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Gabrielle Vaz: A Casa da Cultura Nair Mendes Moreira é um símbolo da cidade

Quem passa perto do prédio do INSS de Contagem consegue vislumbrar uma casa verde e branca, com características diferentes das novas construções do século XXI. Esse local se trata da Casa da Cultura Nair Mendes Moreira – Museu Histórico de Contagem e é notável a sua estrutura que remete à história colonial. Isso fica perceptível ao ver paredes de adobe e pau-a-pique, as vigas de madeira, o chão de pedra, o pomar que acolhe uma jabuticabeira (fruta que também é símbolo da cidade). Localizada na rua do Registro, número 1 (um) o surgimento da casa muito provavelmente se atrela a um antigo posto de registro da coroa portuguesa, que ficava na atual Regional Sede. De acordo com a história oral de moradores, e com pesquisa de historiadores como Geraldo Fonseca, foi ao redor deste posto que se formou a Vila de Contagem, no decorrer do século XVIII. Sendo assim, Contagem tem seu nome atrelado a uma das primeiras funções do município, que era de fiscalizar as mercadorias que iam para a região aurífera, sobretudo, de Sabará e Ouro Preto, há cerca de 300 anos atrás. E a Casa da Cultura Nair Mendes Moreira está presente até os dias de hoje para mostrar essa história.

Para além disso, ao adentrar a casa, é possível notar como a história é múltipla. A forma de se construir o espaço, é fruto de uma arquitetura e engenharia muito provavelmente influenciada por culturas africanas, como o telhado e o adobe e pau-a-pique. Somado a isso, destaca-se o cruzeiro que fica a frente da casa. Como nos tempos coloniais, marcado pelo catolicismo popular, era costumeiro se colocar um cruzeiro para proteger a nova vila.

Contemporaneamente, esse cruzeiro faz parte de festividades de uma das comunidades tradicionais mais antigas do município. A Comunidade Quilombola dos Arturos. Toda Festa da Abolição, realizada todo ano no mês de maio pela comunidade, os membros visitam o cruzeiro em frente a Casa da Cultura Nair Mendes Moreira.

PROCESSO DE TOMBAMENTO

Segundo o dossiê de tombamento, ao passar dos anos, a casa foi espaço de muitos moradores, grande maioria da família Belém. Todavia, a prefeitura ao notar importância histórica da casa, em 1991 foi lavrada a escritura pública de compra e venda entre proprietários e a Prefeitura Municipal de Contagem. Em 1998, o local é tombado como patrimônio cultural do município de acordo com o Decreto 10.060 de 14 de dezembro de 1998. O nome dado ao Museu homenageia a professora Nair Mendes Moreira, autora do Hino de Contagem.

REALIZAÇÃO DO RESTAURO

Contudo, em 2021 em solenidade online, devido ao contexto pandêmico, a Casa da Cultura foi reinaugurada. Isto pois, o espaço passou por um processo de restauro. A estrutura foi atentamente organizada a fim de oferecer uma boa condição para o público visitante. Todas as áreas internas e externas foram pintadas utilizando tintas específicas para preservar o reboco original. O piso de tabuado de madeira passou por uma completa restauração, enquanto o forro em treliça de taquara foi mantido intacto. Além disso, foram realizadas adaptações nos sanitários e rampas para garantir acessibilidade. Medidas de segurança foram implementadas, incluindo a instalação de guarda-corpos na rampa externa de acesso e corrimãos nas escadas.

O sucesso da reabertura e do restauro são evidentes. Primeiro, pois mostra uma sensibilidade do governo vigente em preservar a cultura local. Além disso, existe um plano de atividades que fazem do espaço um local de variadas visitas. A casa recebe um fluxo anual significativo de visitantes, que têm acesso de forma gratuita para conhecer o espaço. Com destaque para a educação patrimonial, como exemplificação, somente no ano passado foram quase 3 mil alunos que realizaram a visita, além do público espontâneo. Grande maioria dos estudantes são contagenses e tem o contato com uma das primeiras edificações da cidade. Algo valoroso para a construção de uma identidade atrelada ao município.

Somado a isso, acontecem eventos de forma frequente na Casa da Cultura, ambos divulgados no Instagram @culturadecontagem e no Guia Acontece. Muitos dos eventos são ligados a lançamentos de livros, exposições e trabalhos de artistas do município. Tais lançamentos ocorrem, geralmente, na Noite Mineira de Museus e Bibliotecas, agenda mensal que abre a Casa da Cultura uma vez por mês no período noturno com o objetivo de receber alunos da Educação de Jovens e Adultos -EJA, para um acesso democrático aos estudantes que não podem visitar o espaço durante o dia.

REGISTRO NO IBRAM E PLANO MUSEOLÓGICO

Atualmente no governo Marília, a meta é realizar o registro da instituição no IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus na categoria de museu histórico. Além desta institucionalização, está sendo desenvolvido um plano museológico com todas as diretrizes necessárias para a concretização documental do espaço.

Logo, é possível afirmar que a Casa da Cultura Nair Mendes Moreira é símbolo da cidade. Seja pela importância do espaço para a identidade dos cidadãos do município, seja pela sua importância na democratização da cultura, seja como objeto de educação patrimonial. Há mais de 300 anos a Casa se mostra como um espaço de resistência no que tange lembrar a história contagense.

No Governo Marília, a agenda dentro do espaço é contínua, formam exposições de diversas temáticas, desde futebol, religiosidade popular, literatura infantil, entre outros temas que foram expostos nas paredes da casa. Além disso, oficinas de culinária, aulas de capoeira, apresentações musicais e teatrais. A extensa agenda de temas, mostra a multidisciplinaridade cultural da cidade. E ter um local para expor essa arte é de suma importância. E é possível que a democratização da cultura exista e resista a cada dia dentro da Casa da Cultura.

Não perca a oportunidade de visitar este espaço da cidade! Visitação de segunda a sexta de 8h às 17h! Gratuito.

Gabrielle Vaz é formada em História pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas, nas modalidades de Licenciatura e Bacharel. Pós-graduação lato sensu em Gestão e Projetos de Patrimônio Cultural pelo IEPHA Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais e a UEMG – Universidade do Estado de Minas Gerais. Atua como Diretora de Memória e Patrimônio na Secretaria de Cultura de Contagem.

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