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José Prata: É preciso defender nossa experiência vitoriosa e a liderança de Marília em todos os espaços e lugares

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O PT Contagem liderado pela prefeita Marília Campos, fez história no Brasil na eleição municipal de 2024. Marília é tetra, sendo eleita pela quarta vez para prefeita de Contagem; ela venceu no primeiro turno; Marília venceu nas oito regiões de Contagem, inclusive nas regiões Nacional e Ressaca; venceu em 64 dos 66 bairros; ela foi a prefeita mulher mais votada do Brasil no primeiro turno. E, dois meses após a eleição, Marília atingiu a incrível marca de 81% de aprovação popular.

Como previmos há dois meses atrás, a polêmica “despolarização versus polarização” virou o centro do debate do Processo de Eleição Direta – PED do PT. O PT Contagem tem recebido críticas injustas e até de baixo nível. Experiências como as de Contagem, liderada pela prefeita Marilia Campos, deveria ser motivo de estudo e de orgulho para toda a esquerda brasileira – toda ela, moderada e mais radical. Mas nossa experiência está sendo desrespeitada, com afirmações que queremos “levar o PT para o centro”; despolarizar seria “estender a bandeira branca para o fascismo”; quem defende a despolarização seria uma “esquerda domesticada” e “centrista”; e tem liderança que afirma que a despolarização é “asneira”. Não pode lideranças dobrarem a aposta depois de experiências claramente derrotadas, como no caso de Belo Horizonte.

Veja só: montamos uma chapa única no PED do PT Contagem porque entendo que nossa experiência vitoriosa tem um apoio político praticamente unânime da militância de nossa cidade. Se estamos juntos em nossa cidade em defesa de uma estratégia afirmativa para derrotar a extrema direita – o resgate da “esperança de futuro -, não tem porque adotarmos posições opostas no debate estadual e nacional. Por isso mesmo, conclamamos a unidade das forças políticas e lideranças em apoio a quem tem identidade, em todos os espaços e lugares, com nossa experiência de Contagem: Edinho, presidente nacional, Dandara Tonantzin, presidenta estadual, Adriano Boneco, presidente municipal e das chapas que dão sustentação às estas três candidaturas.

Maria Hermínia Tavares, uma das grandes intelectuais brasileiras, rasga elogios à Marília Campos e ao petismo de Contagem. Na última semana, Maria Hermínia Tavares, em artigo publicado no site do UOL/Folha, fez um surpreendente elogio à prefeita Marília Campos. Maria Hermínia analisa os governos de esquerda e de centro esquerda no mundo e de “uma minguante capacidade de governar e entregar os bens e serviços a todos os potenciais beneficiários”. Ela vincula os desafios da esquerda no mundo ao Brasil: “Em “Abundance” (Abundância), escrito a quatro mãos por Ezra Klein e Derek Thompson, influentes colunistas do New York Times e do Atlantic, respectivamente, eles sustentam que os impasses do Partido Democrata resultam de uma minguante capacidade de governar e entregar os bens e serviços a todos os potenciais beneficiários. Dito de outro modo, questões de boa gestão; de eficiência da máquina governamental; de simplificação das regras da administração pública; e de aptidão para inovar seriam cruciais quando se trata de convencer o eleitorado da superioridade das políticas progressistas. Afinal, argumentam os autores, populistas de extrema direita se alimentam não apenas do descontentamento socioeconômico como da ineficiência do governo que aspiram substituir.(…) Pelos exemplos das políticas que percorre, o livro pode parecer muito distante da realidade do setor público brasileiro. Mas a abordagem sugerida é toda outra. Parece muito próxima do que têm dito e feito lideranças novas no campo da esquerda brasileira. São os casos de Marília Campos, prefeita petista de Contagem, em Minas, já no seu quarto mandato, e de João Campos (sem parentesco), prefeito reeleito do Recife —ambos beirando os 80% dos votos no primeiro turno. A ênfase na eficiência de gestão; na entrega de bens e serviços; na prestação diária de contas pelas redes sociais; na capacidade de construir coalizões políticas amplas; enfim, na recusa das discussões que polarizam e dividem os eleitores parece apontar para o advento de soluções progressistas mais sintonizadas com as aspirações do brasileiro comum e mais distantes das “guerras culturais” tão a gosto do bolsonarismo. O desafio é replicar a experiência em níveis de governo mais apartados do dia a dia dos cidadãos”.

