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José Prata: Histórico! Lula e Fernando Haddad conseguem “pautar” a secular desigualdade brasileira

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Em artigo recente defendi, com base na experiência da prefeita Marília Campos e do petismo de Contagem, que o PT deveria sair da defensiva no debate dos “valores” e da “cultura” e defender o “Brasil da diversidade”, esvaziando a guerra política e cultural, e centrar a agenda política na questão programática: democracia, desenvolvimento econômico, Estado Social e soberania nacional. Este é caminho para a vitória em 2026, menos guerra política e mais debate programático. E temos que comemorar um fato histórico sem precedentes na história brasileira: pela primeira vez, em séculos, Lula e Fernando Haddad estão conseguindo “pautar” a desigualdade histórica em nosso País; representada, por exemplo, pela quase isenção de impostos dos bilionários. O pacto social brasileiro está esgotado. Temos o mais robusto Estado Social dos países em desenvolvimento – educação, saúde, previdência e legislação trabalhista, mas o financiamento deste Estado Social é profundamente regressivo, o que anula em parte os ganhos das políticas sociais. Agora, a manutenção do Estado Social – de cada um de acordo com sua capacidade e a cada um de acordo com sua necessidade – requer que a tributação seja mais progressiva para a sustentação dos direitos sociais.

Fernando Haddad disse, certa vez, que a esquerda não quer cortar gastos e a direita não quer pagar impostos; lideranças de esquerda majoritárias – prefeitos, governadores e presidentes – sabem disso: é preciso fazer as duas coisas. Fernando Haddad apanha muito, da esquerda e da direita, mas ele tem razão: quem tem tarefas concretas no Poder Executivo – prefeitos, governadores e presidentes – sabe que é preciso enfrentar as resistências e fazer as duas coisas: a) gestão forte das despesas, por exemplo, tratar dos supersalários do setor público; da previdência de capitalização, um privilégio inaceitável que é poupança para poucos servidores às custas de toda a sociedade, e b) cobrar impostos dos mais ricos; e claro: é preciso trazer a taxa de juros para baixo, no máximo para o percentual do crescimento da economia para estabilizar a dívida e favorecer os investimentos públicos e privados e para favorecer o crescimento sustentado da economia.(…) E, politicamente, conseguir “pautar” a desigualdade brasileira será fundamental para 2026. Eleição se ganha não é apenas com nomes; quem “pauta” a disputa, quase sempre vence as eleições. E, neste momento, quem sabe, estamos consolidando duas candidaturas presidenciais: Lula, se tiver bem de saúde como ele diz, será o candidato, e Fernando Haddad poderá ser a alternativa para a continuidade do legado de Lula e ser a grande surpresa em 2026. Ou seja, teremos na reserva atualmente um craque, Fernando Haddad, que, se precisar, poderá também entrar em campo e decidir o jogo em favor da esquerda.

A polarização “ricos versus pobres”, no caso do IOF, empolga a militância mas tem efeito mais limitado junto nossa base social mais pobre; as mudanças no imposto de renda visam fazer um “diálogo social” com a classe média, especialmente do Sudeste, que será fundamental para nossa vitória em 2026. Fernando Haddad é muito criticado pela formulação do “arcabouço fiscal”, mas não existe política econômica do ministro, a política econômica é de Lula. O ministro acerta em fazer uma gestão de gastos, mantendo no “arcabouço fiscal” a essência de nosso Estado Social, mantendo e ampliando programas sociais e, portanto, dialogando com os mais pobres, maior base histórica dos governos de esquerda de nosso país. O IOF é para isso: tributar mais os ricos para manter os direitos dos mais pobres e manter o equilíbrio das contas públicas. A polêmica do IOF precisa ser tratada junto com a do Imposto de Renda. Isto porque, o IOF é para garantir a manutenção do “arcabouço fiscal”; já as mudanças no imposto de renda têm um caráter distributivo muito forte: tributa os milionários e bilionários e isenta e cobra menos imposto da classe média.(…) Fernando Haddad, em seus depoimentos civilizatórios, na questão da tributação faz, corretamente, um discurso voltado também para a classe média, porque quem será favorecido com a isenção de imposto de renda até R$ 5.000,00 e redução dos impostos até R$ 7.000,00 serão a ampla classe média que temos no Brasil. Por isso mesmo o ministro fala sempre dos 25 milhões de brasileiros que deixarão de pagar ou pagarão menos imposto de renda – na expressão de Haddad são “professores, policiais militares, bombeiros” e os que pagarão mais imposto de renda, uma alíquota mínima de 10%, serão apenas 141 mil brasileiros endinheirados. Fernando Haddad com o imposto de renda poderá se livrar do “Taxad” e se transformar no “Hobbin Hood” da distribuição da renda.

