Pesquisa Itatiaia / Instituto Ver, divulgada recentemente, trouxe boas notícias para o PT Minas e para o “progressismo” de nosso Estado. A pesquisa consultou a população sobre a avaliação do presidente Lula e do governador Romeu Zema e a intenção de votos para presidente, governador e senador. Veja os resultados e análises a seguir. Nas análises indico que é enorme o desafio agora é viabilizar um bom desempenho eleitoral em 2026, porque o PT Minas, com o veto político à Dandara, se tornou “disfuncional”, sendo que a presidenta eleita, a companheira Leninha, não tem maioria no Diretório e na Executiva Estaduais e o Diretório e a Executiva estaduais não tem uma presidenta que expresse politicamente suas posições.
Lula tem aprovação em Minas de 47,4% e lidera na intenção de votos para presidente. Na pesquisa Itatiaia / Instituto Ver, Lula tem aprovação em Minas Gerais de 47,4%, sendo 8,3% de ótimo, 21,4% de bom e 17,7% consideram o presidente regular com viés positivo. Do lado negativo são 48,9% dos eleitores, sendo 27,8% de péssimo, 9,8% de ruim e 11,3% consideram o governo Lula regular com viés negativo. Sempre se diz que Minas é a cara do Brasil, nosso estado é um retrato do Brasil, com regiões desenvolvidas como no Sudeste e regiões muito pobres como no Nordeste e Norte. Por isso, Minas Gerais, sendo um retrato do Brasil, quem ganha em Minas Gerais vence a eleição no Brasil.(…) Veja que impressionante: a aprovação de Lula em Minas Gerais de 47,4% e desaprovação de 48,9% é muito próxima dos dados divulgados pelo Datafolha e Quaest para todo o Brasil. No Datafolha, Lula é aprovado por 46% e desaprovado por 50% e na Quaest, Lula tem aprovação de 43% e desaprovação de 53%. Portanto, a pesquisa em Minas reflete um processo de recuperação da popularidade de Lula em nosso Estado.
A pesquisa do Instituto Ver para a presidência da República simula três cenários para a disputa, com variações dos candidatos de direita e de extrema direita. A pesquisa não trouxe a intenção e votos para o segundo turno. Lula tem intenção de votos de 29,1% a 31,4% e o principal adversários, como já era esperado, é Romeu Zema, com intenção de votos, que varia de 10,4% a 25,7%.(…) Os números da rejeição indicam que a eleição de 2026 vai novamente ser definida por pequeno percentual de votos. Veja a rejeição: 52% dos mineiros afirmam que não votariam em Lula de “jeito nenhum”; já o percentual de “jeito nenhum” de Bolsonaro é um pouco maior, de 57%.(…) Pesquisa recente do Datafolha deu os seguintes números da polarização política no Brasil: o grupo de brasileiros mais alinhado com Lula soma 39% e com Bolsonaro são 37%; já 18% se declaram neutros, 5% não apoia nem Lula nem Bolsonaro e 1% não soube responder.
Romeu Zema tem avaliação declinante de 54% e Cleitinho lidera as intensões de voto para o governo de Minas Gerais. Os dados da pesquisa do Instituto Ver indicam que Romeu Zema, que em outras pesquisas sempre apareceu com a avaliação superior a 60%, aparece agora com avaliação declinante de 54%, sendo que 5,7% consideram a gestão ótima, 26,4% dizem que é boa e 21,9% consideram a gestão Romeu Zema regular com viés positivo. Já a reprovação é de 34,7%, sendo 13,9% de péssimo, 9,2% ruim e 11,6% consideram a gestão regular com viés negativo.(…) Como Romeu Zema não pode mais candidatar, o governador lançou seu vice, Mateus Simões, para o governo do Estado, como desempenho pífio até agora nas pesquisas. O Instituto Ver testou dois cenários, sendo que Cleitinho lidera ambos com intenção de votos de 21,6% e 33,4% respectivamente. No campo mais amplo do “progressismo” o destaque é Alexandre Kalil, ex-prefeito de Belo Horizonte e com o recall de ex-candidato em 2022, aparece com intenção de votos de 16,5% e 17,8% nos dois cenários. O candidato preferido de Lula e também aquele que eu, José Prata, apoio tem intenção de votos de 7,2% e 8,9% nos dois cenários. Mateus Simões permanece com intenção de votos sofrível de 1,8% e 2,6%.(…) No percentual que mede a “chance de voto”, Cleitinho tem menor “não votaria de jeito nenhum”, que mede a rejeição, com 32,2% e “votaria com certeza” de 39,9%; Alexandre Kalil tem 44,9% de “rejeição” e 21,2% de “certeza de voto”; Rodrigo Pacheco tem 55,2% de “rejeição” e 12% de “certeza de voto”; o mais mal avaliado é Mateus Simões com 64,6% de “rejeição” e apenas 9,3% de “certeza de voto”.(…) Como se vê, o quadro para o governo do Estado é ainda indefinido e imprevisível. Cleitinho tem muito voto, mas não tem coligação e base social organizada; Kalil não tem sequer partido ainda para disputar a eleição e nenhuma coligação; Rodrigo Pacheco tem a preferência de Lula, mas ainda não decolou na intenção de votos, provavelmente porque a base lulista, neste primeiro momento, mantém-se vinculada em parte a candidatura de Alexandre Kalil.