A histórica e promissora vitória de Marília em Contagem, ao invés do convencimento, desperta hostilidade em parte do PT Minas e do Brasil. Precisamos responder, de forma enfática, as falsas polarizações de cima para baixo e respondê-las com as experiências concretas, avançadas e vitoriosas, de baixo para cima. Experiências como as de Contagem, liderada pela prefeita Marilia Campos, que deveria ser motivo de estudo e de orgulho para toda a esquerda brasileira – toda ela, moderada e mais radical.

Veja o que disse o deputado Rui Falcão, numa carta à militância: “Nosso partido deve rechaçar os apelos à despolarização, palavra da moda que significa levar-nos a uma transição efetiva para o centro, com um forte rebaixamento ideológico, programático e organizacional. A construção de coalizões para vencer as eleições e governar não pode ser vista como contraditória com a disputa pública de hegemonia pelos partidos do campo popular. O partido não pode ser reduzido a um braço institucional do governo de frente ampla. O combate à extrema-direita somente poderá ser bem-sucedido se formos capazes de lhe fazer uma contraposição frontal, aguerrida e popular. A história nos ensina que fórmulas gelatinosas facilitam a ascensão do fascismo”.(…) Em uma entrevista, o deputado afirmou: “Não adianta ir com bandeirinha branca, porque o fascismo e seus aliados a gente não combate com flores, é preciso manter uma postura firme e radical na defesa de pautas progressistas. Acho que esse não é o caminho nem para governar, nem para recuperar a popularidade do presidente Lula”.

Rui Falcão voltou a criticar duramente a estratégia de Contagem da despolarização, no documento “Por um PT com a política no comando”. Disse ele: “Reitero a necessidade de rechaçar os apelos de “despolarização”. Essa palavra, tão usada pela mídia hegemônica, é, na prática, um instrumento para tentar empurrar o PT para o centro político, enfraquecendo nossa identidade, diluindo nosso programa e rebaixando nossa organização. Não existe neutralidade num país tão desigual quanto o Brasil. Despolarizar, nesse contexto, é abrir mão do nosso lado: o lado dos trabalhadores, dos pobres, das mulheres, da juventude, da população negra, indígena, LGBTQIA+, dos setores historicamente oprimidos e explorados”.

Valter Pomar, ao criticar as posições de Edinho Silva, diz que dizer não à polarização é coisa da “esquerda domesticada”: “A principal mensagem da entrevista de Edinho diz respeito à polarização. A lógica por detrás deste discurso é a de que política é diálogo. Uma ilusão típica da esquerda iluminista e domesticada no parlamento e demais instituições. Mas política é muito mais do que diálogo. Política é principalmente luta pelo poder. Confronto de forças. Mobilização. E se nesse confronto uma das partes polariza e a outra não, o resultado está praticamente definido desde o ponto de partida”. Valter diz que sem polarização não tem salvação para a esquerda: “Mais “fácil” apenas e tão somente se tivermos a disposição de polarizar contra o neoliberalismo das duas direitas, tanto da tradicional quanto da extrema. Especialmente em momentos de crise, sem polarização e tesão não haverá solução nem salvação para a esquerda!”.

Valter Pomar voltou ao tema da “polarização versus despolarização” no documento “Com a palavra a nação petista”: “Frente a esta situação e norteado pelo compromisso com o sistema, um setor do PT entrou no “modo direção defensiva”, temendo a polarização, adotando como leitmotiv “combater o neofascismo” e “esquecendo” o papel da direita tradicional, do neoliberalismo, do capital financeiro, do agronegócio e das mineradoras no que está ocorrendo. Este “esquecimento” explica, em parte, porque o “modo direção defensiva” não está produzindo muitos efeitos positivos: um progresso efetivo dependeria de enfrentarmos as frações dirigentes do Capital”.

