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Hamilton Reis: Para que servem as pesquisas de intenções de voto?

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Pesquisa boa é a das urnas. A frase, citada pelo senso comum, tem seu fundo de verdade. De fato é a apuração final que define quem são os eleitos e as eleitas em um pleito. Os resultados apontados pelas urnas eletrônicas são incontestáveis e o sistema eleitoral brasileiro segue forte, confiável e reconhecido internacionalmente.

Já a pesquisa eleitoral é a indagação feita ao eleitor, em um determinado momento, sobre a sua opção a respeito dos candidatos que concorrem em uma eleição. Essa é a definição dada pelo Glossário Eleitoral Brasileiro, publicado pelo Tribunal Superior Eleitoral. O mesmo informa que “entidades e empresas que realizam pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou a candidatos são obrigadas a registrar cada uma delas na Justiça Eleitoral, até cinco dias antes da divulgação, conforme o art. 33 da Lei das Eleições (Lei nº 9.504/97). Essa obrigação é exigida a partir de 1º de janeiro do ano do pleito”.

No caso de Contagem, causou alvoroço a publicação em 2 de outubro dos números apresentados pelo Instituto DataTempo* sobre a sucessão municipal. Ou seja, quase um ano antes das eleições de 2024, quando o eleitor, além da prefeita ou prefeito, também elegerá 25 vereadores e vereadores, já que a Câmara municipal terá quatro vagas a mais do que em 2020.

O levantamento foi feito com critérios científicos, com métodos utilizados, com poucas variações, pelos demais institutos. A amostra aplica um critério de proporcionalidade quanto a gênero, religião, idade, renda, escolaridade, dentre outros, considerando as características de cada regional da cidade. São esses quesitos que permitem dizer que os resultados apontam para um retrato do momento. Um panorama que precisa ser bem lido por quem está se credenciando para o jogo, o que torna as pesquisas importantes, pois a análise delas permite corrigir rotas ou se manter no rumo certo.

“Muita gente diz que não conhece ninguém que tenha sido entrevistado. Isso se dá porque, na realização de uma pesquisa eleitoral, com 2 mil a 2,5 mil pessoas, a probabilidade de o eleitor ser entrevistado é de 0,002%. É a mesma coisa que acertar a Mega-Sena. Mas o importante é que todos os eleitores tenham a mesma chance de serem entrevistados”, afirmou Mauro Paulino, ex-diretor do Datafolha e comentarista da GloboNews, em entrevista ao portal G1**.

Ou seja, se trata de dados confiáveis, apurados e analisados com seriedade. Não é enquete de internet, sem nenhum valor legal ou efetivo, que serve apenas de propaganda a um ou outro pretendente a cargo eletivo. Dito isso, é importante destacar como os números impactam a situação e a oposição.

A prefeita Marília Campos é apresentada como vitoriosa, à frente de todos os demais adversários. Ainda que somadas as intenções de votos de todos eles. Se as eleições fossem hoje, ela ganharia de goleada. E no primeiro turno. Venceria os três ex-prefeitos anteriores, Ademir Lucas, Carlin Moura e Alex de Freitas e aqueles que foram colocados como postulantes até agora: o deputado federal Cabo Junio Amaral (PL), o advogado Felipe Saliba (Patriota); o ex-vereador da cidade Léo Motta (Republicanos); e o empresário e vice-presidente da Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais (Prodemge), Márcio Bernardino (Novo), com 1,1%.

O que impressiona no caso da prefeita, é a sua alta popularidade. A sua gestão é aprovada por cerca de 74% da população. O que reflete diretamente na manifestação do eleitor, que sinaliza não querer mudança de rumo. Marília é conhecida e reconhecida. Afinal, como também diz o dito popular, não se mexe em time que está ganhando. Ainda assim, como não existe eleição ganha de véspera, a atual gestora agradece a preferência, mas avisa que só decidirá se é ou não candidata no momento certo. E, se candidata à reeleição, diz que vai entrar no jogo como sempre fez: sem salto alto e sem achar que a disputa está definida.

No lado oposto, o que chama a atenção é o grau de desconhecimento manifestado pelos entrevistados e entrevistadas sobre os pretensos candidatos. A pesquisa mediu os cenários para os nomes da extrema direita já colocados e que vieram de votações pífias em Contagem no pleito de 2022: Saliba (Patriota), Junio Amaral (PL), Léo Motta (Republicanos) e Márcio Bernardino (Novo). Veja: 80,1% não conhecem ou ouviram pela primeira vez o nome de Bernardino, candidato a prefeito e deputado estadual nas duas últimas eleições (2020 e 2022), respectivamente. Motta, ex-vereador e ex-deputado federal bate 65,7%, enquanto o advogado Saliba alcança 58,7% de desconhecimento. Junio Amaral, que exerce o segundo mandato em Brasília é desconhecido por 75,2% dos entrevistados. O que não causa espanto se considerarmos que, mesmo sendo autodeclarado morador local, ele teve na cidade apenas 2.842 votos nas eleições de 2022.

Não é fácil a vida da oposição. Os pretendentes a candidato precisam bater em uma administração muitíssimo bem avaliada. É uma operação de risco, porque assim não conseguem conquistar o eleitor indeciso que rejeita a baixaria pré-eleitoral, as fakes news que têm sido propagadas desde já e os ataques de baixo nível, sem fundamentação nos fatos e na vida real. Tiros no pé como a armação das larvas na comida do hospital vão na contramão na tática de quem precisa ser conhecido pelas razões certas e não pelos erros. Ou seja, não basta se tornar popular, é preciso conquistar quem ainda não definiu o voto, por meio de ideias renovadoras e projetos melhores do que o que está em curso e sendo aprovado pela maioria da população. Por isso, a falta de competência, de seriedade e de sensatez que a extrema direita local tem manifestado pode decidir a eleição ainda no primeiro turno a favor de Marília.

Hamilton Reis é jornalista e advogado.

* Disponível em www.otempo.com.br/politica/datatempo-marilia-campos-lidera-com-folga-disputa-pela-prefeitura-de-contagem-1.3244370

** Disponível em g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/noticia/2022/08/15/como-sao-feitas-as-pesquisas-de-intencao-de-voto.ghtml

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