Veja que impressionante: a) 76% dos simpatizantes de Lula quanto de Bolsonaro são favoráveis à isenção e redução do imposto de renda para os mais pobres e tributação dos mais ricos; b) portanto, esta política é histórica porque “pauta” a secular desigualdade brasileira; tem apoio de eleitores de Lula, fura a “bolha” e tem amplo apoio de eleitores de Bolsonaro; c) a política para o IR tem apoio de 88% dos deputados federais, porque os deputados do Centrão são ricos, mas seus eleitores são pobres e de classe média; e, por isso, a guerra será pela compensação da receita e tributação dos mais ricos; d) a isenção do imposto de renda, portanto, abre um diálogo social amplo com a classe média, especialmente do Sudeste e abre a possibilidade de uma Frente Ampla social, com a retomada da aliança dos mais pobres e da classe média como aconteceu nos dois primeiros governos de Lula e como acontece em minha cidade, com a liderança de Marília Campos em Contagem; e) portanto, o eixo de nossa política não deve ser a polarização “ricos e pobres” que não dialoga com classe média, mas a “despolarização social” do Brasil, com a tributação dos mais ricos, redução forte dos juros, com a redução da pobreza e o crescimento e fortalecimento da classe média.

A classe média só vai aceitar uma tributação mais progressiva se isto começar pelos super-ricos; e importante no projeto de Lula: é a classe média que será a mais favorecida com “redistribuição” tributária do Imposto de Renda. Lula e Fernando Haddad estão lançando as bases para uma aliança entre os mais pobres e a classe média. No debate do IOF é a disputa de “ricos versus pobres”, ou seja, é preciso cobrar IOF dos ricos para minimizar os cortes nos direitos sociais dos mais pobres. E com o projeto do Imposto de Renda será, na prática, “ricos versus classe média” porque a “redistribuição” tributária é dos ricos para as pessoas de classe média, ou como diz Fernando Haddad as pessoas favorecidas serão “os professores, os policiais, os bombeiros”, etc. Mas é muito importante, como vem acontecendo, que os temas – IOF e Imposto de Renda sejam tratados de forma conjunta para dialogar com os pobres e com a classe média.

Fernando Haddad sempre diz que o Brasil foi o último país do mundo a acabar com a escravidão; ele cita também a desigualdade gerada pelos impostos como também uma questão secular. E por que somente agora, estamos conseguindo “pautar” a desigualdade da carga tributária? (…) Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda, em um interessante artigo sobre a desigualdade no Brasil, explicou sociologicamente a classe média aqui e no mundo. Disse ele: “Em um texto de 2016, Gabriel Palma, da Universidade de Cambridge, apontou que a desigualdade é uma escolha política, não um resultado de forças externas à sociedade. Palma analisou a distribuição pessoal de renda em 129 países, dividindo cada sociedade em três grupos: mais pobres (40% na base da pirâmide), classe média (os 50% seguintes) e os ricos (os 10% no topo). Segundo Palma, há uma regularidade na maioria dos casos: a classe média detém aproximadamente 52% da renda pessoal, independentemente do grau de desigualdade do país em questão. Onde a desigualdade é alta, os ricos têm uma parcela elevada do total da renda, enquanto os pobres têm uma parcela reduzida. Onde a desigualdade é baixa, os ricos têm uma parcela menor, e os pobres, uma parcela maior do bolo. Nos dois casos, a classe média tem cerca de 52% da renda pessoal.(…) Minha interpretação dos resultados de Palma é que, onde a desigualdade é alta, a classe média aceita que os ricos sejam muito ricos desde que os pobres sejam muito pobres. Já onde a desigualdade é baixa, a classe média aceita que os pobres sejam menos pobres, desde que os ricos não sejam tão ricos. A “tolerância à desigualdade” de cada país reflete, portanto, sua preferência de renda relativa. Onde a desigualdade é alta, caso do Brasil, a classe média tolera a riqueza excessiva desde que sua renda também seja excessiva em relação aos mais pobres”. (Folha S.Paulo, 29/09/2019).