O deputado Rogério Correia escreveu que quem defende a despolarização está imitando o Centrão: “Em toda encruzilhada temos de optar por um caminho. Na política, a esquerda deve se guiar pela estratégia e não aos acenos das elites, que hoje recomendam não polarização com a direita. José Genuíno tem razão, a esquerda não pode seguir o caminho do Centrão”.(…) Mais recentemente, em entrevista ao blog Diário do Centro do Mundo, Rogério Correia classificou de “asneira” a defesa da despolarização: “Eu acho que o partido está agora discutindo as suas eleições internas e precisa ter esta gana de crescer com idelogicamente firme; eu estou com Rui Falcão não é atoa. Eu acho que esta conversa de “o PT precisa ir para o centro”; o “PT precisa parar de polarizar com a extrema direita”; eu acho isto uma asneira. É entregar para o bandido o ouro. Não é característica nossa. Nós temos, com toda a amplitude necessária, firmar a nossa posição ideológica, disputar o nosso programa e melhorar a vida do povo”.

PT Contagem e Marília Campos não polarizam, mas não fogem das disputas programáticas mais duras e sensíveis na sociedade. Conseguimos muitos avanços programáticos e políticos em Contagem e nossa Frente Ampla é combativa e vibrante. Marília, com o amplo apoio dos partidos de centro, conseguiu aprovar na Câmara Municipal enormes avanços num programa de centro esquerda: a) a aprovação de um novo plano diretor, com o retorno da área rural (28% de nosso território) e preservação de Vargem das Flores; b) a aprovação de um avançado Sistema de Participação Popular, com orçamento para dezenas de obras; c) a desprivatização dos serviços públicos da saúde (Hospital, Maternidade, e cinco UPAS), e criação do SSA- Serviço Social Autônomo; d) aprovação pelos vereadores e vereadoras de empréstimos de R$ 550 milhões vinculado a um projeto desenvolvimentista para Contagem; e) a defesa do desenvolvimento com proteção do meio ambiente com uma oposição pública e forte de nosso governo contra o traçado do Rodoanel, que rasga Vargem das Flores; f) Marília realizou um diálogo forte com a Câmara Municipal, que aprovou dobrar o valor das emendas impositivas; Marília vetou a medida e conseguiu que o veto fosse mantido com os votos de todos os 20 vereadores da base de governo e também da oposição.(…) Em Contagem nossa campanha da Frente Ampla de 16 partidos foi vibrante: a) não abrimos mão da identidade avermelhada do PT, combinada com o verde amarelo, ao contrário de candidatos até radicais do PT que adotaram cores insossas para não assustar os eleitores; b) fizemos uma forte campanha de rua com 53 caminhadas, carreatas e bandeiraços; c) nossa campanha de rua “explodiu” nas redes sociais, com 76 milhões de visualizações de vídeos e 5 milhões de engajamentos nas publicações; d) não fugimos do debate dos valores, defendemos a “Cidade da diversidade” e “cultura, lazer e esportes de graça para a população”; e) e chegamos até aqui atuando com ousadia nos períodos mais duros do anti-petismo, na luta contra o golpe político parlamentar, nas duas campanhas de Marília deputada, em 2014 e 2018, o reflão do jingle dizia “Viva a alegria e a esperança com a Marília do PT” e os dois carros que, eu, José Prata, e Marília tivemos até hoje, foram vermelhos, um risco enorme no auge do anti-petismo, quando eram comuns violências contra os ocupantes dos veículos.

