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José Prata: 10 dicas concretas para uma campanha vitoriosa de Lula presidente

Recentemente ministrei uma palestra numa reunião do Diretório Ampliado do PT Contagem. A maioria das pessoas gostou muito e então decidi explicar as 10 dicas neste texto para ampliar o alcance político das enormes tarefas que temos para fazer Lula presidente.

1-COM LULA, É “VENCER OU VENCER”. Em todas disputas políticas de que participamos sempre consideramos a possibilidade de vitória, mas também de derrota. Vivemos uma situação tão dramática neste país que admitir a possibilidade de derrota entristece e desmobiliza a militância progressista em todo país e amplos setores da sociedade brasileira. Se Bolsonaro vencer as eleições, com aval das urnas, ele vai destruir de vez a democracia brasileira e vai implantar o ultraliberalismo, com a supressão do Estado Social e privatização das empresas estatais que sobraram, como a Petrobras por exemplo. Então “é vencer ou vencer”. Mas “vencer ou vencer” não pode nos levar a subestimar nosso adversário, que vai fazer uma campanha suja para tentar nos derrotar. Temos até agora uma situação muito positiva, em que Lula tem ótimo desempenho nas pesquisas, e, aqui em Contagem, contamos com um governo com enorme aprovação popular, o que vai inviabilizar qualquer tentativa de plebiscito contra o governo Marília Campos. Mas não podemos cometer erros, que fortaleçam nossos adversários.

2-APROFUNDAR O SENTIMENTO DE MUDANÇA NA SOCIEDADE BRASILEIRA. Temos uma impressionante quantidade de pesquisas que são divulgadas semanalmente, as mais confiáveis são as presenciais, em especial Datafolha, IPEC e Quaest. Os resultados das pesquisas quantitativas refletem sentimentos e tendências presentes na sociedade. As tendências até aqui são: sentimento de mudança e não de continuidade; mudança pela esquerda com um maior papel do estado nas políticas públicas e no desenvolvimento econômico; preferências por líderes experientes, já que o “novo”, como Bolsonaro, fracassou; o antipetismo ainda permanece, mas o antibolsonarismo é muito maior, o que expressa na maior rejeição de Bolsonaro; Lula é considerado disparado o melhor presidente da história do país; a agenda social, com a crise econômica e com a presença de Lula, dominou o debate político deixando em segundo plano a agenda dos “costumes”. São estes aspectos que explicam a dianteira de Lula nas pesquisas eleitorais, com possibilidade até mesmo de vitória em primeiro turno. Nossa tarefa mais importante é: aprofundar o sentimento de mudança na sociedade brasileira; para isso precisamos fortalecer a agenda econômica e social, e não reforçar a agenda de costumes defendida pelo bolsonarismo.

3-META NÃO DEVE SER GANHAR NO PRIMEIRO TURNO, MAS PRIORIZAR A CAMPANHA DE LULA NO PRIMEIRO TURNO. Lula e a coordenação de campanha, na minha opinião, não irão colocar publicamente como meta a vitória logo no primeiro turno. Nunca vencemos uma eleição presidencial no primeiro turno, nem em 2002, 2006, 2010 e 2014. Quando você fixa a meta de vencer no primeiro turno e não vence, mesmo com percentuais expressivos, o sentimento acaba sendo de derrota. Em Contagem, por exemplo, tivemos com Marília Campos 42% contra 18% de nosso adversário e a coordenação de campanha acabou, ela própria, expressando um sentimento derrota, o que levou a um pânico na militância progressista de nossa cidade.(…) Não colocar como meta vencer no primeiro turno, não significa que não devemos, com cautela, trabalhar fortemente em torno desta possibilidade. Em Contagem, o Diretório Municipal formulou a seguinte proposta: é preciso priorizar a campanha de Lula no primeiro turno. As campanhas de rua no Brasil, no primeiro turno, se concentram nas campanhas proporcionais, e a eleição majoritária fica mais na TV, rádio e nas mídias sociais; quanto tem segundo turno, aí sim a militância se concentra na disputa majoritária. Em Contagem vamos mudar esta situação. Vamos priorizar a campanha de Lula e de Kalil logo no primeiro turno. Semanalmente, vamos realizar pelo menos uma grande atividade da campanha majoritária, bandeiraços, panfletagens, carreatas, etc; e o clima político em Contagem é o seguinte: candidato a deputado federal e estadual que não se jogar em peso nestas atividades não terá voto em nossa cidade. É priorizando Lula no primeiro turno, que estaremos trabalhando para que Lula vença no primeiro turno.