Bingo! Considero esta formulação de Nelson Barbosa uma chave para explicar porque tamanha adesão da classe média a redistribuição através do imposto de renda. Ou seja, um projeto de esquerda para ter uma maioria social precisa fortalecer o Estado Social para preservar os mais pobres e precisa também redistribuir renda através do imposto de renda; ou seja, para ganhar a classe média para uma política tributária é preciso começar pela maior oneração dos milionários e bilionários. E no Congresso Nacional precisamos entender o seguinte: os parlamentares do Centrão são vinculados aos ricos, mas suas bases sociais, neste país ainda tão desigual, são entre os pobres. Os mais barulhentos, representantes do agronegócio, por exemplo, não se elegem apenas com os votos dos patrões, dependem do voto dos trabalhadores rurais e moradores das pequenas e médias cidades. Estes mesmos deputados(as) que estão hoje contra Lula foram os mesmos que aprovaram historicamente todos os direitos sociais de nossos governos, que mais recentemente votaram maciçamente pela supressão da principal âncora econômica dos governos anteriores: o teto de gastos. Eles deverão votar maciçamente no aumento da isenção e redução do imposto de renda, para não contrariarem os seus eleitores, mas se oporão às medidas compensatórias com a taxação maior dos ricos e super-ricos, já que eles poderão ser afetados. É a pressão social que farão os deputados terem que mediar os seus interesses de classe com os interesses de seus eleitores.

Se o governo Lula conseguir consolidar a “pauta” da desigualdade tributária, o que está em curso atualmente, e se a economia se mantiver numa trajetória positiva, como está atualmente também, a esquerda será muito competitiva e até favorita nas eleições de 2026, com um dos dois candidatos: Lula ou Fernando Haddad. Já vimos neste texto como Lula e Fernando Haddad estão conseguindo a proeza de “pautar” a secular desigualdade brasileira, em especial na política tributária; é um processo complexo que terá muitas resistências dos mais ricos e terá ainda que ser consolidada neste ano, com a aprovação na nova legislação do imposto de renda para vigorar em 2026.(…) Outra enorme desafio será manter a economia com bom crescimento como aconteceu em 2023 e 2024 e, em 2025 e 2026, mesmo que tenha alguma desaceleração, que mantenha o crescimento acima de 2% ao ano.(…) A economia cresceu acima de 3% nos dois últimos anos, o que colocou o Brasil em destaque em relação aos últimos seis anos dos governos de direita e entre as maiores nações do Planeta. Nos dois últimos anos e cinco meses do governo Lula (2023 a 2025 – até maio) foram 4,187 milhões de novos empregos de carteira assinada. Com o mercado de trabalho aquecido, mesmo com a enorme fragilidade dos sindicatos depois da reforma trabalhista, os salários estão crescendo de forma muito expressiva. A renda e as condições de vida da população melhoram também com os programas sociais, como o Bolsa Família, reajustes reais do salário mínimo, Minha Casa Minha Vida, Pé-de-Meia e outros programas. Depois dos ataques especulativos, o dólar tem recuou expressivo para menos de R$ 5,50. A inflação, não confirmou o terrorismo do mercado financeiro, e empinou para baixo depois de subir de forma persistente no acumulado de 12 meses; inflação alta piora muito a avaliação do governo porque consome, sobretudo com os alimentos, os ganhos reais da renda. O Arcabouço Fiscal, com os ajustes feitos, está mantendo sob controle as contas do governo Lula. O Risco Brasil caiu de forma expressiva de 214 para 152 pontos. Muitas obras foram retomadas e outras iniciadas com o Programa de Aceleração do Crescimento. Tudo isso sem contar inúmeros outros avanços.

