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José Prata: Polarização versus despolarização virou centro do debate do PED. Qual a posição do PT Contagem?

Aconteceu o que previmos há dois meses atrás em artigo neste blog: o debate em torno da “polarização ou despolarização” se transformaria no centro da disputa do PED. Polêmica sustentada a partir da disputa para a presidência nacional do PT, que alguns candidatos procuram irradiar para a base do Partido. Respondo à pergunta deste artigo: “O PT Contagem, vitorioso com a estratégia da despolarização, na disputa para a Prefeitura e para a Câmara dos Vereadores, deve reafirmar que esta estratégia é também o melhor caminho a ser seguido pela esquerda brasileira e pelo governo Lula”. Ou seja, o que é “bom para Contagem será bom também para o Brasil”.(…) Não temos nenhuma reparação a fazer na vitória maiúscula de Marília. Marília faz história em Contagem; ela é tetra, sendo eleita pela quarta vez para prefeita de Contagem; ela venceu no primeiro turno; Marília venceu nas oito regiões de Contagem, inclusive nas regiões Nacional e Ressaca; venceu em 64 dos 66 bairros; ela foi a prefeita mulher mais votada do Brasil no primeiro turno. E, dois meses após a eleição, Marília atingiu a incrível marca de 81% de aprovação popular.(…) Remetemos o livro “O Brasil olha para Contagem” para todas as lideranças petistas do Brasil: deputados estaduais, deputados federais, senadores, diretórios estaduais, vereadores e prefeitos de grandes cidades, ministros do governo Lula, e, em Contagem, o livro foi distribuído para mais de 1.300 pessoas. E vamos defender a nossa experiência em todos os locais onde estivermos presentes, seja em Contagem, em Minas e no Brasil.

PT Contagem tem recebido críticas injustas e até de baixo nível. Precisamos responder, de forma enfática, as falsas polarizações de cima para baixo e respondê-las com as experiências concretas, avançadas e vitoriosas, de baixo para cima. Experiências como as de Contagem, liderada pela prefeita Marilia Campos, que deveria ser motivo de estudo e de orgulho para toda a esquerda brasileira – toda ela, moderada e mais radical. Mas nossa experiência está sendo desrespeitada, com afirmações que queremos “levar o PT para o centro”; despolarizar seria “estender a bandeira branca para o fascismo”; quem defende a despolarização seria uma “esquerda domesticada” e “uma esquerda que quer levar o PT para o centro”; e tem liderança que afirma que a despolarização é “asneira”. Não pode lideranças dobrarem a aposta depois de experiências claramente derrotadas, como no caso de Belo Horizonte.

Veja o que disse o deputado Rui Falcão: “Nosso partido deve rechaçar os apelos à despolarização, palavra da moda que significa levar-nos a uma transição efetiva para o centro, com um forte rebaixamento ideológico, programático e organizacional. A construção de coalizões para vencer as eleições e governar não pode ser vista como contraditória com a disputa pública de hegemonia pelos partidos do campo popular. O partido não pode ser reduzido a um braço institucional do governo de frente ampla. O combate à extrema-direita somente poderá ser bem-sucedido se formos capazes de lhe fazer uma contraposição frontal, aguerrida e popular. A história nos ensina que fórmulas gelatinosas facilitam a ascensão do fascismo”.(…) Em uma entrevista, o deputado afirmou: “Não adianta ir com bandeirinha branca, porque o fascismo e seus aliados a gente não combate com flores, é preciso manter uma postura firme e radical na defesa de pautas progressistas. Acho que esse não é o caminho nem para governar, nem para recuperar a popularidade do presidente Lula”.