Cinco argumentos contra a polarização e porque é “a esperança de futuro” que derrota a extrema direita. Veja só: a) a polarização, o nós contra eles, trata os eleitores de Bolsonaro como um “bloco único”, como “gado”, como se diz, o que impede de abrir diálogo com segmentos mais moderados que votaram em Bolsonaro mas que podem ser ganhos para o voto em uma Frente Democrática; ou seja a polarização empurra eleitores de centro para a extrema direita; b) a polarização praticamente congela a correlação de forças; veja o caso do governo Lula, o presidente foi eleito com 51% dos votos e manteve, por quase dois anos, a avaliação estagnada no mesmo percentual de votos que teve na eleição. E pior: não ganhou eleitores de Bolsonaro para o nosso lado e, mais recentemente, perdeu parte dos eleitores que votaram em Lula, com a aprovação sendo reduzida para menos de 45%; c) a polarização somente interessa a oposição, que, não sendo governo, não tendo nada a mostrar, age como uma “metralhadora giratória”; governo é avaliado, majoritariamente, pela gestão, pelas entregas que faz em termos de políticas públicas e investimentos em obras; d) a polarização não é uma disputa política, é uma marcação de posição. Disputa política significa que você tem como meta tirar apoiadores do outro lado; quem polariza não dialoga porque o objetivo não é convencer gente do outro lado, mas crescer entre os apoiadores da bolha progressista. A polarização interessa à representação parlamentar individualizada que temos no Brasil, é autofágica, porque visa disputar apoio e votos com os companheiros do próprio partido, que os ameaça na eleição; a polarização não interessa às lideranças majoritárias, que precisam ser mais consensuais para vencerem as disputas majoritárias; e) a polarização é perigosa mesmo que o governo volte à situação anterior de 51% de aprovação; a situação de empate é muito perigosa para quem é governo, que, sendo responsável pela gestão do país, fica exposto às variações conjunturais (repiques de inflação, câmbio, emprego, preços dos alimentos) que podem levar à derrota.(…) Mauricio Moura, do Instituto Ideia, realizou um estudo, que mostra que os governantes perderam 17 das 21 últimas eleições no mundo. Na minha opinião, este dado é uma confirmação empírica de que a polarização não é favorável a quem governa, cuja avaliação depende das entregas concretas de políticas públicas e darem “esperança de futuro” para a população. Mais à frente transcrevo três depoimentos que falam de esperança: José Luís Fiori, Pepe Mujica e nosso companheiro Juarez Guimarães.

O Brasil precisa olhar para Contagem; o PT precisa compreender como Marília, em uma grande cidade do Sudeste, tem 81% de aprovação popular; nosso segredo é os dois pês: propósito e pertencimento. Adotamos em Contagem a política baseada nos “dois pês”, “Propósito e Pertencimento”, sugerida por Alon Feuerwerker: “Sem subestimar a economia, tampouco é demais olhar para aspectos mais subjetivos dos mecanismos de produção de opiniões políticas. O capital político dos governos sempre se beneficia de dois pês: propósito e pertencimento. Quando está claro a que veio o governo, e quando ele passa a sensação de querer o bem de todo mundo, e não só de sua turma. Acirrar as contradições e estimular a guerra de todos contra todos pode ser útil para reforçar o poder momentâneo, mas um efeito colateral é produzir sensação de exclusão em áreas que o andamento da economia pode até, eventualmente, estar beneficiando. Por isso se diz que a política tem de andar de mãos dadas com a economia, para que a safra eleitoral não decepcione”. (Poder 360, 17/3/2024).