4-CAMPANHA CENTRARÁ NO PASSADO (LEGADO DE LULA) E PROJETARÁ O FUTURO: “O BRASIL FELIZ DE NOVO”. Muitas pessoas criticam Lula por ele centrar muito suas falas em rememorar o que o seu governo fez pelos brasileiros e brasileiras; seria, afirmam, uma “campanha saudosista”. Ora, Lula é líder pelo o que já fez; pelo seu legado como presidente. Todas as pesquisas conferem a Lula, inclusive, a preferência popular como sendo “o melhor presidente da história brasileira”. A publicidade de Lula, não tem segredo para ninguém, será bem manjada: “quem já fez, fará muito mais”; com Lula “o Brasil será feliz de novo”. Mas Lula terá que falar também do futuro, do que pretende fazer no governo. Pessoalmente sou otimista com o Brasil em um novo governo Lula. O que o povo espera não é apenas um governo de transição para retomar plenamente a democracia, o povo vai exigir as mudanças sociais e econômicas que Lula tem defendido. O desafio é enorme: Lula não será comparado com Bolsonaro, mas com ele próprio, com o que ele fez nos seus dois primeiros governos. Considero que a situação econômica não é pior do que aquela que herdamos em 2003; principalmente em função de avanços que permaneceram dos governos de esquerda e da Constituição de 1988. Por exemplo, as reservas em dólares de US$ 360 bilhões, que deixa o Brasil mais autônomo em relação ao capital financeiro internacional; o nosso Estado Social – saúde, educação, previdência, leis trabalhistas, assistência social, sistema público de emprego -, apesar de maltratado por Temer e Bolsonaro permaneceu, no fundamental, intacto, porque são conquistas amplamente constitucionalizadas; Lula rapidamente vai mudar a política externa, e reinserir, de forma autônoma, o Brasil no mundo; algumas estatais foram mantidas, e tenho esperança que Lula reestatize a Eletrobras; temos uma inflação muito pressionada, mas não temos a hiperinflação da Venezuela e Argentina; teto de gastos e reforma trabalhistas serão mudados.

5-BRASIL PRECISA DE UM NOVO PROJETO NACIONAL. Lula, para justificar as alianças ao centro, tem dito que além de ganhar a eleição para retomar plenamente a vida democrática é preciso garantir a “governabilidade”; veja o número de votos que precisamos somente na Câmara dos Deputados: 171 para evitar o impeachment; 259 para aprovar projetos de lei; e 308 para aprovar emendas constitucionais (para acabar com o teto de gastos, por exemplo).Claro que governabilidade institucional deve se combinar com a governabilidade popular; ou seja, o governo terá mais governabilidade no plano institucional será tiver o apoio popular. Tenho certeza, neste sentido, de que Lula não fará um governo anti-empresários; mas não vai permitir o massacre dos direitos dos trabalhadores e de suas organizações e vai resgatar as condições para a emergência dos velhos e novos momentos sociais. Mas, além de alianças para vencer a eleição e para governar, eu acrescentaria um terceiro e ainda maior desafio: é preciso consolidar uma aliança poderosa que construa e sustente nos próximos anos e décadas um novo “projeto nacional”, que dê continuidade às grandes conquistas dos governos de esquerda. Numa democracia não tem jeito: existe a rotatividade no poder e conquistas não serão mantidas com eleição por tempo indeterminado de governos de esquerda; é preciso criar um grande apoio às conquistas de tal forma que governos de centro direita (espero que a extrema direita não volte novamente ao poder) não consigam efetuar retrocessos expressivos. Lula deverá voltar à presidência da República, e, se tiver saúde, deverá lutar por mais quatro anos. Oito anos com a enorme liderança de Lula será um tempo onde será possível construir um novo projeto nacional. Muitos dirão que isto é impossível, mas veja só: o projeto varguista, que não é nosso sonho, mas que teve um papel fundamental em nosso país, com a industrialização, direitos trabalhistas e previdenciários e grandes estatais, durou 50 anos, de 1930 a 1980. José Luís Fiori, mostra como a “gangorra política” destruiu a Argentina, onde alternaram trabalhismo e ultraliberalismo, e os avanços não tiveram continuidade. O Brasil está entrando nesta “gangorra”: Collor e FHC trabalharam pelo fim da Era Vargas; Lula e Dilma retomaram uma agenda nacional de esquerda; Temer e Bolsonaro vieram com tudo para destruir as conquistas de nossos governos; e agora no governo vamos demorar uns dois anos para desfazer os retrocessos. É preciso interromper esta “gangorra política” e o enorme enfraquecimento do neoliberalismo e a emergência de uma política de fortalecimento do Estado, mesmo nos países centrais, poderá impactar fortemente também no Brasil.