Valter Pomar, ao criticar as posições de Edinho Silva, diz que dizer não à polarização é coisa da “esquerda domesticada”: “A principal mensagem da entrevista de Edinho diz respeito à polarização. A lógica por detrás deste discurso é a de que política é diálogo. Uma ilusão típica da esquerda iluminista e domesticada no parlamento e demais instituições. Mas política é muito mais do que diálogo. Política é principalmente luta pelo poder. Confronto de forças. Mobilização. E se nesse confronto uma das partes polariza e a outra não, o resultado está praticamente definido desde o ponto de partida”. Valter diz que sem polarização não tem salvação para a esquerda: “Mais “fácil” apenas e tão somente se tivermos a disposição de polarizar contra o neoliberalismo das duas direitas, tanto da tradicional quanto da extrema. Especialmente em momentos de crise, sem polarização e tesão não haverá solução nem salvação para a esquerda!”.

O deputado Rogério Correia escreveu que quem defende a despolarização está imitando o Centrão: “Em toda encruzilhada temos de optar por um caminho. Na política, a esquerda deve se guiar pela estratégia e não aos acenos das elites, que hoje recomendam não polarização com a direita. José Genuíno tem razão, a esquerda não pode seguir o caminho do Centrão”. Mais recentemente, em entrevista ao blog Diário do Centro do Mundo, Rogério Correia classificou de “asneira” a defesa da despolarização: “Eu acho que o partido está agora discutindo as suas eleições internas e precisa ter esta gana de crescer com idelogicamente firme; eu estou com Rui Falcão não é atoa. Eu acho que esta conversa de “o PT precisa ir para o centro”; o “PT precisa parar de polarizar com a extrema direita”; eu acho isto uma asneira. É entregar para o bandido o ouro. Não é característica nossa. Nós temos, com toda a amplitude necessária, firmar a nossa posição ideológica, disputar o nosso programa e melhorar a vida do povo”.

PT Contagem e Marília Campos não polarizam, mas não fogem das disputas programáticas mais duras e sensíveis na sociedade. Conseguimos muitos avanços programáticos e políticos em Contagem e nossa Frente Ampla é combativa e vibrante. Marília, com o amplo apoio dos partidos de centro, conseguiu aprovar na Câmara Municipal enormes avanços num programa de centro esquerda: a) a aprovação de um novo plano diretor, com o retorno da área rural (28% de nosso território) e preservação de Vargem das Flores; b) a aprovação de um avançado Sistema de Participação Popular, com orçamento para dezenas de obras; c) a desprivatização dos serviços públicos da saúde (Hospital, Maternidade, e cinco UPAS), e criação do SSA- Serviço Social Autônomo; d) aprovação pelos vereadores e vereadoras de empréstimos de R$ 550 milhões vinculado a um projeto desenvolvimentista para Contagem; e) a defesa do desenvolvimento com proteção do meio ambiente com uma oposição pública e forte de nosso governo contra o traçado do Rodoanel, que rasga Vargem das Flores; f) Marília realizou um diálogo forte com a Câmara Municipal, que aprovou dobrar o valor das emendas impositivas; Marília vetou a medida e conseguiu que o veto fosse mantido com os votos de todos os 20 vereadores da base de governo e também da oposição.(…) Em Contagem nossa campanha da Frente Ampla de 16 partidos foi vibrante: a) não abrimos mão da identidade avermelhada do PT, combinada com o verde amarelo, ao contrário de candidatos até radicais do PT que adotaram cores insossas para não assustar os eleitores; b) fizemos uma forte campanha de rua com 53 caminhadas, carreatas e bandeiraços; c) nossa campanha de rua “explodiu” nas redes sociais, com 76 milhões de visualizações de vídeos e 5 mil de engajamentos nas publicações; d) não fugimos do debate dos valores, defendemos a “Cidade da diversidade” e “cultura, lazer e esportes de graça para a população”; e) e chegamos até aqui atuando com ousadia nos períodos mais duros do anti-petismo, na luta contra o golpe político parlamentar, nas duas campanhas de Marília deputada, em 2014 e 2018, o reflão do jingle dizia “Viva a alegria e a esperança com a Marília do PT” e os dois carros que, eu, José Prata, e Marília tivemos até hoje, foram vermelhos, um risco enorme no auge do anti-petismo, quando eram comuns violências contra os ocupantes dos veículos.