É isto que sentimos em Contagem. Marília Campos tem uma aprovação de 81% da população porque se beneficia dos dois pês: do propósito, pois está claro a que veio o governo, com um gigantesco plano de investimento e avanços muito grandes nas políticas públicas, especialmente na saúde. Marília se beneficia também do pertencimento; ela não polariza, ela governa para todos e todas e seu governo gera esta enorme sensação de pertencimento. Nas mídias sociais da Marília quem a defende não são os funcionários do governo, mas pessoas do povo; nas ruas ela é saudada pela população e nunca sofreu escracho político.(…) Numa das pesquisas que circulou em nossa cidade, podemos ver os números impressionantes de 81% segundo os diversos critérios da amostra. Veja só: a) Marília tem 81% de aprovação, sendo 81% entre mulheres e homens; b) por idade varia de 79% a 83%; c) por escolaridade varia de 78% a 84%; d) por renda varia de 79% a 86%; e) por religião tem 78% de aprovação entre os evangélicos e 83% entre os católicos; f) por ideologia tem 79% de aprovação de pessoas que se definem como de “direita”, 82% nas pessoas de “centro”, e 89% nas pessoas de esquerda. Alguns sectários afirmam que Marília é muito popular porque tem o apoio de muitos eleitores de “direita”. Ora, Lula, em 2010, terminou o governo com 80% de aprovação e todos nós o saudamos, com razão, de o “cara”, o presidente mais popular do mundo.

É um falso debate qualificar quem defende a despolarização da sociedade como sendo o caminho do PT romper com sua trajetória de esquerda e ir para o centro. Veja um longo depoimento de Edinho Silva, candidato a presidente do PT: “Não existe a menor chance do PT ir para o Centro. Isso é um falso debate. Como é que um partido que está umbilicalmente ligado aos excluídos, aos pobres, àqueles que não têm vez e voz. É um dos partidos dos movimentos sociais, dos trabalhadores. Eu penso, inclusive, que além de ser o partido dos empregados organizados em sindicatos, que sejamos o partido dos trabalhadores que não estão hoje representados. É o partido das pautas identitárias, do conceito de democracia ampla. Como esse partido vai para o Centro?. O que nós temos é que representar os setores que representamos, mas conseguirmos dialogar com setores sociais que estão se distanciando de nós. Esse é o grande desafio do PT. Não é se afastar dos seus. É manter o pé firme no nosso campo, mas entender que precisamos dialogar com uma parcela da sociedade importante que está se distanciando de nós. A classe média operária, que gerou a massa crítica que pariu o PT, a CUT, os partidos de esquerda e a redemocratização do Brasil. Essa classe média operária está diminuindo e tem uma outra classe trabalhadora se formando que estamos com muita dificuldade de dialogar com ela. Quando a gente não dialoga com essa classe trabalhadora com a realidade dela, ela vai para o antissistema. E o que a gente tem que ter claro? O voto antissistema é da Direita, não é nosso. A esquerda sempre defendeu o Estado – “diferentemente do marxismo que defende o fim do Estado” – e que hoje é preciso debater uma “reforma” desse Estado. Outra questão que temos que colocar na agenda é a reforma do Estado. É evidente que existe um distanciamento entre representante e representado, entre Estado e sociedade civil. E este distanciamento está virando um abismo. Você vai para a periferia e conversa, especialmente com a juventude, que entende que a política é ascensão social, que quem está na política está para ficar rico. Aquele encantamento com a política como instrumento de mudança da realidade, de transformação, esse encantamento se perdeu. E nós precisamos recuperar esse encantamento e não é com discurso. É com ações concretas. Primeiramente de diminuir esse distanciamento. As pessoas precisam entender que nós somos instrumentos da luta para transformação da vida delas, é preciso que haja um reencantamento pela política como instrumento de transformação e representatividade”. (Fórum, 18/11/2024).