6-NÃO GOSTO DA EXPRESSÃO “NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTE PAÍS”; PRECISAMOS RESGATAR OS PACTOS PROGRESSISTAS DA HISTÓRIA BRASILEIRA. Não gosto da expressão muito utilizada pelos petistas: “Nunca antes na história brasileira”. Precisamos destacar “o que fizemos que outros governos não fizeram”, mas precisamos falar também “o que outros governos fizeram e que demos continuidade”. Três grandes pactos progressistas na história brasileira: a) o pacto varguista, que divergimos naquilo que implicou em autoritarismo, deixou como legado aos brasileiros os direitos trabalhistas e previdenciários; industrialização e grandes estatais como a Petrobras; b) o pacto liderado pelo MDB de Ulysses Guimarães, que liderou a aprovação da Constituição de 1988, que implantou o Estado Social em nosso país: SUS, Educação, INSS, constitucionalização dos direitos trabalhistas e assistência social como política pública; c) o pacto Lulista – nos dois primeiros governos de Lula e o primeiro Dilma -, grande avanço dos direitos sociais; maior autonomia do Brasil em relação ao mundo com as reservas em dólar; fortalecimento das estatais, como no caso do pré-sal; distribuição de renda e democracia.(…) Até mesmo nos governos do PSDB devemos resgatar alguns legados, que me parece dão sentido inclusive à aliança com Alckmim: o Plano Real naquilo que acabou com a inflação (a inflação acumulada em 28 anos de Plano Real é de 998%, contra impressionantes 2.700% em 1993, ano que antecedeu ao Real); Fundef; programa Saúde da Família; quebra de patentes de remédios, etc. Um novo projeto nacional deverá, portanto, partir do reconhecimento do PT dos pactos progressistas que tivemos no Brasil; evidentemente adaptados aos grandes desafios de nosso tempo.

7-CAMPANHA SERÁ AFIRMATIVA: O BRASIL FELIZ DE NOVO! A expressão “Lulinha, paz e amor” é uma construção genial de Duda Mendonça e de Lula na campanha de 2002, que inverteu completamente a lógica política das campanhas eleitorais. Tradicionalmente, governos fazem campanha afirmativas, mais simpáticas, defendendo seus legados e a continuidade; já a oposição faz campanha negativa, mais antipática, criticando a falta de realizações dos governos e defendendo as mudanças. O que Lula fez em 2002 foi genial e inverteu a lógica política tradicional: já que o Brasil queria mudanças, a população rejeitava o segundo governo FHC, Lula passou a fazer uma campanha essencialmente propositiva, o “Lulinha, paz e amor” fortemente vinculada às mudanças que o povo queria. Já a candidatura de José Serra, ao contrário, foi obrigada a assumir a campanha negativa de atacar Lula. Esta inversão tem uma lógica: se a população quer mudança, se a oposição faz uma campanha essencialmente negativa acaba subestimando a vontade popular que já é mudancista. É como se o povo dissesse: “Mudar o governo já quero, o que você da oposição me oferece para o futuro?”. Esta estratégia paz e amor, foi nossa diretriz em Contagem de forma radical, sendo que Marília nas três eleições que disputou nunca, nunca mesmo, seja em folhetos, carros de som e na TV, citou seus adversários, desconheceu os adversários e apostou na mudança. A campanha afirmativa tem sim um potencial crítico, negativo implícito. Por exemplo se afirmamos que queremos um “Brasil feliz de novo” estamos dizendo que o Brasil não está feliz. Lula, provavelmente, fará uma campanha essencialmente afirmativa, mas como Bolsonaro não é “cachorro morto” deverá manter doses certas de críticas, de campanha negativa, para manter a campanha propositiva.