Cinco argumentos contra a polarização e porque é “a esperança de futuro” que derrota a extrema direita. Veja só: a) a polarização, o nós contra eles, trata os eleitores de Bolsonaro como um “bloco único”, como “gado”, como se diz, o que impede de abrir diálogo com segmentos mais moderados que votaram em Bolsonaro mas que podem ser ganhos para o voto em uma Frente Democrática; ou seja a polarização empurra eleitores de centro para a extrema direita; b) a polarização praticamente congela a correlação de forças; veja o caso do governo Lula, o presidente foi eleito com 51% dos votos e manteve, por quase dois anos, a avaliação estagnada no mesmo percentual de votos que teve na eleição. E pior: não ganhou eleitores de Bolsonaro para o nosso lado e, mais recentemente, perdeu parte dos eleitores que votaram em Lula, com a aprovação sendo reduzida para menos de 45%; c) a polarização somente interessa a oposição, que, não sendo governo, não tendo nada a mostrar, age como uma “metralhadora giratória”; governo é avaliado, majoritariamente, pela gestão, pelas entregas que faz em termos de políticas públicas e investimentos em obras; d) a polarização não é uma disputa política, é uma marcação de posição. Disputa política significa que você tem como meta tirar apoiadores do outro lado; quem polariza não dialoga porque o objetivo não é convencer gente do outro lado, mas crescer entre os apoiadores da bolha progressista. A polarização interessa à representação parlamentar individualizada que temos no Brasil, é autofágica, porque visa disputar apoio e votos com os companheiros do próprio partido, que os ameaça na eleição; a polarização não interessa às lideranças majoritárias, que precisam ser mais consensuais para vencerem as disputas majoritárias; e) a polarização é perigosa mesmo que o governo volte à situação anterior de 51% de aprovação; a situação de empate é muito perigosa para quem é governo, que, sendo responsável pela gestão do país, fica exposto às variações conjunturais (repiques de inflação, câmbio, emprego, preços dos alimentos) que podem levar à derrota.(…) Mauricio Moura, do Instituto Ideia, realizou um estudo, que mostra que os governantes perderam 17 das 21 últimas eleições no mundo. Na minha opinião, este dado é uma confirmação empírica de que a polarização não é favorável a quem governa, cuja avaliação depende das entregas concretas de políticas públicas e darem “esperança de futuro” para a população. Mais à frente transcrevo três depoimentos que falam de esperança: José Luís Fiori, Pepe Mujica e nosso companheiro Juarez Guimarães.

O Brasil precisa olhar para Contagem; o PT precisa compreender como Marília, em uma grande cidade do Sudeste, tem 81% de aprovação popular; nosso segredo é os dois pês: propósito e pertencimento. Adotamos em Contagem a política baseada nos “dois pês”, “Propósito e Pertencimento”, sugerida por Alon Feuerwerker: “Sem subestimar a economia, tampouco é demais olhar para aspectos mais subjetivos dos mecanismos de produção de opiniões políticas. O capital político dos governos sempre se beneficia de dois pês: propósito e pertencimento. Quando está claro a que veio o governo, e quando ele passa a sensação de querer o bem de todo mundo, e não só de sua turma. Acirrar as contradições e estimular a guerra de todos contra todos pode ser útil para reforçar o poder momentâneo, mas um efeito colateral é produzir sensação de exclusão em áreas que o andamento da economia pode até, eventualmente, estar beneficiando. Por isso se diz que a política tem de andar de mãos dadas com a economia, para que a safra eleitoral não decepcione”. (Poder 360, 17/3/2024).

