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Gilvan Rodrigues: Indústria Criativa em Contagem, a política audiovisual estruturada

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A partir de 2020, a Prefeitura Municipal de Contagem, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo, tem desenvolvido as bases para o início da consolidação de uma política pública voltada para o audiovisual na cidade. O quadro de realizações de produtoras locais foi se estabelecendo e se amadurecendo autonomamente nos últimos 20 anos, o que fez com que Contagem se apresentasse como uma cidade de referência nacional na produção audiovisual. Observando esse movimento, o governo Marília tem demonstrado um reposicionamento da política cultural a fim de buscar construir um legado econômico sustentável para o setor. Essa análise tem o objetivo de mostrar, de maneira resumida, a estrutura de organização conceitual de ações governamentais calcadas na cadeia produtiva do audiovisual em Contagem, que tem traçado os caminhos para a efetivação dessa política.

O segmento cultural do audiovisual, cuja principal característica é a criação de imagens em movimento, em todos os gêneros (ficção, documentário e animação), suportes (filmes, vídeos), duração (longa, média e curta metragem) e meios de transmissão (salas de exibição, televisão e internet), mereceu atenção especial por reunir uma série de condições favoráveis para formação de políticas públicas contínuas, como também do desenvolvimento econômico e social. Agrega, nos seus processos de criação, diversos segmentos da cultura, como artes cênicas, música, literatura, artes visuais, arquitetura, design, entre outros.

Em função dessa característica, o audiovisual emprega uma gama diversificada e qualificada de profissionais. Apresenta grande potencial como segmento gerador de emprego e renda, não apenas por sua dimensão produtiva, mas, principalmente, pelo potencial de consumo, resultado da forte sedução que o cinema, a televisão e as mídias móveis exercem sobre o grande público. No século XXI, o audiovisual emerge como um setor de ponta da nova economia, também chamada de economia criativa ou do conhecimento, vislumbrada como propulsora de uma nova etapa do desenvolvimento.

Ao pensarmos na cadeia produtiva do audiovisual, temos as suas bases em quatro elos: Formação, Produção, Exibição e Preservação. Essas linhas se encaixam como um círculo, permitindo uma constante movimentação em que se retroalimentam. O primeiro elo capacita os agentes para sua atuação no mercado, além incentivar a formação de público. A produção viabiliza o fomento às obras audiovisuais, seja financeiramente e/ou por meio de ações de apoio, como as realizadas pela Film Commission. A exibição permite que as obras cheguem ao público, tendo o foco em locais específicos, como os cinemas, mas também podendo ocorrer em locais não convencionais, como os festivais em espaços abertos. E, por fim, a preservação, que tem o objetivo de atuar na conservação do acervo audiovisual da cidade. O governo municipal tem atuado efetivamente nesses elos da cadeia produtiva na sua política audiovisual. Para tanto, ações conjuntas entre secretarias têm traçado esse caminho de maneira fundamental.

Na formação, o município trabalha em duas frentes: a formação de profissionais e a formação de público. A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, juntamente com a Fundação de Educação de Contagem – Funec –, por meio de Acordo de Cooperação Técnica, criaram cursos voltados para o setor audiovisual. A partir de 2023, o município tem ofertado cinco cursos importantes alinhados para o setor: Curso Técnico em Produção de Áudio e Vídeo, Curso Técnico em Teatro, Maquiagem Cênica, Fotografia e Agente Cultural. A ideia é fomentar a capacitação profissional, estimulando o empreendedorismo cultural e contribuindo para a geração de renda e a inclusão dos atores desses atores na cadeira produtiva.

São ofertadas 50 vagas para o curso de agente cultural, 30 vagas para maquiador cênico e 36 vagas para fotografia. Na primeira turma, a média de permanência nesses cursos foi de 80%. Já o Curso Técnico em Teatro, na modalidade presencial, é um curso formado por três módulos, com 1.000 horas, e são ofertadas 25 vagas. No processo seletivo, tivemos uma procura acirrada, tendo o número de 15 concorrentes por vaga. Paralelamente, o município também tem ofertado o Curso Técnico em Produção de Áudio e Vídeo. Composto por três módulos, o curso tem a carga horária de 1.200 horas e a oferta de 30 vagas.

Não podemos nos esquecer da programação realizada pela equipe da Secretaria Municipal de Cultura por meio do projeto “Cine Clube Contagem”. Realizado continuamente, a secretaria realiza exibições e debates com a comunidade a fim de demonstrar a produção existente e realizar a formação de público.

No elo de produção, o município tem contribuído com a formulação e a elaboração de editais que potencializem a criação das obras audiovisuais. Certamente, a política de produção ainda tem grandes passos a serem dados e, com transparência e clareza, esse tema tem sido debatido com o setor por meio de audiências. O município incentivou o setor audiovisual com valor aproximado de 4 milhões de reais entre 2021 e 2024, sendo contemplados 80 projetos voltados ao setor. Essas ações são reflexos das realizações de editais próprios como também da participação do município junto a políticas nacionais, tais como a Lei Paulo Gustavo e a Politica Nacional Aldir Blanc.

Não podemos deixar de pontuar as discussões do município junto a órgãos federais, ao Ministério da Cultura e à Secretaria do Audiovisual, sobre a política nacional de fomento ao audiovisual. O município tem apresentado a importância de realizar Arranjos Regionais, que são linhas de investimento em projetos audiovisuais brasileiros, voltados para cidades do interior, e que já apresentam reconhecimento da produção local nos cenários nacional e internacional.