O economista Christopher Garman considera que é melhor para Lula um crescimento menor nos dois anos final de seu governo (2025 e 2026) com inflação mais controlada do que o inverso: “De todo modo, está muito claro que a inflação é o calcanhar de Aquiles do governo. Uma análise da Eurasia Group identificou que governantes perderam eleições em 2024 não por conta de uma onda ideológica da direita, mas porque os eleitores estavam insatisfeitos com o aumento do custo de vida. Foi isso que levou Trump de volta à Casa Branca e a direita ao poder na Alemanha. Logo, o maior risco para Lula é “entrar em pânico” com a queda de sua aprovação, gastar mais do que deve e acabar com um PIB maior e com inflação mais alta nas mãos. Em termos eleitorais, é melhor deixar a economia esfriar e trazer a inflação para baixo que tentar aumentar o PIB e gerar mais aumento no custo de vida- o grande algoz de todos os governantes em 2024”. (Valor Econômico, 25/02/2025). Este será provavelmente o cenário: uma desaceleração da economia de mais 3% ao ano para percentual ainda representativo acima de 2% podendo chegar a 2,5% e inflação em redução, sobretudo nos alimentos; redução gradual dos juros, o que deverá fazer de Lula ou Fernando Haddad candidatos competitivos e até mesmo favoritos nas eleições de 2026.(…) Veja que ótima notícia para o governo Lula em manchete do jornal Valor Econômico: “Inflação ajuda, e brasileiro volta a ficar mais otimista”. Diz o jornal: “Com aumento de quatro pontos, país tem terceira maior alta no índice de confiança Ipsos em junho, entre 30 países pesquisados”.(Valor Econômico 2/07/2025).

Considero que a pauta da desigualdade mais um certo vigor da economia em 2025 e 2026 poderá ser, portanto, suficiente, para viabilizar a continuidade de nosso governo de esquerda em 2026. Veja nos dois itens seguintes um balanço dos nossos governos, muito superiores em todas as áreas aos governos de centro, direita e de extrema direita. Mas defendo que o Brasil precisa avançar para um novo projeto de desenvolvimento: com forte ampliação dos investimentos públicos e privados para ter um crescimento sustentado e para continuar ampliando os direitos sociais.