É isto que sentimos em Contagem. Marília Campos tem uma aprovação de 81% da população porque se beneficia dos dois pês: do propósito, pois está claro a que veio o governo, com um gigantesco plano de investimento e avanços muito grandes nas políticas públicas, especialmente na saúde. Marília se beneficia também do pertencimento; ela não polariza, ela governa para todos e todas e seu governo gera esta enorme sensação de pertencimento. Nas mídias sociais da Marília quem a defende não são os funcionários do governo, mas pessoas do povo; nas ruas ela é saudada pela população e nunca sofreu escracho político.(…) Numa das pesquisas que circulou em nossa cidade, podemos ver os números impressionantes de 81% segundo os diversos critérios da amostra. Veja só: a) Marília tem 81% de aprovação, sendo 81% entre mulheres e homens; b) por idade varia de 79% a 83%; c) por escolaridade varia de 78% a 84%; d) por renda varia de 79% a 86%; e) por religião tem 78% de aprovação entre os evangélicos e 83% entre os católicos; f) por ideologia tem 79% de aprovação de pessoas que se definem como de “direita”, 82% nas pessoas de “centro”, e 89% nas pessoas de esquerda. Alguns sectários afirmam que Marília é muito popular porque tem o apoio de muitos eleitores de “direita”. Ora, Lula, em 2010, terminou o governo com 80% de aprovação e todos nós o saudamos, com razão, de o “cara”, o presidente mais popular do mundo.

É um falso debate qualificar quem defende a despolarização da sociedade como sendo o caminho do PT romper com sua trajetória de esquerda e ir para o centro. Veja um longo depoimento de Edinho Silva, candidato a presidente do PT: “Não existe a menor chance do PT ir para o Centro. Isso é um falso debate. Como é que um partido que está umbilicalmente ligado aos excluídos, aos pobres, àqueles que não têm vez e voz. É um dos partidos dos movimentos sociais, dos trabalhadores. Eu penso, inclusive, que além de ser o partido dos empregados organizados em sindicatos, que sejamos o partido dos trabalhadores que não estão hoje representados. É o partido das pautas identitárias, do conceito de democracia ampla. Como esse partido vai para o Centro?. O que nós temos é que representar os setores que representamos, mas conseguirmos dialogar com setores sociais que estão se distanciando de nós. Esse é o grande desafio do PT. Não é se afastar dos seus. É manter o pé firme no nosso campo, mas entender que precisamos dialogar com uma parcela da sociedade importante que está se distanciando de nós. A classe média operária, que gerou a massa crítica que pariu o PT, a CUT, os partidos de esquerda e a redemocratização do Brasil. Essa classe média operária está diminuindo e tem uma outra classe trabalhadora se formando que estamos com muita dificuldade de dialogar com ela. Quando a gente não dialoga com essa classe trabalhadora com a realidade dela, ela vai para o antissistema. E o que a gente tem que ter claro? O voto antissistema é da Direita, não é nosso. A esquerda sempre defendeu o Estado – “diferentemente do marxismo que defende o fim do Estado” – e que hoje é preciso debater uma “reforma” desse Estado. Outra questão que temos que colocar na agenda é a reforma do Estado. É evidente que existe um distanciamento entre representante e representado, entre Estado e sociedade civil. E este distanciamento está virando um abismo. Você vai para a periferia e conversa, especialmente com a juventude, que entende que a política é ascensão social, que quem está na política está para ficar rico. Aquele encantamento com a política como instrumento de mudança da realidade, de transformação, esse encantamento se perdeu. E nós precisamos recuperar esse encantamento e não é com discurso. É com ações concretas. Primeiramente de diminuir esse distanciamento. As pessoas precisam entender que nós somos instrumentos da luta para transformação da vida delas, é preciso que haja um reencantamento pela política como instrumento de transformação e representatividade”. (Fórum, 18/11/2024).