Marília Campos lidera a intenção de votos para o Senado junto com o “pai de Nikolas Ferreira”; quadro de candidaturas é também ainda muito indefinido. O quadro de candidaturas às duas vagas do Senado não está ainda definido, mas o Instituto Ver montou uma lista dos eventuais candidatos para levar à apreciação dos eleitores. Na lista com nove candidatos, Marília Campos lidera com 10,3% dos votos, seguida de Edésio de Oliveira, pai do Nikolas, com também 10,3%. Na sequência aparecem os seguintes nomes: Eros Biondini (4,3%), Alexandre Silveira (3,9%), Marcelo Aro (2,9%), Domingos Sávio (2,95%) Reginaldo Lopes (2,6%) Cristiano Caporezzo (1,9%), e Euclydes Pettersen (1,3%). É ainda muito grande a rejeição e desconhecimento da população: ninguém, branco e nulo somam 31,3% e não sabe e indeciso somam 28,5%. Se considerarmos somente os votos válidos, que são 40% do total, Marília tem atualmente 25% de intenção de votos para o Senado.(…) Esta é a segunda pesquisa divulgada nos últimos meses que coloca Marília Campos em primeiro lugar para o Senado. Pesquisa do Instituto Veritá, divulgada pelo Estado de Minas, no final de março, com outra lista de candidatos, apontou os seguintes resultados: Marília Campos, 11,2%; Rodrigo Pacheco, 10,3%; Eros Biondini, 8%; Alexandre Silveira, 7,9%; Cristiano Caporezzo, 6,4%; Rogério Correia, 5,6%; Domingos Sávio, 6%; Marcelo Aro, 4,5%; Euclides Pettersen, 2,6% e Vile dos Santos, 0,3%.(…) Marília, tudo indica, tem sua intenção de votos muito concentrada, num primeiro momento, na grande Belo Horizonte; pesquisas feitas recentemente indicam grande liderança inclusive na capital mineira.
O PT Minas não terá “racha” nem “boicotes”, o problema é que nosso Partido ficou “disfuncional” no Estado: a presidenta eleita não tem maioria no Diretório e na Executiva Estaduais e a maioria do Diretório e a Executiva estaduais não tem uma presidenta que expresse politicamente suas posições. A companheira Leninha, entrevista ao jornal O Tempo, deu um balanço do PED do PT: “Após um processo eleitoral conturbado, a nova presidente estadual do PT, a deputada estadual Leninha, defendeu, em entrevista ao Café com Política, a necessidade de unir a sigla. A disputa, encerrada no último dia 13 de julho, chegou a ser adiada e teve ameaça de judicialização após a deputada federal Dandara Tonantzin ser excluída da disputa por questões burocráticas internas.(…) “Para a nova presidente do partido em Minas, o momento é de “baixar a poeira” e construir uma composição. “O mais importante, na minha avaliação como presidenta do PT, é que as pessoas que venham, venham para somar. Não podemos ter uma postura de boicote”, afirmou”.(…) Segundo a dirigente, é provável que o grupo ligado ao deputado federal Reginaldo Lopes (PT), que apoiou a candidatura de Dandara, deve querer disputar a tesouraria do partido no Estado. “Mas há outras pastas importantes, como a Secretaria-Geral, temos a comunicação também, Creio que, na nossa perspectiva, faremos uma boa composição, dialogando nessa construção”, pontuou a parlamentar que criticou a judicialização do processo eleitoral do partido”. “O que mais me chamou a atenção nesse processo, de fato, foi a judicialização, quase que em cima da hora. Penso que agora vamos viver uma nova fase. Passada a disputa interna, a fase agora é de composição. E essa composição precisa de pessoas sérias, comprometidas com essa reconstrução do PT em Minas Gerais para os desafios que temos pela frente. Creio que, decantado todo esse período, baixando a poeira, teremos a lucidez necessária e a inteligência para fazer uma boa composição”, completou”.
O PT Minas não terá “racha” porque todos nós temos responsabilidade com a reeleição de Lula, com a eleição para o governo do Estado, com a eleição de dois senadores e de bancadas fortes para a Câmara Federal e Assembleia Legislativa. Não tem também possibilidades de “boicote” como alertou a companheira Leninha. Boicote não se justifica em nossas organizações políticas, ainda mais no caso do PT Minas, onde as chapas que apoiaram Dandara tiveram 58% dos votos; como poderia a chapa majoritária dar um tiro no pé e se auto boicotar? O problema é que o Partido, com o veto político de Dandara, ficou muito “disfuncional” no Estado: a presidenta eleita não tem maioria no Diretório e na Executiva Estaduais e a maioria do Diretório e a Executiva estaduais não tem uma presidenta que expresse politicamente suas posições. No PED do PT, a presidência é eleita de forma separada da chapa, mas depois de composto o Diretório e a Executiva, a presidência perde boa parte da autonomia e sua posição deve expressar a posição unânime ou majoritária do Diretório e da Executiva. Portanto, considero um equívoco colocar preocupações com “boicote” na direção estadual, o maior desafio da companheira Leninha será o seguinte: ela será a presidenta do Diretório, quando tivermos posições unânimes, ou será a presidenta das forças que apoiaram a eleição dela, quando tais forças forem minoritárias nos debates? É ou não é uma encrenca?: a) a presidência que representa as forças minoritárias que apoiaram a sua eleição; b) ou a presidência que representa as forças majoritárias que foram contra a sua eleição; ou c) a presidência, que sem suporte político, não tem posição deixando o partido indefinido, paralisado, fragmentado e sem posição nos grandes temas e combates dos próximos anos? Qualquer uma das três hipóteses será muito ruim; é o que eu chamo de um PT Minas “disfuncional”.