João Batista dos Mares Guia, num diálogo que realizamos, se convenceu da nossa estratégia da despolarização política. Fomos eu, José Prata, e o Ivanir no lançamento do livro de João Batista dos Mares Guia. Na exposição, ele elogiou muito o PT Contagem, mas fez uma reparação dizendo que a despolarização era uma experiência de Contagem mas que não se aplicava no Brasil. Fiz uma intervenção longa, de 15 minutos, defendendo que era bom para Contagem era bom também para o Brasil. No dia seguinte, ele me mandou um recado: “Acabo de assistir a gravação de sua exposição, na ocasião do lançamento do meu livro, em Contagem. Como afirmei, subscrevo-a. Sua exposição foi, além de oportuna, irretocável. Que o nosso futuro presidente do PT nacional a assista. Um abraço”.(…) João Batista dos Mares Guia, fez uma síntese notável do projeto político nosso de Contagem, “que rompe bolhas ideológicas e conquista corações e mentes pelo que entrega, não pelo que combate”. Disse ele: “O discurso de José Prata Araújo, no lançamento do meu primeiro fascículo, da coleção Brasil e Democracia, realizado em Contagem dias atrás, oferece uma leitura aguda do cenário político atual e converge com o espírito do livro: a necessidade de construir alternativas à lógica da polarização e do escracho, que têm marcado o ambiente nacional. José Prata aponta que a política afirmativa, construída com coragem e clareza de princípios, mas sem antagonismos gratuitos, tem se mostrado eficaz em Contagem. A experiência local é, assim, um exemplo concreto de como se pode governar com firmeza de posições, sem cair nas armadilhas da agressividade ou da negação do outro — postura que, no plano nacional, também inspirou os primeiros mandatos de Lula.(…) Em Contagem, as alianças com setores do centro democrático, a defesa da diversidade em moldes universalistas e a recusa ao uso da política como vingança ajudaram a construir uma base ampla, que rompe bolhas ideológicas e conquista corações e mentes pelo que entrega, não pelo que combate. José Prata toca num ponto crucial: o enfrentamento à extrema direita não se dá por mimetismo, mas pela afirmação de outro projeto de sociedade. A experiência de Marília Campos e da Frente Ampla que lidera tem demonstrado que é possível ampliar apoios, governar com estabilidade e disputar a hegemonia política sem recorrer ao ódio. Isso não significa neutralidade, mas sim uma estratégia consciente de transformação pela via do diálogo, da política pública e da esperança”.

José Luís Fiori: É a “esperança de futuro” que abrirá portas e janelas de novos tempos. José Luís Fiori iluminou a nossa militância política em Contagem e é uma das nossas principais referências teóricas do petismo local, quando fez um diagnóstico do “tempo histórico” da extrema direita, que é o fim das épocas da globalização neoliberal, que deixam um rastro de desigualdade, desesperança, guerras, conflitos políticos e religiosos, ódio e ressentimentos. No artigo “Revolta e esperança”, José Luís Fiori diz: “Vivemos uma verdadeira guerra entre duas visões da humanidade, absolutamente antagônicas e, ao mesmo tempo, no caso brasileiro, entre duas concepções opostas – de estado, de sociedade, de economia, de sustentabilidade, de cultura, de civilização e de futuro. Neste momento é fundamental que os progressistas apresentem à sociedade brasileira um projeto de futuro que seja inovador e que seja diferenciado, combinando uma verdadeira estratégia de guerra contra a desigualdade, com um projeto simultâneo de construção de uma nação, popular e democrática, e de uma grande potência pacificadora capaz de influenciar as gigantescas transformações mundiais que estão em pleno curso. É fundamental neste momento conscientizar e conquistar o apoio de todos os brasileiros para um novo projeto de futuro solidário e compartilhado por todos, capaz de vencer a distopia teológica e ultraliberal da salvação de cada um por si, mesmo que seja contra todos os demais, com a benção de Deus e a mão invisível do mercado. Nesta hora, mais do que nunca, é preciso inovar e apresentar com coragem e absoluta clareza, ideias e projetos, mas sobretudo, um “sonho de futuro” capaz de sintonizar com a imaginação e a esperança de todos os brasileiros”.(Outras Palavras, 13/10/2022).