João Batista dos Mares Guia, num diálogo que realizamos, se convenceu da nossa estratégia da despolarização política. Fomos eu, José Prata, e o Ivanir no lançamento do livro de João Batista dos Mares Guia. Na exposição, ele elogiou muito o PT Contagem, mas fez uma reparação dizendo que a despolarização era uma experiência de Contagem mas que não se aplicava no Brasil. Fiz uma intervenção longa, de 15 minutos, defendendo que era bom para Contagem era bom também para o Brasil. No dia seguinte, ele me mandou um recado: “Acabo de assistir a gravação de sua exposição, na ocasião do lançamento do meu livro, em Contagem. Como afirmei, subscrevo-a. Sua exposição foi, além de oportuna, irretocável. Que o nosso futuro presidente do PT nacional a assista. Um abraço”.(…) João Batista dos Mares Guia, fez uma síntese notável do projeto político nosso de Contagem, “que rompe bolhas ideológicas e conquista corações e mentes pelo que entrega, não pelo que combate”. Disse ele: “O discurso de José Prata Araújo, no lançamento do meu primeiro fascículo, da coleção Brasil e Democracia, realizado em Contagem dias atrás, oferece uma leitura aguda do cenário político atual e converge com o espírito do livro: a necessidade de construir alternativas à lógica da polarização e do escracho, que têm marcado o ambiente nacional. José Prata aponta que a política afirmativa, construída com coragem e clareza de princípios, mas sem antagonismos gratuitos, tem se mostrado eficaz em Contagem. A experiência local é, assim, um exemplo concreto de como se pode governar com firmeza de posições, sem cair nas armadilhas da agressividade ou da negação do outro — postura que, no plano nacional, também inspirou os primeiros mandatos de Lula.(…) Em Contagem, as alianças com setores do centro democrático, a defesa da diversidade em moldes universalistas e a recusa ao uso da política como vingança ajudaram a construir uma base ampla, que rompe bolhas ideológicas e conquista corações e mentes pelo que entrega, não pelo que combate. José Prata toca num ponto crucial: o enfrentamento à extrema direita não se dá por mimetismo, mas pela afirmação de outro projeto de sociedade. A experiência de Marília Campos e da Frente Ampla que lidera tem demonstrado que é possível ampliar apoios, governar com estabilidade e disputar a hegemonia política sem recorrer ao ódio. Isso não significa neutralidade, mas sim uma estratégia consciente de transformação pela via do diálogo, da política pública e da esperança”.

José Luís Fiori: É a “esperança de futuro” que abrirá portas e janelas de novos tempos. José Luís Fiori iluminou a nossa militância política em Contagem e é uma das nossas principais referências teóricas do petismo local, quando fez um diagnóstico do “tempo histórico” da extrema direita, que é o fim das épocas da globalização neoliberal, que deixam um rastro de desigualdade, desesperança, guerras, conflitos políticos e religiosos, ódio e ressentimentos. No artigo “Revolta e esperança”, José Luís Fiori diz: “Vivemos uma verdadeira guerra entre duas visões da humanidade, absolutamente antagônicas e, ao mesmo tempo, no caso brasileiro, entre duas concepções opostas – de estado, de sociedade, de economia, de sustentabilidade, de cultura, de civilização e de futuro. Neste momento é fundamental que os progressistas apresentem à sociedade brasileira um projeto de futuro que seja inovador e que seja diferenciado, combinando uma verdadeira estratégia de guerra contra a desigualdade, com um projeto simultâneo de construção de uma nação, popular e democrática, e de uma grande potência pacificadora capaz de influenciar as gigantescas transformações mundiais que estão em pleno curso. É fundamental neste momento conscientizar e conquistar o apoio de todos os brasileiros para um novo projeto de futuro solidário e compartilhado por todos, capaz de vencer a distopia teológica e ultraliberal da salvação de cada um por si, mesmo que seja contra todos os demais, com a benção de Deus e a mão invisível do mercado. Nesta hora, mais do que nunca, é preciso inovar e apresentar com coragem e absoluta clareza, ideias e projetos, mas sobretudo, um “sonho de futuro” capaz de sintonizar com a imaginação e a esperança de todos os brasileiros”.(Outras Palavras, 13/10/2022).