Se “quem ganha as eleições em Minas, ganha no Brasil” por que “quem ganha no Brasil (o PT)” não ganha em Minas Gerais? Trata-se de um enorme desafio preparar o PT Minas para os grandes desafios políticos e para os combates decisivos nos próximos anos, em particular em 2026. Alguém já disse que quem erra nos diagnósticos erra também nas propostas de solução. O PT Minas, mesmo já temos ocupado o governo de Minas, com Fernando Pimentel, tem poucos diagnósticos profundos e certeiros de nosso Estado.
Minas Gerais, pelas características socioeconômicas muito parecidas com o Brasil, é o Estado do Sudeste onde o PT deveria ter se consolidado historicamente nas grandes disputas majoritárias estaduais (governo do Estado e Senado). O PT, com Lula e Dilma, venceu, nos últimos 23 anos, cinco eleições presidenciais em Minas Gerais (2002, 2006, 2010, 2014 e em 2022); já o PT Minas venceu apenas uma vez a eleição para o governo de Minas (2014) e nunca elegeu um senador no Estado. Por que isto acontece? O PT Minas é um partido bastante errante e sem sorte, seja por decisões políticas equivocadas, seja pelas circunstâncias políticas não esperadas (recessão econômica, golpe político parlamentar, falência do Estado). O PT mineiro é anticíclico: é frágil quando o PT é forte nacionalmente e mais forte quanto o PT nacional está fraco. Veja só: a) visto numa perspectiva histórica, na eleição de 2002, como uma tática eleitoral correta, o PT teria, na onda Lula, eleito o governador de Minas; foi eleito Aécio Neves, que no governo foi favorecido pelo grande ciclo de crescimento do governo Lula que gerou um crescimento médio no Estado de 3,92%, com mais empregos e receitas. Assim, o governo Lula “fez a fama” dos tucanos durante oito anos; b) Anastasia, com a economia ainda bombando, foi eleito governador de Minas em 2010; c) com a desaceleração da economia brasileira e mineira, o projeto de governo do PT entrou em crise nacionalmente, crise que atingiu também os tucanos mineiros e deteriorou as finanças do Estado, aí então o PT Minas conseguiu eleger Fernando Pimentel, que, como governador, enfrentou uma “tempestade perfeita”: recessão econômica violenta e saída da recessão com taxas de crescimento medíocres, o que destruiu as finanças de Minas, já que a receita nominal, em quatro anos, cresceu apenas 18,26% menos que a inflação de 26,63%; o golpe que afastou Dilma retirou da presidência uma possibilidade de “resgate” das finanças de Minas, o que gerou atraso dos salários dos servidores e dos repasses aos municípios; d) Fernando Pimentel, por incrível que pareça, deixou uma “herança bendita” e “fez a fama” de Romeu Zema: trata-se da conquista, ao final do de seu governo, da suspensão da dívida de Minas no STF. Romeu Zema então trocou a dívida de Minas com os servidores, municípios e fornecedores pela dívida com a União, numa espécie de moratória judicial, que fez disparar a dívida do Estado; e) agora no terceiro governo Lula, o presidente aprovou o Propag, que no início implica na retomada gradual do pagamento da dívida estadual, uma desvantagem em relação à situação anterior, mas que, nos próximos anos, com juros reais zero, poderá fazer desabar a dívida de Minas Gerais enquanto percentual da a receita; e) no novo ciclo do PT no Brasil com a eleição de Lula, o PT Minas chegou muito fraco nas disputas majoritárias, em 2022, e, se tivesse lançado um candidato a governador, provavelmente não teria atingido dois dígitos de votos nem teria eleito senador. (…) Ou seja, nós, do PT de Minas, não capitalizamos os ciclos do PT no Brasil; estamos fazendo a “fama” de nossos adversários, como Aécio, Anastasia e agora Romeu Zema, porque, nas disputas majoritárias, seja por decisões políticas equivocadas, acontecimentos imprevistos ou falta de sorte, “estivemos quase sempre no lugar errado, na hora errada”. Precisamos de um projeto de desenvolvimento econômico e social para o nosso Estado e de uma estratégia de construção política mais colada no PT no Brasil.
Por uma Minas Gerais plural na política e na cultura e mais homogênea em termos econômicos e sociais. O cientista político e professor da UFMG, Leonardo Avritzer, em um texto de 2010 como contribuição à chapa Hélio Costa / Patrus Ananias ao governo do Estado, escreveu: “Minas são muitas”. A frase do poeta expressa uma característica fundamental do estado de Minas Gerais: sua diversidade cultural. Minas Gerais é um dos estados que tem a maior diversidade cultural no país, expressa pela sua condição de transição entre as regiões mais fortemente modernizadas e urbanizadas e as regiões um pouco mais tradicionais do país. Esta diversidade produziu hábitos culturais diferenciados, no folclore, nas artes e na música que despertam a atenção da população brasileira para fenômenos como bandas de música, folclore no Vale do Jequitinhonha e outras manifestações de diversidade. Mas, infelizmente a diversidade mineira tem sido entendida de forma diferente. Entre os grandes estados brasileiros com uma economia mais forte e uma sociedade mais urbanizada, Minas Gerais é o estado mais desigual. Esta desigualdade se expressa em índices como o IDH e sua variação nas diferentes regiões do estado. Em Minas, dados sobre pobreza apontam na mesma direção. Uma proposta de gestão popular participativa para Minas Gerais deve atacar tais elementos e, para fazê-lo, a participação social é o melhor instrumento”. Leonardo Avritzer concluiu com uma síntese brilhante: “Minas são muitas. O objetivo da participação no governo de Minas deve ser ampliar a diversidade onde ela é culturalmente desejável e diminuir a heterogeneidade onde ela é socialmente danosa”.