8-PT PRECISA LIDERAR, NÃO SUBSTITUIR A FEDERAÇÃO E A FRENTE POLÍTICA. Tenho visto atividades da Federação e da Frente de apoio a Lula em que, muitas vezes, parece que estamos em uma reunião do PT. Por exemplo, no ato de lançamento de Lula em Contagem, o locutor não parava de fazer apologia do PT, como se estivéssemos não em uma atividade ampla, mas em uma reunião partidária. Temos agora uma situação nova e nós petistas temos que nos acostumar com isso. Foi criada uma Federação Partidária pelo PT, PCdoB e PV; a Frente que apoia Lula é mais ampla ainda (PT, PCdoB, PV, PSB, PSOL, REDE E SOLIDARIEDADE). Claro que numa Frente ou numa Federação as legendas partidárias tem pesos diferentes, bases sociais e políticas diferentes, uns partidos são maiores outros menores, e é justo que o PT tenha uma liderança tanto na Federação quando na Frente de apoio a Lula. Liderar é uma coisa, o que não podemos é substituir os outros partidos; é estreitar as atividades nos atos amplos. Em outras palavras: podemos e devemos liderar e não substituir os partidos aliados.

9-NÃO PODEMOS HOSTILIZAR QUEM VOTOU EM BOLSONARO EM 2018; CERCA DE 13 A 15 MILHÕES DE EX-BOLSONARISTAS ESTÃO COM LULA AGORA. Pelas pesquisas que tenho visto estimo que de 13 a 15 milhões de eleitores de Bolsonaro declaram voto atualmente em Lula. Não podemos fazer disputa como se estivéssemos há 4 anos atrás. Não tem sentido frases do tipo: Eu avisei, Esta culpa eu não carrego; expressões como Gado; isto irrita e não vira voto.(…) É um erro não disputar de forma ampla o eleitorado evangélico. Lula, nas pesquisas, está com intenção de voto muito próxima de Bolsonaro, e nossa mensagem aos evangélicos deve ser de aposta na mudança, no voto baseado numa agenda econômica e social e não de valores morais. Nossa disputa é contra o núcleo duro do bolsonarismo de 10% a 12% da população, quer defende a volta da ditadura militar e o programa ultraliberal de Bolsonaro e Paulo Guedes. Em síntese: não podemos fazer campanha para as bolhas; para os convertidos; é preciso fazer uma campanha de massas que tome as ruas de nosso País. E é bem provável que poderemos ter, com uma estratégia ampla, uma campanha de massas como nunca se viu no Brasil por dois motivos: vontade popular de derrotar a extrema direita e como descompressão da pandemia e vontade das pessoas se encontrarem novamente. Imagino que teremos na Praça da Estação, em BH, por exemplo, em um grande comício de Lula e Kalil 100, 200 mil pessoas protestando, se confraternizando e lutando por um Brasil feliz de novo.

10-CAMPANHA VIRTUAL, E TAMBÉM NA TV E NAS RUAS. Uma campanha de massas de Lula presidente precisa calibrar melhor o peso das diversas mídias: TV, rádio, mídias sociais e mídias tradicionais. São mídias que são importantes de acordo com o público que se quer atingir e que se complementam em muitos casos. As mídias sociais são fundamentais, são hoje a principal mídia das campanhas de massas, mas sem campanha de rua não teremos a captação da emoção trazida para dentro das redes sociais; teremos propaganda bem feita mas somente com os recursos técnicos e sem o calor humano. Campanha de rua precisa de palanque, carro de som, panfletos, jornais, adesivos, bandeironas e bandeirinhas, sitru e adesivo para carros. Não dá para ter campanha para olhar o eleitor e a eleitora olho no olho sem as mídias tradicionais. E a TV e o rádio continuam como importantes frentes de publicidade das campanhas.

José Prata de Araújo é economista.

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