Trabalhar pela esperança, propõe Pepe Mujica. Pepe Mujica, na campanha eleitoral do Uruguai, agora em novembro de 2024, quando o grande estadista, em discurso quase de despedida, defendeu uma visão muito parecida com a nossa de Contagem. Disse Mujica: “Porque é preciso um governo que abra o coração e a cabeça com todo o país. Não é poético o que eu digo. Alguém tem que dizer. Um velho. Não ao ódio! Não à confrontação! É preciso trabalhar pela esperança! Até sempre…lhes dou meu coração. Tenho que agradecer à vida! Porque quando esses braços se forem haverá milhares de braços. Obrigado por existir. Até sempre!”. Viva Pepe Mujica!

Juarez Guimarães, intelectual e nosso companheiro do PT Minas, e “a macro-economia da esperança”. Juarez Guimarães escreveu um longo artigo recentemente, publicado em diversos sites, denominado “A macro-economia da esperança”, onde ele defende uma estratégia essencialmente afirmativa para derrotar a extrema direita. Segue a apresentação do artigo: “A formação de uma consciência democrática-popular no Brasil, liderada pelo presidente Lula, pode mudar o cenário político e econômico do país. Há hoje um processo inicial de formação de consciência do campo democrático-popular, do qual participa ativamente a liderança do presidente Lula, que é preciso mudar. Esta formação de consciência, se decisivamente aprofundada, tem o potencial de criar as condições políticas necessárias para impor à extrema direita brasileira uma derrota histórica nas eleições presidenciais de 2026. A primeira manifestação desta consciência identificou o “campo da comunicação” do governo como necessário de ser profundamente alterado. De fato, neste campo, as esquerdas brasileiras e o campo democrático sofrem historicamente de uma desvantagem histórica e estrutural diante das mídias empresarias, profundamente agravada com a formação das redes bolsonaristas e da extrema-direita em geral na internet. Diante delas, identificou-se corretamente a ausência de um sistema e uma dinâmica pública que permitisse ao governo e, em particular, à liderança de Lula comunicar-se diretamente com a maioria do povo brasileiro neste novo contexto de desinformação e de extrema polarização”.

Continua Juarez: “Em um segundo momento, e vinculado a esta consciência em formação, construiu-se a formulação de que faltariam ao governo “marcas populares”, que estabelecessem com nitidez a identidade do governo e que contrastassem com a extrema direita e a direita neoliberais. Na ausência delas, haveria uma dificuldade de apropriação política pública e na base social democrático-popular dos avanços conquistados pelo governo. Mais além da comunicação, portanto, haveria uma necessidade de concentrar e dar dinamismo a algumas agendas políticas e políticas públicas, mais importante ainda em um governo de ampla coalizão com partidos e lideranças conservadoras. Já há, decerto, um terceiro momento de formação da consciência que identificou na ação do Banco Central sob a direção do bolsonarista Roberto Campos um movimento altista dos juros e de especulação com o câmbio, fomentadores da recessão e da inflação, e que exigiu a formação imediata – mesmo que muito iniciais e limitadas – de ativação do crédito, da renda ( permissão de saque do FGTS para demitidos que aderiram ao saque-aniversário, que se calcula tem um potencial de ativar 12 bilhões de reais na economia), e, principalmente, medidas iniciais de controle da inflação de alimentos ( redução de impostos sobre importação, pressão para que os estados adiram a um redução do INSS da cesta básica). O governo Lula está cumprindo também a proposta feita na campanha de isentar do pagamento do imposto de renda aqueles que recebem até cinco salários mínimos, aliviando de 25% a 75% em escala progressiva os que recebem de 5 a 7 mil reais por mês e taxando mais aqueles que recebem mais de 50 mil por mês. A pesquisa Datafolha de 10 de abril registrava um apoio de mais de 70% dos brasileiros a estas medidas.(…) Há, portanto, indícios iniciais e mesmo limitados do que se poderia chamar da consciência de uma macro-economia popular e dos trabalhadores, que se chama aqui de “macro-economia da esperança”, ou seja, aquela incontornavelmente necessária para restabelecer e até ampliar o circuito da esperança que vincula a maioria do povo brasileiro à dinâmica e futuro do governo Lula”.

José Prata Araujo é economista.

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