O PT Minas precisa formular um projeto político, econômico e social para nosso Estado. E não partimos do zero. Podemos recolher junto a setores progressistas da Academia elaborações importantes sobre o nosso Estado. Nas assessorias do PT na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal, com certeza, temos reflexões importantes. E junto militância temos também estudos e contribuições que podem ser incorporados às formulações programáticas de nosso Partido. Eu, José Prata, sou um dos petistas que estuda Minas Gerais há 25 anos com nove estudos publicados: Um olhar sobre Minas Gerais (2004); Minas cresce com o Brasil (2006); Um novo olhar sobre Minas Gerais (2009); Minas no centro da disputa nacional (2011); Por que Dilma e Fernando Pimentel venceram as eleições em Minas? (2015); Um olhar sobre Minas Gerais (2019); Regime de capitalização abre rombo de R$ 594 bilhões nas finanças de Minas (2019); Um olhar sobre Minas Gerais (2022) e o estudo mais recente que sintetiza todos os meus anos de pesquisa: Minas precisa de um “plano de resgate” (2023).
Nossas posições políticas para Minas e o Brasil partem muito de nossa experiência vitoriosa da “despolarização política e social” de Contagem realizada pela prefeita Marília Campos. Vivemos e somos militantes políticos em Contagem, Minas Gerais. Vivemos nas cidades, que, como tenho dito, é o “chão do Brasil”. É nas cidades, que vivemos a vida próxima do povo, vivenciamos o ódio e os grandes gestos de amor, vivenciamos as políticas públicas e os anseios dos cidadãos e cidadãs. Aqui temos um projeto vitorioso de “despolarização da sociedade”, liderado pela histórica liderança afirmativa e esperançosa da prefeita Marília Campos. Foi com base em nossas experiências que formulamos cinco razões contra a polarização política: a) a polarização, o nós contra eles, trata os eleitores de Bolsonaro como um “bloco único”, como “gado”, como se diz, o que impede de abrir diálogo com segmentos mais moderados que votaram em Bolsonaro mas que podem ser ganhos para o voto em uma Frente Democrática; ou seja a polarização empurra eleitores de centro para a extrema direita; b) a polarização praticamente congela a correlação de forças; veja o caso do governo Lula, o presidente foi eleito com 51% dos votos e manteve, por quase dois anos, a avaliação estagnada no mesmo percentual de votos que teve na eleição. E pior: não ganhou eleitores de Bolsonaro para o nosso lado e, mais recentemente, perdeu parte dos eleitores que votaram em Lula, com a aprovação sendo reduzida para aproximadamente 45%; c) a polarização somente interessa a oposição, que, não sendo governo, não tendo nada a mostrar, age como uma “metralhadora giratória”; governo é avaliado, majoritariamente, pela gestão, pelas entregas que faz em termos de políticas públicas e investimentos em obras; d) a polarização não é uma disputa política, é uma marcação de posição. Disputa política significa que você tem como meta tirar apoiadores do outro lado; quem polariza não dialogo porque o objetivo não é convencer gente do outro lado, mas crescer entre os apoiadores da bolha progressista. A polarização interessa à representação parlamentar individualizada que temos no Brasil, é autofágica, porque visa disputar apoio e votos com os companheiros do próprio partido, que os ameaça na eleição; a polarização não interessa às lideranças majoritárias, que precisam ser mais consensuais para vencerem as disputas majoritárias; e) a polarização é perigosa mesmo que o governo volte à situação anterior de 51% de aprovação; a situação de empate é muito perigosa para quem é governo, que, sendo responsável pela gestão do país, fica exposto às variações conjunturais (repiques de inflação, câmbio, emprego, preços dos alimentos) que podem levar à derrota.(…) Não se pode dizer que a política da despolarização que adotamos em Contagem nos leve, com certeza, à vitória em 2026, mas eu não acredito que tem outro caminho para a vitória porque a polarização, definitivamente, não serve para quem é governo e não consolida o apoio majoritário da população. Por isso, achamos correto as posições que vem sendo assumidas por Lula.
Lula “mudou o tom” da conversa; “reduziu a temperatura” da polarização e “aprofunda o diálogo” para ampliar as bases sociais de seu governo. As mudanças políticas na condução do governo Lula, e do próprio presidente, são perceptíveis, especialmente depois da reformulação da Comunicação, com a entrada do marqueteiro Sidônio Pereira e, no PT, com a eleição de Edinho Silva para presidente. Agora, é menos improvisação e mais pesquisas quantitativas e qualitativas para orientar as ações do governo. Veja alguns fatos mais recentes. O governo Lula, corretamente em minha opinião, orientou os ministros e outras lideranças graduadas a tomarem uma posição discreta em relação à “tornozeleira eletrônica” e a “prisão domiciliar” de Bolsonaro e ministros suprimiram posts nas redes sociais mais provocativos a Bolsonaro. Isto para não contribuir com a vitimização do ex-presidente. Ou seja, Lula não traz para dentro do governo os processos e medidas legais contra Bolsonaro, porque considera que os poderes são independentes e que se trata de um tema vinculado ao Poder Judiciário e o que o país precisa pautar são os grandes desafios do momento: a defesa da democracia, a justiça tributária, da soberania nacional e o desenvolvimento econômico.(…) Lula, no encontro nacional do PT, manteve a forte defesa da soberania nacional, mas enfatizou recomendou cautela: “O governo tem que fazer aquilo que ele tem que fazer. Por exemplo, nessa briga que a gente está fazendo agora, com a taxação dos Estados Unidos, eu tenho um limite de briga com o governo americano. Eu não posso falar tudo que eu acho que eu devo falar, eu tenho que falar o que é possível falar, porque eu acho que nós temos que falar aquilo que é necessário”.(…) Lula, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico mediu as palavras: “Eu confesso a vocês que na última vez que eu vim no Conselhão eu fiz um discurso muito inflamado sobre uma situação econômica que nós estávamos vivendo naquele momento. E, hoje, pela seriedade do momento político que nós estamos vivendo, eu resolvi fazer um discurso lido para medir cada palavra”.(…) Em entrevista ao Reinaldo Azevedo, na Bandnews, Lula voltou a exercitar o seu discurso dialogal e sedutor ao reconhecer que “o povo tinha razão de estar meio puto”: “O povo tinha razão de estar meio puto porque o feijão tava caro, a carne tava cara. O povo tem razão e agora nós temos que ter o compromisso de melhorar e as coisas estão melhorando, estão melhorando, estão melhorando”. E Lula disse que tem lado, mas de forma suave e sem polarizar com o empresariado: “Eu nunca me preocupei com o comportamento eleitoral do empresariado, porque acho que a maioria nunca votou em mim. Comigo tem uma questão de pele, sabem de onde eu vim, sabem da minha origem, não deixo de dizer de que lado eu tô, pra quem eu governo. Embora eu governe para todos, eles sabem que tenho uma preferência de ajudar o povo pobre a sair da miséria em que se encontra. E os empresários sabem o que eu penso, nunca fiz comício de empresário, mas trato eles com respeito que eles merecem”.
