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Hamilton Reis: Qual é o segredo de Marília?

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Chegar aos 62 anos de idade em boa forma, saudável e de bem com a vida é uma dádiva. Para atingir essa marca é preciso muita disciplina, persistência e força. Essas são qualidades que só se delineiam em quem procura cultivá-las. Não são fruto do acaso.

Segundo a mãe, dona Silvia, a filha sempre teve um estilo muito parecido com o próprio pai, que era bancário. E desde cedo se revelou uma líder: nas brincadeiras, no esporte, na escola. Depois no banco, no sindicato, nas lutas sociais e no Partido dos Trabalhadores, do qual foi uma das fundadoras. E de onde nunca saiu, apesar de inúmeros e persistentes convites.

É possível afirmar que a política está no sangue de Marília. E que toda a sua trajetória acabou servindo como uma preparação para a o que viria a seguir: vitórias incontestes nas urnas. Nas duas primeiras batalhas eleitorais que disputou, teve bons desempenhos, mas não foi eleita. A primeira foi em 1996, para prefeita de Contagem. Uma estreia na qual enfrentou aqueles que eram até então os dois maiores pesos pesados, Newton Cardoso e Ademir Lucas. Aquela menina, como foi chamada, fez bonito e manteve a votação do PT em alta. Mesmo sem ainda conhecer todos os cantos da cidade que a acolheu. No segundo pleito, chegou a terceira suplente de deputada estadual.

Em 2000, tornou-se a vereadora mais votada do PT e desde então não perdeu nenhuma das eleições que disputou. Foi deputada estadual, prefeita eleita e reeleita, novamente deputada estadual por mais dois mandatos e está pela terceira vez à frente da gestão em Contagem. Continua sendo a única mulher na história a ocupar o principal cargo de comando e a única a ser reeleita. Ao final da atual gestão, terá se tornado a pessoa que por mais tempo governou os rumos da cidade. Mais uma marca histórica.

Mas afinal, o que explica o seu sucesso? Qual é o segredo de Marília? Simples. Trabalho. A dedicação dela ao que faz é impressionante. Trata-se de uma militante com conhecimento de causa. Alguém que lê, estuda e elabora. Que tem discernimento e senso crítico. Uma pessoa que possui um feeling raro. Capaz de surpreender. E que teve a capacidade de sorver do tempo a sabedoria necessária para lidar com as situações, das mais simples às mais inusitadas.

E seria ela isenta de defeitos? Uma supermulher? Não. Marília é tudo o que é sem deixar de ser uma pessoa normal. Não cabem nela máscaras, falsas imagens, construções meramente mercadológicas, como o de um produto à venda e embalado para o consumo do eleitor e da eleitora. Ela dispensa receitas fáceis e artificiais. Marília é uma mulher de verdade e faz da verdade um de seus princípios fundamentais.

Marília segue o sábio ensinamento do Bituca: “todo artista tem de ir aonde o povo está…” Ela, que faz da política uma arte, sabe como poucos o caminho até o coração do povo. Por isso, se faz presença na vida das pessoas. É acessível. Próxima. No supermercado, no sacolão, na pista de caminhada, na praça, é a cidadã comum que vive a cidade. E há nesta vivência muito de extraordinário. E a sua escuta atenta se faz em todos os lugares. Seja no espaço institucional ou nas ruas. Enfrentando os problemas ou levando soluções, ela não se rende ao gabinete e a burocracia e prefere a vida que pulsa nas esquinas. Agora conhece a cidade na palma da mão. E por onde vai, seja em Brasília ou Paris, leva o aprendizado adquirido nestes seus anos de encontros com os contagenses.

Um outro governante, em outros tempos, recebia o povo que ia até ele. Na sede da Companhia Urbanizadora de Contagem – Cuco, no Eldorado, onde fazia atendimentos, a fila dobrava o quarteirão. Como um rei em seu trono, ele recebia soberano as demandas da gente simples. Era obeija-mão semelhante ao outrora cultuado pela realeza. A exposição das necessidades alheias, cultivando a ideia do grande pai que tudo resolve, atento às causas individualistas. Mesmo que ele nada resolvesse. Foi preciso que uma mulher chegasse à Prefeitura, anos depois, para estabelecer um contraponto a essa prática e para que a política passasse a ser feita de uma forma diferente. E melhor.

Recentemente, após a apresentação de uma pesquisa, perguntado se teria algum conselho a dar a ela, o cientista político Malco Camargos disse o seguinte: “que Marília continue sendo Marília.” Cabe a nós esperarmos que assim seja, por muitos e muitos anos. E que por todas as suas virtudes e por seu carisma ela seja conhecida também pelas gerações futuras. Marília merece uma biografia. Mas essa já é outra história.

Hamilton Reis é jornalista e advogado.

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