Veja um balanço feito por Lula do seu governo no programa Mano a Mano: “Quem grita ‘100% ou nada’ vai ficar com nada”. O site Brasil 247 publicou passagens da entrevista de Lula ao podcast Mano a Mano. Veja a seguir.(…) Durante participação no podcast Mano a Mano, apresentado por Mano Brown e Semayat Oliveira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) respondeu de forma contundente às críticas que o classificam como líder de um governo supostamente neoliberal.(…) “Eu fui eleito presidente da República e elegi 70 deputados do meu partido. O Congresso Nacional tem 513 deputados. É só analisar para saber que eu preciso fazer composições políticas para poder governar, senão eu não consigo”, explicou o presidente, ao destacar que também conta com apenas nove senadores entre os 81 membros do Senado. “A dificuldade é imensa”.(…) Segundo Lula, a necessidade de construir pontes com outras forças políticas foi essencial para destravar medidas fundamentais ainda antes do início formal do mandato. “A gente começou a governar antes de tomar posse, porque não tinha orçamento para a gente começar a trabalhar em 2023. Nós fizemos uma PEC da Transição para que pudesse ter dinheiro para a gente começar a governar esse país”.(…) “Quem grita ‘100% ou nada’ vai ficar com nada” – Lula aproveitou a entrevista para reiterar sua identidade ideológica. “Me considero um cidadão de esquerda, mas muito realista desde o tempo em que eu era dirigente sindical”, disse, defendendo uma postura pragmática: “eu não era daqueles que ficava gritando ‘ou 100% ou nada’. Quem grita ‘100% ou nada’ vai ficar com nada. Eu reivindicava aquilo que era possível reivindicar de acordo com a força que eu tinha, e conquistava muita coisa”.(…) O presidente afirmou que sua atuação sempre levou em conta as correlações de forças no Congresso e na sociedade. “Toda vez que você governa, você não faz só o que você quer. Você faz o que você pode fazer em função da conjuntura política, da correlação de forças políticas no Congresso Nacional e na sociedade”.(…) Conquistas sociais e comparação histórica – Para rebater as críticas, Lula relembrou os avanços promovidos durante seus governos anteriores. “Eu duvido que algum governo dito de esquerda tenha feito mais políticas de inclusão social do que nós fizemos nesse país”, afirmou. E acrescentou: “nesse país tiveram dois momentos históricos que tiveram políticas de inclusão social: com Getúlio Vargas, quando era tido como ditador e criou a CLT, tirando os trabalhadores da semiescravidão, e depois do Getúlio apareceu o PT, o Lula, para fazer políticas de inclusão social”.(…) O presidente listou algumas das principais realizações de suas gestões: “fui o presidente que mais fez universidades, que mais colocou estudantes na universidade, que mais fez instituto federal, que fez o Bolsa Família, que gerou 22 milhões de empregos em oito anos de mandato”.(…) Por fim, Lula celebrou os sinais de recuperação econômica. “Eu estou há dois anos na presidência. Sabe há quanto tempo esse país não crescia acima de 3%? Desde 2011″.(Brasil 247, 19/06/2025)