Faz tempo que eu, José Prata, esperava esta “mudança de tom” do presidente Lula, de uma fala muito “inflamada” para uma fala mais “dialogal” e “sedutora”.(…) A polarização só interessa a oposição, que, não tendo nada para mostrar, pode “girar a metralhadora” permanentemente; governo é avaliado pelas entregas que faz em termos de políticas públicas, economia e bem estar social.(…) Está claro que a “polarização no plano político”, especialmente aquela despolitizada, que mira não a defesa da democracia mas o ataque à família Bolsonaro, vitimiza o ex-presidente e o fortalece.(…) A polarização social “ricos versus pobres”, através da maior justiça tributária é “fora de lugar”, expressa uma polarização do século 19 e início do século 20; os principais beneficiados serão as pessoas de classe média, que emergiu com o Estado Social, com a isenção de imposto de renda até R$ 5.000,00 e redução dos impostos até R$ 7.000; veja só: quando propomos mudar a a tributação da renda não estamos fortalecendo a polarização social, estamos “despolarizando” com uma tributação mais justa.(…) A política do tarifaço e de ingerência de Trump nos assuntos internos do Brasil enfraqueceu o discurso do patriotismo da extrema direita, mostrou a demagogia que foi a utilização dos símbolos nacionais, como a nossa bandeira, e Lula, corretamente, ao invés da polarização, vem defendendo a soberania nacional de forma ampla, articulando todos os segmentos da sociedade, inclusive os empresários, em defesa do Brasil, assumindo, de uma forma inteligente, a marca de um “governo de união nacional”.
Muitas de nossas lideranças parlamentares e militantes sociais implodem a estratégia de Lula e pautaram a “tornozeleira” e a “prisão domiciliar” de Bolsonaro da pior forma possível: com deboche, brincadeiras e ironias. Nos parece evidente que a estratégia correta é, de fato, a esquerda parlamentar e social, preservar o governo Lula, e pautar os processos de Bolsonaro, mas com “politização na veia” e não com gestos de vingança, deboche e ironias. A esquerda, sem uma direção nacional e cada um por si, teve como narrativa, ou falta dela, como mostrou a pesquisa da Quaest, a zoação: “Grande dia” e “Bolsonaro preso”. O que vimos foram as musiquinhas despolitizadas; vídeos com estouro de foquetes; comemoração com bebidas; musiquinhas do Jair, já ir embora”. Veja que desastre político: a extrema direita tenta normalizar os ataques a democracia, e fala dos “inocentes” que depredaram os Três Poderes, defende a “livre manifestação” e vitimiza Bolsonaro. A esquerda, ao não defender a democracia com as cenas fortes do 8 de janeiro, que sumiram das redes sociais, e ter uma narrativa baseada na vingança e no deboche facilita a tarefa da extrema direita de vitimizar Bolsonaro. Temos visto inclusive atitudes quase que histéricas de parlamentares de esquerda e de lideranças que serão candidatas na próxima eleição à procura de likes e de votos para suas candidaturas para deputados estaduais e federais em 2026. Veja só: o governo Lula corretamente adota uma postura discreta nos processos contra Bolsonaro; a esquerda parlamentar e grande parte da militância social não faz um combate politizado e isso acaba sobrecarregando o Supremo Tribunal Federal – STF, em particular o ministro Alexandre de Moraes, na defesa da democracia. E grave também: esta despolitização enfraquece nossas candidaturas majoritárias, como a de Lula, como a de Rodrigo Pacheco, um liberal extremamente politizado na defesa da democracia, e o PT corre os risco de ficar de fora de chapas majoritárias em diversos estados, inclusive Minas Gerais, por não ampliar o diálogo social com pessoas que pensam diferente de nós.