No elo exibição, a prefeitura está atuando de forma significativa na restauração do Cine Teatro Municipal Tony Vieira. Em 1964, a construção original foi demolida, dando lugar ao novo cineteatro, em estilo eclético, sendo considerado tecnicamente avançado à época de sua reinauguração, em 1969. Localizado no centro da cidade, ao lado da Igreja Matriz de São Gonçalo, o imóvel foi tombado pelo Decreto no 10.806, de 31 de maio de 2001.

Fechado desde 2011 e sendo parte importante do patrimônio histórico e cultural do município, tornam-se de suma importância sua revitalização e sua modernização, também em decorrência de seu tombamento, de suas características arquitetônicas e de engenharia, mas, principalmente, pelo valor cultural imaterial, como um importante equipamento de visibilidade, divulgação e preservação da pujante e reverenciada produção cênica e audiovisual do município.

A restauração contempla: revisão elétrica e hidráulica; pintura geral; recuperação do piso e das poltronas da plateia; climatização; tratamento acústico, além de contar com intervenções de acessibilidade e medidas preventivas de incêndio e de sua propagação, bem como com a adequação dos projetos existentes às normas técnicas vigentes.

No projeto foram previstas diretrizes que garantam: plateia que proporcione visão plena do palco e tratamento acústico adequado; área de palco que atenda à capacidade do Cine Teatro Municipal Tony Vieira e possibilite a apresentação das mais diversas modalidades de espetáculos artísticos; estrutura técnica para atender às demandas dos espetáculos, permitindo o maior número de conformações de iluminação e cenário possíveis; espaços de trabalho necessários para o funcionamento do local; espaços de permanência que acomodem o público e saídas e circulações adequadas às normas do Corpo de Bombeiros.

Também está prevista a manutenção da linguagem e das características arquitetônicas que são relevantes para a história do espaço, com a criação de uma Galeria de Arte, no foyer, garantindo a fruição e a preservação da produção e da história não somente artística da cidade, mas parte de seu legado industrial, uma vez que, com o restauro dos projetores originais de película 35mm, produzidos em indústria de Contagem, eles estarão expostos e preservados no local.

Em consonância com a atual produção audiovisual do município, reconhecida e aplaudida internacionalmente, a administração municipal está se esforçando para garantir estrutura técnica de ponta, compatível com as mais importantes casas de projeção no mundo, com aquisição de projetor e tela de última geração, sendo importante destacar que se trata de um sistema integrado 100% digital, sem nenhuma interface analógica, dentro dos requisitos e padrões para instalação de um Cinema DCI – e com comunicação correta entre todos os sistemas de workflow para atender ao padrão exigido para uma Sala de Cinema DCI Digital. Todo esse projeto envolve um investimento em torno de 16 milhões de reais.

Ações na linha da preservação também são realizadas. A produção audiovisual em Contagem tem seus representantes já de tempos atrás. Em arquivo institucional, presente no Museu Histórico do município, observamos a existência de importante acervo do Cineasta Tony Vieira.

Mauri de Oliveira Queiroz nasceu em Dores do Indaiá, Minas Gerais, mas se mudou para Contagem ainda criança. Atuou na TV Itacolomi, na TV Excelsior e na TV Tupi, mas foi no cinema que formou uma carreira. O acervo deixado por Tony é de aproximadamente 61 itens, entre cartazes de divulgação de filmes, rolos de filmes, vestimentas, acessórios, paramentos e tablados.

Tendo em vista a situação em que se encontrava o acervo e a ação do tempo sobre ele, a Secretaria de Cultura e Turismo procurou parceiros para encontrar formas de melhorar as condições de restauração, acondicionamento e guarda dos objetos. Ao levar em consideração a importância cultural do acervo para a cidade, pois integra o patrimônio cultural da cidade, como acervo museológico, foi firmada parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, por meio do Curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis. O plano de trabalho previu o processo de higienização e acondicionamento, sendo que as peças, hoje, se encontram à mostra na exposição Conservação e extroversão da coleção do cineasta Tony Vieira e do movimento cinema Boca do Lixo.

Por fim, observamos ações integradas dentro de um conjunto de diretrizes que valorizam os quatro elos da cadeia produtiva. São passos iniciais que estão sendo consolidados continuamente na política cultural da cidade, visando à efetivação de uma indústria criativa que compreende, entre outras, as atividades relacionadas ao cinema, ao teatro, à música e às artes plásticas. Acreditamos que os próximos desafios devem focar a busca do aumento do fomento para a produção, conjuntamente com a Ancine e a Secretaria do Audiovisual, possibilitando a realização de arranjos regionais robustos; a criação de uma Film Commission, que gerencie os órgãos municipais para facilitar e atrair as produções para a cidade; e o fortalecimento de ações audiovisuais e mostras junto a vilas e favelas, fazendo disso um mecanismo de transformação social. Nesse sentido e nessa direção, o caminho se mostra favorável a fazer de Contagem um local propício para a “Industria Criativa”.

Gilvan Rodrigues dos Santos é subsecretário de Cultura de Contagem e professor do curso de especialização em Comunicação Pública e Governamental, na PUC Minas. Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável (PPG-ACPS/UFMG)

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