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Cleber Couto: Somos todos ciborgues? Comunicação, política e tecnologia

Sou Cleber Couto, assessor de comunicação da vereadora Moara Saboia. Trabalho há 15 anos com comunicação na política, fui membro fundador da Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) no Triângulo Mineiro e ao longo da minha trajetória, me dediquei a estudar o impacto da tecnologia na comunicação e na política. Sou Mestre em Estado, Governo e Políticas Públicas pela FLACSO/Brasil (2020), Especialista em Gestão Estratégica em Políticas Públicas pela UNICAMP (2016) e Bacharel e Licenciado em História pela UFU (2014).

Nos últimos anos, a comunicação digital transformou radicalmente a forma como nos relacionamos com o mundo, com a política e com o poder. As redes sociais se tornaram campos de batalha, onde narrativas se enfrentam em tempo real. Essa realidade não é um acaso: faz parte de um sistema estruturado de controle e disputa da informação, um fenômeno que Donna Haraway, já antecipava no século passado.

Para Haraway, o ciborgue é uma metáfora poderosa para compreender a fusão entre humanos e tecnologia, rompendo as dicotomias tradicionais como natureza e cultura, humano e máquina, orgânico e artificial. Em seu Manifesto Ciborgue Ciência, Tecnologia e Feminismo-Socialista no Final do Século XX (1985), ela define o ciborgue como um ser híbrido, uma construção que transcende categorias fixas e reflete a interconexão entre corpo, ciência e sistemas tecnológicos.

Diferente da visão tradicional da ficção científica, que representa o ciborgue como um ser meio humano, meio máquina, Haraway argumenta que todos já somos ciborgues, pois nossas vidas são mediadas pela tecnologia – seja nos meios de comunicação, no uso de dispositivos digitais, na medicina, nas roupas ou na inteligência artificial. Para ela, a noção de ciborgue desafia identidades fixas e sugere novas formas de existência e resistência política.

Além disso, Haraway associa o conceito de ciborgue à Informática da Dominação, um sistema em que a informação e a tecnologia são usadas como ferramentas de controle e poder, mas que também podem ser apropriadas como estratégias de subversão. O ciborgue, nesse sentido, não é apenas um reflexo da era tecnológica, mas um símbolo de resistência e transformação, questionando hierarquias e criando novas possibilidades de existência.

Em resumo, para a bióloga e filósofa estadunidense, ser um ciborgue significa viver em um mundo onde as fronteiras entre humano e máquina são fluidas e onde a tecnologia redefine nossas relações sociais, políticas e culturais.

Essas reflexões não são novas para mim. Em 2014, na minha monografia no curso de História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), analisei o conceito de ciborgue de Haraway e sua relação com as formas de dominação e resistência. Agora, trago essa discussão para o presente, conectando-a com a comunicação política e a luta contínua pela democracia.

Refletirei sobre os desafios e as possibilidades desse novo cenário global, onde quem controla a narrativa, pode controlar também a sociedade, ao longo de cinco colunas:

1. “Da Ficção Científica à Vida Real: O Que os Ciborgues nos Ensinaram?” – Como a ideia do ciborgue, antes restrita à ficção científica, se tornou parte fundamental da nossa realidade social e política.

2. “Ciborgues do Cotidiano: A Tecnologia Somos Nós?” – De smartphones a inteligência artificial, somos todos híbridos de humano e máquina. Como isso afeta a forma como consumimos, trabalhamos e nos relacionamos?

3. “Estamos na Barriga do Monstro: Quem Controla Nossas Redes?” – As redes sociais são um espaço democrático ou um sistema controlado por algoritmos que moldam o que vemos e pensamos?

4. “Guerra de Narrativas: A Comunicação como Campo de Batalha” – Fake news, bolhas digitais e manipulação da informação: como resistir em um mundo onde a verdade é constantemente disputada?

5. “O Ciborgue nas Urnas: Como a Tecnologia Redesenha a Política” – A influência dos algoritmos nas eleições e o papel das redes sociais na construção (ou destruição) de candidaturas e projetos políticos.

Essas cinco colunas serão um convite para pensarmos juntos sobre o papel da comunicação na disputa pelo futuro. Se o espaço digital no qual conectamos corpo e máquina é um campo de batalha em disputa constante, todos nós somos agentes dessa guerra. O desafio é: como ocupar esse espaço e construir narrativas que fortaleçam a democracia e a justiça social?

Fiquem atentos ao Blog do Zé Prata & Ivanir, que tem sido uma excelente ferramenta de trocas de ideias para qualificar nossas disputas de narrativas em Contagem. Se você se interessou pelo tema, ao longo dos próximos meses publicarei aqui essas reflexões – acompanhe e participe desse debate!

Cleber Couto é mestre em Estado, Governo e Políticas Públicas. Assessor da Vereadora Moara Saboia.

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