Brasil 247: “Prisão de Bolsonaro freia alta de menções positivas a Lula e ao STF, aponta pesquisa; vai ser muito difícil vencer em 2026 se uma forte politização da esquerda”; a defesa da democracia, do Estado Social e da soberania nacional é coisa séria e não pode ser tratada com “zoação”. Informa o site Brasil 247: “A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na última semana alterou de forma significativa o cenário de percepções sobre o presidente Lula (PT) e o Supremo Tribunal Federal (STF) nas redes sociais e na imprensa. De acordo com informações publicadas pela coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, pesquisas que orientam o governo federal registraram a interrupção de uma curva ascendente de menções positivas ao chefe do Executivo e à Corte.(…) Os dados, obtidos a partir de análises diárias de sentimetria feitas pela Secretaria de Comunicação (Secom), indicavam que Lula vinha conquistando apoio, especialmente após enfrentar de forma firme os ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil. Segundo o levantamento, grande parte das interações de internautas considerava correta a postura do petista ao defender a soberania nacional, enquanto classificava como traição a atitude de Bolsonaro e de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, de estimular a hostilidade de uma potência estrangeira contra a economia e os interesses do país.(…) Antes da prisão, amplos setores políticos e econômicos — além de usuários nas redes — condenavam Trump e a família Bolsonaro. Contudo, o cenário mudou rapidamente após a detenção, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito que apura tentativa de obstrução da Justiça e coação no curso do processo. A narrativa dominante passou a retratar Bolsonaro como vítima de humilhação, percepção que, segundo profissionais que auxiliam o governo, costuma gerar simpatia e atrair o sentimento de piedade no Brasil.(…) O episódio que levou à ordem de prisão ocorreu depois que Bolsonaro participou, por telefone, de um ato que defendia o impeachment de Moraes — violando a proibição de usar redes sociais, inclusive por meio de terceiros. Durante a ligação, feita de sua residência, Bolsonaro disse: “Boa tarde, Copacabana. Boa tarde meu Brasil. Um abraço a todos. É pela nossa liberdade. Estamos juntos”. A gravação foi publicada nas redes pelo senador Flávio Bolsonaro e, posteriormente, apagada.(…)Com a reversão da tendência de apoio, integrantes da comunicação do governo e aliados no STF avaliam que será necessário redobrar esforços para retomar a narrativa favorável, especialmente no ambiente digital, onde o efeito da comoção em torno de Bolsonaro tem se mostrado rápido e expressivo”.(Brasil 247, 14/08/2025).(…) A extrema direita está na ofensiva nas redes sociais, mas não conseguiu ainda ganhar a adesão da população à anistia para Bolsonaro. Pesquisa Datafolha, divulgada no dia 14/08/2025, indica que 51% da população apoia a “prisão domiciliar” de Bolsonaro e 42% discordam.
Para vencer em 2026, a esquerda precisa de politização, politização e politização. Mas a disputa ficará mais aguda com a condenação e prisão definitiva de Bolsonaro nos próximos meses. Por isso mesmo repetimos: sem uma enorme politização da esquerda vai ser muito difícil vencer as eleições de 2026.(…) Politizar significa, em primeiro lugar, que a esquerda deve assumir radicalmente seu caráter plural, o “Brasil da diversidade”, diversidade política, diversidade de gênero, diversidade racial, diversidade de orientação sexual, diversidade cultural; enfraquecendo assim a guerra cultural que alimenta o bolsonarismo.(…) Politização significa que a militância partidária progressista, os parlamentares, e militância social devem “combinar” com o governo Lula uma estratégia de combate à extrema direita, de tal forma que o governo Lula seja preservado de embates políticos que o desgastem e a militância partidária e social assuma, de forma politizada, a defesa de nossa pauta programática: a defesa do “Brasil da diversidade”; da democracia; do Estado Social, como por exemplo, da justiça tributária e do fim da escala 6X1; da soberania nacional e do desenvolvimento econômico.(…) Politizar significa não adotar o vale tudo das redes sociais, mas politizar a população, como faz a defesa da democracia, com grande sucesso, a deputada Tabata Amaral, do PSB/SP, com a lembrança em seus vídeos da trajetória histórica de Bolsonaro contra a democracia; com as suas atitudes criminosas na pandemia; com as constantes ameaças ao Estado de Direito quando esteve na presidência; dos planos dos golpistas de assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre Morais e do quebra quebra em Brasília no dia 08 de janeiro de 2023. Tabata Amaral mostra que é possível sim compatibilizar politização com sucesso na internet e, em dois vídeos recentes, foram 7 milhões de visualizações de vídeo.(…) Politizar significa reforçar, como nunca, a defesa da Frente Ampla, com os partidos progressistas e pelo menos segmentos expressivos dos partidos de centro, com Lula presidente, candidaturas expressivas para os governos de Estado; com o apoio de chapas enxutas com um ou dois candidatos ao Senado; nesta eleição não pode ter candidato de esquerda para marcar posição ou para a autoconstrução partidária.(…) Politizar significa que o PT, agora sob a presidência de Edinho Silva, e demais partidos de esquerda devem parar de se omitirem e assumirem o protagonismo político na convocação e promoção de grandes atos políticos em defesa de nossas pautas políticas e de nossas campanhas eleitorais em 2026. Em minha opinião somente a politização e o protagonismo dos partidos políticos e de suas principais lideranças fará com que a esquerda retome de expressiva as ruas do país.(…) Politização significa que o objetivo de todo militante nas redes sociais e nas ruas é ganhar eleitores de Bolsonaro para Lula e nossas candidaturas ao governo do Estado, Senado e para deputados federais e estaduais; senão conseguimos isso nossa prática política é inútil e é apenas uma marcação de posição, uma zoação para agradar quem já é “convertido”.