É preciso defender e consolidar as conquistas sociais e econômicas dos governos de esquerda no Brasil. Nossos governos de esquerda de Lula e Dilma tiveram avanços extraordinários: crescimento econômico em percentuais acima da média do Brasil nos últimos 30 anos; redução da vulnerabilidade externa da economia; distribuição de renda; controle da inflação; desendividamento e democracia. Veja seis grandes características dos governos de esquerda no Brasil.(…) Primeira: nos governos do PT e partidos aliados, o Brasil cresceu mais. Nos últimos 30 anos do Plano Real (1995 a 2024), a esquerda governou 15 anos e os partidos de centro, direita e extrema direita governaram outros 15 anos. Pois bem, ao longo de 30 anos, o crescimento médio da economia brasileira foi de 2,34%, sendo que nos governos de esquerda o crescimento de 3,01% foi quase o dobro do crescimento nos outros governos de apenas 1,67% ao ano.(…) Segunda: o Brasil cresceu com uma forte redução da vulnerabilidade externa, que no passado quebrou o nosso país diversas vezes, como em 1999 e 2002, quando o Brasil, sem dólares em caixa, se submeteu aos humilhantes e recessivos acordos com o Fundo Monetário Internacional – FMI, que ditava as linhas da política econômica brasileira. O Brasil tinha, em 2002, reservas em dólares de apenas US$ 37,823 bilhões, sendo que as reservas líquidas, descontadas as dívidas com o FMI, eram de apenas US$ 17 bilhões. Nos governos de esquerda a dívida com o FMI foi paga; realizamos um grande objetivo gritado nas ruas – “Fora daqui o FMI” – e no ano de 2015, pouco antes do golpe político parlamentar contra Dilma, as reservas atingiram US$ 356,464 bilhões.(…) Terceira: o Brasil cresceu distribuindo renda, colocando um fim na tese de que “o bolo tem que crescer primeiro para ser distribuído”, com a retirada de milhões de brasileiros da pobreza e incorporação de parte expressiva da população à chamada “nova classe média”. O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos disse certa vez que Lula, e não Getúlio, é o verdadeiro “pai dos pobres” porque enquanto Getúlio garantiu direitos para quem tinha carteira assinada, Lula, e também Dilma, levaram direitos para os despossuídos, como o Bolsa Família, Cotas nas universidades, Minha Casa Minha Vida, políticas de recomposição do salário mínimo, e isto explica, em grande medida, a força do presidente Lula, que tem se mostrado “indestrutível”, na expressão de Wanderley Guilherme.(…) Quarta: nos governos de esquerda o Brasil cresceu com o controle da inflação, não voltou a hiperinflação como previram e aterrorizaram a mídia e a direita. Veja só: o índice médio de inflação nos 30 anos do Plano Real, medido pelo IPCA, é de 6,77% ao ano; nos governos Lula e Dilma o percentual ficou em 6,07% abaixo da média do Plano Real e nos demais governos de centro, direita e extrema direita a média inflacionária foi de 7,44%. A inflação precisa recuar ainda mais para menos de 5% ao ano, mas nos governos de esquerda a inflação teve os menores índices dos últimos 45 anos na série histórica do IPCA.(…) Quinta: o Brasil cresceu nos governos do PT e partidos aliados com um processo histórico de forte desendividamento, sem aumento da carga tributária, como comprovam os números a seguir. Nos governos do PT e partidos aliados, a dívida líquida do setor público recuou de 59,93% do PIB para 35,64% do PIB, em 2015, último ano do governo Dilma devido ao golpe político parlamentar. Em 2022, final do governo Bolsonaro, a dívida saltou para 56,13% e, no final de 2024, no governo Lula, a dívida teve uma pequena evolução para 61,48% do PIB.(…) Ainda na questão fiscal os governos de esquerda, como atualmente, sempre são muito criticados por supostamente aumentarem a carga tributária. Isto não é verdade. A carga tributária, de 25,09%, um ano antes do Plano Real, passou para 28,92%, em 1995, e atingiu 32,09%, em 2002, final do governo FHC.

Depois de 13 anos de governos do PT e partidos aliados, em 2015, a carga tributária ficou completamente estável e fechou em 32,10% do PIB. Depois de sete anos de governos de direita, em 2022, a carga tributária atingiu 33,56% do PIB. No terceiro governo Lula, a carga tributária reduziu em relação ao governo anterior, fechando 2024 em 32,32% do PIB.(…) Sexta: não se pode esquecer que o Brasil cresceu nos governos de esquerda aprofundando a sua democracia, ao contrário do passado, como na ditadura militar, onde crescemos muito mas com regimes ditatoriais e autoritários. O PT surgiu na luta contra a ditadura militar e hoje lidera a luta contra a extrema direita, que tem como claro objetivo a instalação de um regime autocrático e ditatorial no Brasil.

Brasil precisa avançar para um novo projeto de desenvolvimento: com forte ampliação dos investimentos públicos e privados para ter um crescimento sustentado e para continuar ampliando os direitos sociais. A continuidade das conquistas sociais no Brasil passa por um crescimento econômico sustentado, o que requer uma forte ampliação da taxa de investimento no Brasil – privada e pública, dos atuais 17% para 25% do PIB, média dos países desenvolvidos. Não tem como aumentar direitos com o aumento da carga tributária, que já está em patamar elevados de 32% do PIB. E é por isso que a reforma tributária do governo Lula do consumo e da renda tem sido “neutra”, ou seja, está sendo feita uma redistribuição mais progressiva da carga tributária, como no caso da isenção do IR até R$ 5 mil, redução do imposto até R$ 7 mil e tributação mais forte dos milionários e bilionários, e sem o aumento da carga tributária. O Brasil precisa baixar os juros e para isso precisa arrumar de forma mais sustentada a situação fiscal e, sobretudo, aprovar uma meta de inflação mais realista e compatível com o crescimento econômico; a meta de 3% fixada no governo Bolsonaro, na série histórica de 45 anos do IPCA, só foi alcançada durante três anos. Ou seja, meta de inflação muito baixa é para perpetuar juros muito elevados. E com juros elevados, a dívida pública ficará incontrolável e os investimentos privados não serão ampliados, porque especular será mais lucrativo do que produzir. E o Brasil precisa desarmar algumas “bombas fiscais”, como, por exemplo, a tentativa de mudar o modelo de previdência social, do pacto de gerações, para a previdência capitalizada, já exigida para estados e municípios, que abre rombo de R$ 18,3 trilhões nas finanças públicas no Brasil, o que é uma catástrofe para as finanças públicas nas próximas décadas, o que exigirá um ajuste fiscal selvagem muito superior ao que é feito atualmente para o pagamento da dívida pública.

