nos submetem a novas formas de controle. O mundo digital nasceu e se reconfigura constantemente como um espaço de disputa de poder, onde algoritmos, dados e inteligência artificial influenciam o que consumimos, o que pensamos, o que sentimos e decidimos.

No campo da política, vemos essa nova realidade na comunicação institucional e eleitoral, que se transformou profundamente com as redes sociais, tornando-se mais imediata, interativa e personalizada – mas também mais vulnerável a manipulações. O poder comunicacional político antes se concentrava nas estruturas tradicionais do Estado e da velha mídia. Agora, porém, passa pelo controle da informação e dos fluxos de dados em redes. Fake news, bolhas informacionais e o uso estratégico da inteligência artificial redefinem os rumos da democracia, colocando em xeque a própria noção de verdade e transparência.

A Plataforma Decide Contagem e os conselhos públicos instituídos pelo Sistema Municipal de Participação Popular e Cidadã (SMPPC), criado pela prefeita Marília Campos, são expressões concretas da lógica do ciborgue proposta por Donna Haraway, em que humano e máquina se fundem em uma nova configuração de existência e ação política. Ao interagir ferramentas digitais com processos tradicionais de participação, essas iniciativas criam um organismo híbrido que potencializa a escuta, a tomada de decisão coletiva e a transparência na gestão pública.

O grade desafio da Plataforma Decide Contagem é se manter em constante movimento de desenvolvimento, aprimorando continuamente a experiência do usuário, com base em pesquisas focadas nas necessidades do povo, com linguagem cada vez mais acessível, com usabilidade simples e canais de devolutiva que fortaleçam a confiança entre população e governo, ainda que a devolutiva seja um “não”.

Marília Campos entendeu essa dinâmica e soube se conectar com a população de Contagem de forma inteligente e estratégica, através do contato direto nas ruas, com o fortalecimento dos conselhos, e, como apenas mais um exemplo através do Programa de Melhorias em Vilas Favelas e Periferias. Mas, para que essa comunicação seja efetiva e continue a ser uma ponte entre gestão e sociedade, é necessário que as pessoas não sejam apenas espectadoras, mas protagonistas desse processo.

A prefeita Marília Campos conseguiu construir uma ação e uma narrativa de diálogo e proximidade com a população, porém, enfrenta desafios diários em um ambiente digital que amplifica distorções e ataques coordenados. A disputa política não acontece mais apenas nos palanques e nas ruas, mas também nos algoritmos, nos grupos de WhatsApp e nas redes sociais.

Os comunicadores profissionais desempenham um papel essencial! Entretanto, todos que acreditam no projeto de Marília Campos precisam se reconhecer como agentes de comunicação, ocupando os espaços digitais e presenciais para divulgar as conquistas da cidade e engajar mais pessoas na construção permanente de narrativas que valorizam a participação popular, a justiça social e o cuidado com o bem comum, que são marcas deste governo.

Cleber Couto é mestre em Estado, Governo e Políticas Públicas. Assessor da Vereadora Moara Saboia.

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