PT Minas Gerais, para se consolidar, terá que fazer escolhas: a) um partido que dialoga com poucos segmentos, como servidores públicos, ou o partido do diálogo social amplo; b) um partido da coesão social ou o partido da ultra-polarização. O PT está muito frágil no Sudeste e no Sul do Brasil; Minas Gerais, com todos os problemas, é onde o PT é ainda um partido bastante expressivo. Temos 10 deputados federais; 12 deputados estaduais; são 35 prefeituras, sendo Contagem e Juiz de Fora, duas das maiores do Brasil; são 368 vereadores em todo o Estado; e temos força relevante ainda nos movimentos sociais de Minas Gerais. Mas precisamos fazer escolhas políticas para que em Minas Gerais, o estado que a cara do Brasil, tenhamos um partido forte, consolidado, e com muitas lideranças majoritárias no Estado e nas diversas regiões.
O PT Minas precisa ser o partido do “diálogo social” amplo e não apenas com alguns poucos segmentos populares, como os servidores públicos. Veja só: eu, José Prata, sou fruto das gigantescas lutas sociais e democráticas das décadas de 1970, 1980, 1990. Eu era das correntes mais radicais da esquerda, do MEP e depois do PRC, e eu fui um dos que considerava Lula “pelego”. Pois foi Lula o principal inspirador da criação do PT que eu e muitos sindicalistas resistíamos quando a proposta foi formulada. E por que Lula? Porque Lula veio para São Paulo, conseguiu se formar no ensino profissionalizante, era um retirante bem sucedido, mas seu “coração continuou no Nordeste”, pobre, massacrado e desumanizado. Lula nos disse: não podemos representar apenas as nossas corporações, precisamos de um partido para dialogar com toda a sociedade e fazer as transformações sociais que o Brasil precisa. Nós, da classe média do Sudeste, corporativista que somos, temos muita dificuldade de compreender Lula porque ele é o “coração nordestino” para que passou “a pulsar no Brasil”.
Nós temos dificuldades de entender como grandes lideranças como Marília Campos, fez uma transição como sindicalista, da corporação dos bancários, para vereadora, deputada e prefeita para representar os interesses não apenas mais de uma corporação, mas de toda a população. É bom destacar que Marília fez uma transição muito interessante de sindicalista para prefeita, uma trajetória muito parecida com a do nosso presidente Lula. Marília foi sindicalista e presidenta do Sindicato dos Bancários e depois ocupou por três vezes o mandato executivo, como prefeita de Contagem e, agora, foi eleita para um quarto mandato. Um balanço indica claramente que os movimentos sociais, em geral, são mais radicais, mas também, por representarem interesses concretos de segmentos da sociedade, são mais corporativos. Já no Poder Executivo, os administradores de esquerda, em geral, são mais moderados, mas, tendo que atender demandas de toda a sociedade, são também mais universais. Marília se dedicou com muita garra à luta dos bancários por melhorias salariais, emprego e por planos de saúde e de Previdência, auxílio-alimentação e creche; mas, na Prefeitura, teve que avançar para uma visão mais universal, para atender demandas de saúde, educação, urbanização de toda a população. Ou seja, Marília, como Lula, era mais radical como sindicalista. Como prefeita, ela é mais moderada, mas também é uma líder política mais universal.
Foi por distinguir as especificidades do sindicalismo e do partido, na década de 1980, mesmo com movimentos sociais gigantescos, é que criamos o PT. Nas nossas formulações sindicato deveria ter autonomia em relação aos partidos e inversamente os partidos deveriam ter autonomia em relação aos sindicatos. Acontece, que nos últimos 10 anos, o sindicalismo passou por uma situação de enorme enfraquecimento, que se agravou com a reforma trabalhista, e especialmente os sindicatos de servidores se reagruparam em torno de lideranças de esquerda do PT e PSOL. Então tá tudo muito misturado, não se distingue mais posições dos sindicatos e de lideranças partidárias de esquerda. Isso inviabiliza até mesmo um diagnóstico do Estado e limita as propostas de um plano de resgate de nosso Estado, como eu proponho em meu último livreto sobre Minas Gerais.(…) Eu fui sindicalista e a narrativa sindical, como não poderia ser diferente, depois de elaborada a pauta de reivindicações, sustenta na campanha salarial que o “patrão” tem todas as condições de atender ao que está sendo pedido. No setor privado, a avaliação da situação do “patrão” tem uma dimensão mais econômica; mas no setor público a avaliação da situação do “patrão público” assume uma dimensão claramente política. Ou seja, o sindicalismo do setor público acaba, queira ou não, emitindo uma opinião política da situação econômica financeira de um município, de um Estado ou da União. A narrativa sindical em Minas Gerais, por exemplo, não condiz com a situação do Estado. Minas Gerais está falida: a) tem dívida muito grande de R$ 194 bilhões; b) receita pequena, sendo que o Estado tem apenas a 23ª receita per capita dentre os estados brasileiros; c) tem uma previdência catastrófica, porque, não tendo concurso público, não se tem contribuintes que são somente os servidores efetivos; e veja só: mesmo que tivessem concursos públicos as contribuições não reduziriam o déficit previdenciário já que todos os recursos iriam para um fundo de capitalização, uma exigência do governo federal, uma invenção do sindicalismo mineiro, em 2002, e adotada por Lula, em 2008, que abre um rombo atuarial de R$ 753 bilhões nas finanças de Minas; d) e com dívida elevada, Minas não tem capacidade de endividamento, o que resulta em pequena capacidade de investimento.
