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José Prata: Contagem, com Marília, tem “explosão” da vida comunitária. Por que?

Recentemente, o PT Contagem fez uma grande reunião e criou o Setorial de Cultura. Todos os presentes destacaram a efervescência cultural em nossa Cidade neste terceiro governo Marília Campos. Impressionante de fato: é cultura, festa, lazer e esportes o ano inteiro. Sempre com os espaços públicos lotados. Há alguns meses atrás redigi um artigo, comentado pelo meu parceiro Ivanir Corgosinho, para tentar entender o porquê da “explosão” da vida comunitária em nossa Cidade. Veja a seguir a íntegra do artigo que publiquei em meu perfil no facebook.

Contagem, com Marília, tem uma intensa vida comunitária; é uma cidade mais bonita, alegre, vibrante e feliz, com a retomada de uma tradição de ocupação popular dos espaços públicos dos dois primeiros governos da petista, especialmente do segundo mandato, de 2009 a 2012. Por que isso ocorre? Estou “curioso”, “intrigado” com o que está acontecendo em nossa cidade. Não acho correto análises “personalistas” de grandes eventos políticos, sociais e culturais. Marília é uma grande liderança política, mas ela não “cria”, não “inventa” movimento social, como o que estamos vendo em Contagem.(…) Gosto demais das análises de Wanderley Guilherme dos Santos, nosso maior cientista político, que caracterizou Lula como “o intérprete dos desassistidos”. Acho que Marília é, acima de tudo, uma “intérprete”, dá “voz”, na expressão que ela usou quando discuti com ela este artigo, aos “sonhos”, “sentimentos”, “desejos” e “necessidades” de milhares de contagenses. Mas para que estes sentimentos “espontâneos” se transformem em realidade, Marília, como toda liderança política, precisa exercer uma sólida condução política do movimento social. Precisa reunir forte apoio político e social para vencer grandes batalhas, como a vitória heroica que teve na eleição que a conduziu ao terceiro mandato na Prefeitura. Precisa arrumar as finanças da cidade para garantir investimentos e políticas públicas em todas as áreas, como saúde, educação, saneamento, de tal forma que as políticas de cultura, lazer e esportes se integrem a um grande projeto de cidade e não sejam uma “maquilagem” para enganar e distrair o povo. Precisa montar equipes de governo com imaginação, criatividade e capacidade de gestão para colocar em movimento milhares de pessoas em todas as regiões. Precisa apostar na valorização de velhos talentos na cultura e nos esportes e, ao mesmo tempo, apostar em novos talentos.

Mas por que esta “explosão” de alegria nas ruas de Contagem e não em outras grandes cidades? Difícil de explicar. Nas quatro revistas de balanço dos dois governos da petista, que publiquei em 2012, coloquei como centralidade da minha análise: “Marília humanizou a cidade desenvolvimentista”. Contagem, cidade conurbada com a capital mineira, na “divisão do trabalho” foi “eleita” no passado para ser a “Cidade Industrial”, cidade desenvolvimentista, um lugar para se morar e trabalhar; já Belo Horizonte, a “Cidade Jardim”, foi preservada mais para os serviços públicos e privados e para uma grande variedade de equipamentos e meios de cultura, com muitos teatros, cinemas, casas de espetáculo, estádios de futebol. O Hino de Contagem é bonito, mas a letra é “economicista”, só fala de desenvolvimento e trabalho. O que Marília fez? Ela se comoveu com a alma “sufocante” de nossa cidade, com pouquíssimas alternativas de cultura e de lazer; e que estas políticas, sem uma presença expressiva do setor privado, dependiam demais dos investimentos públicos. E Marília apostou que a “rua” seria o espaço para desabrochar a cultura, o esporte e o lazer em nossa cidade. Sofreu um duro combate da direita e até de segmentos de esquerda e construiu e reformou praças, parques, ginásios, quadras, implantou academias da cidade. Um exemplo dramático da esquerda foi uma cartilha do SindUte municipal, então oposição ao PT, em 2008, com a crítica a “Marília das praças”. Na época escrevi um texto recomendando aos estranhos “esquerdistas” que estudassem o livro “O direito à preguiça”, de Paul Lafargue. Foi assim, portanto, que Marília “humanizou” a cidade desenvolvimentista: captou a “opressão” da alma dos contagenses; apostou na cultura, no lazer e nos esportes, e na beleza, na alegria e na felicidade; construiu e reformou grandes equipamentos públicos; convocou o povo às ruas; e ainda montou uma rede de barracas da economia solidária, que dá um charme de cidade do interior para nossa cidade. Contagem está “feliz de novo!”. E importante: Marília liderou uma “explosão” da vida comunitária, sentido maior da existência das cidades. Impressionante!