Trabalhar pela esperança, propõe Pepe Mujica. Pepe Mujica, na campanha eleitoral do Uruguai, agora em novembro de 2024, quando o grande estadista, em discurso quase de despedida, defendeu uma visão muito parecida com a nossa de Contagem. Disse Mujica: “Porque é preciso um governo que abra o coração e a cabeça com todo o país. Não é poético o que eu digo. Alguém tem que dizer. Um velho. Não ao ódio! Não à confrontação! É preciso trabalhar pela esperança! Até sempre…lhes dou meu coração. Tenho que agradecer à vida! Porque quando esses braços se forem haverá milhares de braços. Obrigado por existir. Até sempre!”. Viva Pepe Mujica!

Juarez Guimarães, intelectual e nosso companheiro do PT Minas, e “a macro-economia da esperança”. Juarez Guimarães escreveu um longo artigo recentemente, publicado em diversos sites, denominado “A macro-economia da esperança”, onde ele defende uma estratégia essencialmente afirmativa para derrotar a extrema direita. Segue a apresentação do artigo: “A formação de uma consciência democrática-popular no Brasil, liderada pelo presidente Lula, pode mudar o cenário político e econômico do país. Há hoje um processo inicial de formação de consciência do campo democrático-popular, do qual participa ativamente a liderança do presidente Lula, que é preciso mudar. Esta formação de consciência, se decisivamente aprofundada, tem o potencial de criar as condições políticas necessárias para impor à extrema direita brasileira uma derrota histórica nas eleições presidenciais de 2026. A primeira manifestação desta consciência identificou o “campo da comunicação” do governo como necessário de ser profundamente alterado. De fato, neste campo, as esquerdas brasileiras e o campo democrático sofrem historicamente de uma desvantagem histórica e estrutural diante das mídias empresarias, profundamente agravada com a formação das redes bolsonaristas e da extrema-direita em geral na internet. Diante delas, identificou-se corretamente a ausência de um sistema e uma dinâmica pública que permitisse ao governo e, em particular, à liderança de Lula comunicar-se diretamente com a maioria do povo brasileiro neste novo contexto de desinformação e de extrema polarização”.

Continua Juarez: “Em um segundo momento, e vinculado a esta consciência em formação, construiu-se a formulação de que faltariam ao governo “marcas populares”, que estabelecessem com nitidez a identidade do governo e que contrastassem com a extrema direita e a direita neoliberais. Na ausência delas, haveria uma dificuldade de apropriação política pública e na base social democrático-popular dos avanços conquistados pelo governo. Mais além da comunicação, portanto, haveria uma necessidade de concentrar e dar dinamismo a algumas agendas políticas e políticas públicas, mais importante ainda em um governo de ampla coalizão com partidos e lideranças conservadoras. Já há, decerto, um terceiro momento de formação da consciência que identificou na ação do Banco Central sob a direção do bolsonarista Roberto Campos um movimento altista dos juros e de especulação com o câmbio, fomentadores da recessão e da inflação, e que exigiu a formação imediata – mesmo que muito iniciais e limitadas – de ativação do crédito, da renda ( permissão de saque do FGTS para demitidos que aderiram ao saque-aniversário, que se calcula tem um potencial de ativar 12 bilhões de reais na economia), e, principalmente, medidas iniciais de controle da inflação de alimentos ( redução de impostos sobre importação, pressão para que os estados adiram a um redução do INSS da cesta básica). O governo Lula está cumprindo também a proposta feita na campanha de isentar do pagamento do imposto de renda aqueles que recebem até cinco salários mínimos, aliviando de 25% a 75% em escala progressiva os que recebem de 5 a 7 mil reais por mês e taxando mais aqueles que recebem mais de 50 mil por mês. A pesquisa Datafolha de 10 de abril registrava um apoio de mais de 70% dos brasileiros a estas medidas.(…) Há, portanto, indícios iniciais e mesmo limitados do que se poderia chamar da consciência de uma macro-economia popular e dos trabalhadores, que se chama aqui de “macro-economia da esperança”, ou seja, aquela incontornavelmente necessária para restabelecer e até ampliar o circuito da esperança que vincula a maioria do povo brasileiro à dinâmica e futuro do governo Lula”.

José Prata Araujo é Economista

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