Foi por ter um diálogo muito restrito aos servidores, que lideranças petistas cometeram erros dramáticos na formulação de políticas públicas, tendo como alcance os “interesses da corporação” e sem levar em conta o “impacto geral” nas finanças e nas políticas públicas. Cito dois casos: a previdência de capitalização e o ICMS Educação.(…) Previdência de “capitalização” é o fim da previdência social e o modelo é semelhante à previdência privada e o nome já diz: tem previdência quem tem “capital”; como servidores públicos estaduais e municipais, para os quais é exigido este modelo, não tem capital, quem vai pagar a conta então é a sociedade com cortes nos serviços públicos, em particular na saúde que tem vinculação constitucional baixa: de 15% nos municípios e 12% nos Estados. Veja o caso do ICMS Educação: pensando apenas na educação, foi aprovado um projeto de lei, coordenado por deputadas do PT, prevendo uma distribuição dos valores com base nos critérios da educação, não se levando em conta o número de alunos; com isso Contagem, governada pelo PT, vai perder quase R$ 400 milhões de 2024 a 2028. Portanto, na formulação de políticas públicas, o PT precisa levar em conta os interesses dos segmentos que representa, mas sempre tendo em vista os “impactos gerais” para toda a sociedade. Para isso, precisa ter um diálogo e uma representação de amplos setores sociais de nosso Estado, inclusive com os prefeitos e prefeitas.
Na minha opinião, o PT Minas deve ter como estratégia a “coesão social” e não a “ultra-polarização”. Já vimos neste documento que a estratégia da ultra-polarização beira ao “suicídio político”, sobretudo para quem é governo, como é nosso caso em Contagem, com Marília Campos, e no Brasil, com Lula. Já vimos neste texto como Lula “mudou o tom” da conversa; “reduziu a temperatura” da polarização e “aprofunda o diálogo” para ampliar as bases sociais de seu governo. Não tem outra saída.(…)Em Contagem, quem fez um belo diagnóstico foi a companheira Camila Moreno, em publicação no instagram da Marília: “Marília é muito admirável. Sua dedicação, força e inspiração na construção de um PT capaz de ganhar eleições, disputar maiorias e superar a bolha, a burocracia e o sectarismo!”. De fato, Marília faz história em Contagem; ela é tetra, sendo eleita pela quarta vez para prefeita de Contagem; ela venceu no primeiro turno com 60,68% dos votos; Marília venceu nas oito regiões de Contagem, inclusive nas regiões Nacional e Ressaca; venceu em 64 dos 66 bairros, inclusive no Eldorado, onde ela mora com a família dela; ela foi a prefeita mulher mais votada do Brasil no primeiro turno.(…) Nem bem terminou a eleição, Marília já tinha 81% de aprovação popular. Numa das pesquisas que circulou em nossa cidade, nos últimos meses, podemos ver os números impressionantes da aprovação popular de Marília, segundo os diversos critérios da amostra. Veja só: a) Marília tem 81% de aprovação, sendo 81% entre mulheres e 81% entre os homens; b) por idade, varia de 79% a 83%; c) por escolaridade, varia de 78% a 84%; d) por renda, varia de 79% a 86%; e) por religião, Marília tem 78% de aprovação entre os evangélicos e 83% entre os católicos; por ideologia, Marília tem 79% de aprovação de pessoas que se definem como de “direita”, 82% nas pessoas de “centro”, e 89% nas pessoas de “esquerda”. Tem alguns sectários que afirmam que Marília é muito popular porque tem apoio de muitos eleitores de “direita”. Líder político de esquerda bom é aquele que tem o apoio somente dos 25% dos eleitores de esquerda? Inacreditável! Lula já chegou a ter 80% da aprovação popular em 2010 e era, com toda razão, saudado como “o cara”, um dos presidentes mais populares do mundo.(…) Luís Felipe Alencastro, historiador, fez certa vez uma síntese que se tornou uma referência para nós de Contagem: “O objetivo de toda esquerda democrática é transformar a maioria social em maioria política”. Foi isto que aconteceu em Contagem com a nossa companheira Marília Campos, que construiu uma histórica, e até agora indestrutível aliança, dos mais pobres e a classe média. E aqui, como diz Lula, governamos para todos e todas, com prioridades claras pelos mais pobres. Marília venceu com 65% a 72% nas seis regiões mais pobres de Contagem, e teve, em Nova Contagem, uma comunidade com 60 mil pessoas, 72% dos votos, a mesma votação que Lula teve no Nordeste. Ou seja, Nova Contagem é o Nordeste da Marília.
O PT Minas deveria adotar, em minha opinião, estas posições estratégicas de Contagem para todo o Estado, a começar para a capital mineira, a nossa querida Belo Horizonte, onde eu, José Prata, e Marília moramos muitos anos e onde fomos lideranças dos gigantescos movimentos sociais nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Sem uma forte presença em Belo Horizonte, o PT Minas vira o “partido do interior”. Todos sabemos que a disputa política mais dura se dá na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em especial na capital mineira, com seus 2 milhões de eleitores, região onde está a sede do governo mineiro, as sedes dos demais Poderes – Legislativo e Judiciário, os principais órgãos de imprensa e as sedes dos sindicatos e dos partidos políticos. Belo Horizonte tem uma extrema direita poderosa e uma das maiores lideranças deste campo político do Brasil e o enfrentamento deste poderio exige uma esquerda com amplo diálogo social; com a luta politizada pela democracia, pelo Estado Social e pela soberania nacional. Não dá para naturalizar os resultados das últimas eleições de BH, em 2024. Não dá para considerar com algo normal o nosso resultado na disputa da PBH, com resultados sofríveis de apenas 4,37% dos votos. E não dá para dobrar a aposta nesta linha política derrotada fragorosamente nas urnas. O PT precisa de Belo Horizonte precisa se preparar, com flexibilidade política e boa organização, para liderar manifestações de milhares de pessoas nas ruas em torno de nossas bandeiras e de nossas candidaturas em 2026.
José Prata Araújo é economista