Lideranças como Marília e Lula são praticamente ‘insubstituíveis’, porque elas representam um pouco da “alma” de uma cidade e de um país. Milhares de pessoas amam Contagem, “governada pela Marília” e milhões de pessoas amam o Brasil, “governado pelo Lula”. São lideranças raras que aparecem de tempo em tempo, tempo de uma década e até de um século. E quando estas lideranças aparecem, as pessoas não querem se “separar”, “desgrudar” delas. Lula, ao 76 anos, pode voltar a ser presidente do Brasil; Marília já está no exercício do terceiro mandato. Falo sempre com Marília: “Até o final de sua vida, milhares de contagenses vão querer ser governados por você. Como o mandato não é vitalício, muitos irão defender que passar o bastão por 4 anos será apenas para “esquentar a cadeira” para você voltar novamente”. Marília sempre cita a frase: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Entrar na política e não saber como sair devido ao amor do povo; este é um “dilema” que a Marília vive. Que dilema fantástico e delicioso!

IVANIR CORGOSINHO: “A FESTA É A CONQUISTA, EM SUA PLENITUDE, DO DIREITO À CIDADE”

Publiquei o texto “Contagem, com Marília, tem “explosão” da vida comunitária. Por que?”. Meu amigo Ivanir Corgosinho, com quem discuti alguns aspectos do meu texto, escreveu um longo comentário sobre a vida comunitária em nossa cidade. No meu texto tratei dos aspectos mais locais da vida comunitária; Ivanir, além dos aspectos locais, discute uma base teórica para as “festanças” da população de Contagem, que ele, resgatando o francês Henri Lefebvre, diz ser a “essência” da vida urbana e a conquista “em plenitude” do direito à cidade. Veja o texto do Ivanir:

“Como conversamos, minha sugestão de explicação para esse fenômeno é a demanda reprimida. É preciso ter em mente que o conversar, o se encontrar e o se divertir são funções essenciais à vida social e fenômenos intrínsecos às culturas humanas, provavelmente, desde antes do surgimento das cidades. Ao longo dos séculos, a festa tem sido o lugar privilegiado para a realização dessas funções e não é sem razão que autores de referência nos estudos das questões urbanas, como o francês Henri Lefebvre, acreditem que recriar e reinventar as festas populares seja uma prioridade para os governos municipais como meio de conter a crescente mercantilização da vida. “Mais que essência da vida urbana, a festa é também meio pelo qual se conquista, em sua plenitude, o direito à cidade”, escreveu Lefebvre.

No Brasil, as festas populares e seus preparativos, fazem parte de nossa cultura urbana desde a Colonia, e os espaços públicos (a exemplo da rua e da praça) têm sido os locais por excelência para a realização dessas festividades. A historiadora Mary Del Priore realizou um belo estudo sobre este assunto e recomendo seu livro “Festas e Utopias no Brasil Colonial”. Claro que, nos maiores centros, foram construídas determinadas estruturas de suporte para algumas manifestações da vida social (como os teatros, as arenas, os estádios, as quadras nas escolas, os cinemas, etc) que contribuíram para esvaziar os encontros massivos na rua.

Com isso, certas tradições acabaram “domesticadas” nesses centros, e até se perderam. Mas, elas ainda podem ser encontradas em cidades menores pelo país afora e, mesmo, nos bairros de periferia das grandes cidades.

Contagem seguiu um caminho diferenciado. Década após década, nosso município foi tratado tanto pela iniciativa privada quanto pelo Poder Público como um “bairro operário” – um lugar onde se vai para trabalhar ou para dormir como você registrou e, portanto, sem um cotidiano doméstico e vizinhal. A cultura popular resistiu e sobreviveu a esse sufocamento à espera de um “demiurgo”, como diriam os velhos filósofos gregos. Foi Marília quem melhor compreendeu essa questão e quem, pela primeira vez, buscou construir os meios necessários para garantir o encontro tanto dos moradores de uma mesma região, quanto – isso é ainda mais importante – entre os moradores das diversas regiões. Foi ela quem iniciou, lá atrás, a recuperação e a ressignificação dos espaços públicos da cidade, então extremamente degradados e percebidos como lugares de violência e medo. E foi ela quem incentivou a ocupação popular e comunitária desses espaços com a adoção de políticas públicas as mais diversas e que vão desde a deliciosa obviedade do show na praça até as barraquinhas da Economia solidária.

Assim, não é de se admirar que maioria das pessoas ame Marília, nem surpreende essa adesão entusiasmada às oportunidades de encontro que a prefeita cria. Vou parafrasear Marx no Manifesto, quando ele diz que os comunistas não têm “interesses separados dos interesses do conjunto do proletariado”. Também Marília não tem interesses diferentes do povo em geral, em sua maioria pobre. Isso explica a sua liderança tão especial”.

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