Precisamos trazer o Brasil para a agenda política e programática, centrada na defesa da democracia, do desenvolvimento econômico, do Estado Social e da soberania nacional. Portanto, o que defendemos é isso: o PT precisa adotar de forma avassaladora a defesa do “Brasil da diversidade”, deve defender a “cultura, esportes e lazer” de graça e esvaziar a guerra política e cultural que alimenta o bolsonarismo. Precisamos trazer o Brasil para a agenda política e programática, centrada na defesa da democracia, do desenvolvimento econômico, do Estado Social e da soberania nacional.(…) Mais do que nunca é a Frente Ampla que vai derrotar a extrema direita, com aliados fundamentais como Eduardo Paes, no Rio de Janeiro e Rodrigo Pacheco, em Minas Gerais.(…) E sem uma sólida aliança com o centro não bolsonarista, em todo o País, mas sobretudo nos pequenos estados do Norte e Centro Oeste, onde o PT é fragilíssimo, a extrema vai ganhar a maioria no Senado, com mais de 41 senadores. A eleição no Senado não tem segundo turno e não tem espaço para marcação de posição e autoconstrução partidária por parte da esquerda, Bolsonaro está construindo “chapas para o Senado” com dois nomes apenas nos diversos Estados, com um candidato do PL e um bolsonarista de partidos de centro. Nossa estratégia deve ser a mesma utilizada no segundo turno na França para barrar a extrema direita: vamos lançar apenas dois candidatos ao Senado e quem não tiver viabilidade eleitoral não deve se candidatar. Em Minas Gerais, Marília, corretamente, trabalha pela volta de Kalil para a centro esquerda e ele é, na minha opinião, uma ótima alternativa para o Senado.(…) A esquerda precisa reduzir a guerra política e cultural, precisa que o centro não bolsonarista tenha protagonismo nas eleições para os governos de Estado e para o Senado, num clima de polarização violenta como temos agora, Lula perde a eleição e a extrema direita se torna maioria no Senado. Não podemos continuar com a polarização personalista de Lula versus Bolsonaro, até porque Bolsonaro deve ser preso até outubro e não teremos mais nas ruas “o adversário em quem bater, com quem polarizar”. Nossa situação em 2026 é muito complexa: se a direita e a extrema direita se unificarem em torno da chapa Tarcísio Freitas/ Michele Bolsonaro a disputa será duríssima; e mesmo que Bolsonaro lance um dos filhos ou a mulher dele, é possível uma pulverização de candidaturas (com possíveis candidaturas de Ratinho Jr, Romeu Zema, Ronaldo Caiado, e mais alguns outsiders que irão parecer), mas vão se unir no segundo turno, como aconteceu na cidade de São Paulo nesta última eleição. Pesquisas recentes mostram isso: no segundo turno quase todos os candidatos da direita tem intenção de votos elevadas e muito próximas de Lula.(…) Então, vencer em 2026 vai requerer muita sabedoria da esquerda e de suas principais lideranças.

José Prata Araujo é economista.

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