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José Prata: PT Contagem tem chapa única e prioriza a unidade e não a disputa

O PT Contagem tem demonstrado enorme sabedoria política priorizando a unidade e não a disputa política. Em tempos de guerra contra a extrema direita e o fascismo é preciso relevar as nossas diferenças e priorizar aquilo que nos une para enfraquecer e derrotar o extremismo político. Foi este sentimento que prevaleceu agora no Processo de Eleição Direta – PED, quando, em Contagem, variadas correntes internas e lideranças dialogaram e definiram pela formação de uma chapa única para o diretório municipal, mantendo na presidência o companheiro Adriano Boneco. Eu, José Prata, deverei ficar na Secretaria Geral, fazendo aquilo que tenho feito nos últimos anos vitoriosos em Contagem: coordenando a implementação das decisões políticas e organizativas de nosso Partido. (…) Minha sugestão, inclusive, é que aproveitemos o momento político da chapa única para antecipar as tarefas do próxima direção, reunindo, nos meses de maio e junho, os novos dirigentes e os que estão saindo da direção para que nos concentremos, desde já, no debate e na elaboração de um contundente plano de trabalho para 2025 e 2026, tendo como metas: a) a vitória de Lula, de nosso candidato a governador e de senadores em Contagem; b) a eleição de deputados e deputadas de nossa cidade para a Câmara dos Deputados e para a Assembleia Legislativa; c) e é preciso consolidar um “PT pela base” em Contagem. São tarefas fundamentais para que almejemos nos transformar numa força política respeitada e competitiva para continuar o trabalho de Marília em 2028. Como disse, brilhantemente, o deputado Miguel Ângelo: “Contagem não será “pós-Marília”, vai ser sempre “com Marília”.

Mas em Contagem, também, priorizamos a aproximação política e o máximo de entendimento entre o PT e o governo Marília Campos. Partidos de esquerda e governos progressistas, nestes tempos de guerra contra a extrema direita, precisam de maior unidade e planejamento comuns. Os partidos de esquerda tem uma dialética profundamente contraditória: eles representam as reivindicações da sociedade de baixo para cima, mas conquistam também governos que tem compromissos programáticos, mas também tem limitações de toda ordem políticas e econômicas para atender as demandas da sociedade. Os casos de Lula e Marília, grandes lideranças sindicais, que ocupam cargos importantes no Poder Executivo espelham bem esta contradição. Certa vez, escrevi sobre a trajetória de Marília explicando estas contradições: “Quase nada que fizemos em Contagem aconteceu por acaso. Veja só a construção impressionante que fizemos em nossa cidade. Luís Felipe Alencastro, historiador, fez certa vez uma síntese que se tornou uma referência para nós: “O objetivo de toda esquerda democrática é transformar a maioria social em maioria política”. Foi isto que aconteceu em Contagem com a nossa companheira Marília Campos que, como prefeita, se vinculou à maioria social, fez uma aliança histórica da classe média e da população mais pobre, que fizeram dela Tetra, quatro vezes prefeita de Contagem e três vezes deputada eleita com os votos de nossa Cidade.

É bom destacar que Marília fez uma transição muito interessante de sindicalista para prefeita, uma trajetória muito parecida com a do nosso presidente Lula. Marília foi sindicalista e presidenta do Sindicato dos Bancários e depois ocupou por três vezes o mandato executivo, como prefeita de Contagem e, agora, foi eleita para um quarto mandato. Um balanço indica claramente que os movimentos sociais, em geral, são mais radicais, mas também, por representarem interesses concretos de segmentos da sociedade, são mais corporativos. Já no Poder Executivo, os administradores de esquerda, em geral, são mais moderados, mas, tendo que atender demandas de toda a sociedade, são também mais universais. Marília se dedicou com muita garra à luta dos bancários por melhorias salariais, emprego e por planos de saúde e de Previdência, auxílio-alimentação e creche; mas, na Prefeitura, teve que avançar para uma visão mais universal, para atender demandas de saúde, educação, urbanização de toda a população. Ou seja, Marília, como Lula, era mais radical como sindicalista. Como prefeita, ela é mais moderada, mas também é uma líder política mais universal”.

A militância de esquerda precisa compreender isto para não tratar as contradições de movimentos sociais e de governos de esquerda como “traição”. Partindo deste pressuposto, considero que neste tempo histórico, de guerra contra a extrema direita, devemos aproximar o PT de nossos governos, buscando o maior consenso possível para evitar conflitos. Foi um erro, na minha opinião, as críticas, muitas vezes até duras do PT ao ministro Fernando Haddad, até porque não existe política econômica do ministro, a política econômica é de Lula. Erro ainda maior foi deputados do PT votarem contra mudanças no arcabouço fiscal no Congresso Nacional. Em Contagem é esta aproximação do PT Contagem e do governo Marília Campos que explica, em grande medida, a força e a popularidade enorme de nossa prefeita.

O PT é um partido “disfuncional”; não adianta apelos pela organização de base sem grandes mudanças teóricas e práticas. Existe um apelo e vontade generalizada por um “PT pela base”. Mas apenas a nossa vontade e o voluntarismo não irão criar as condições para que isso aconteça. Veja só: muitos defendem que nossas prioridades, em termos de bases sociais, deve ser a aproximação com os chamados empreendedores; mas pesquisa recente mostra que Lula tem mais votos neste segmento do que entre os trabalhadores celetistas. Temos no Brasil 47 milhões de trabalhadores celetistas; os sindicatos estão enormemente enfraquecidos e se o sindicalismo elegeu no passado o presidente da República, governadores, senadores, deputados, prefeitos; nos dias de hoje não consegue eleger nem vereadores nas grandes cidades. È preciso, sim, se aproximar dos trabalhadores informais, mas nosso maior desafio é retomar os laços políticos e orgânicos com os trabalhadores de carteira assinada; para isso o projeto de isenção do IR até R$ 5.000,00; o fim da escala 6X1; o consignado para os trabalhadores celetistas, são propostas interessantes. Mas precisamos deslocar nossa construção partidária para o território, para os municípios, que são a base e o “chão do Brasil”. Precisamos equacionar politicamente a fragmentação de nossas direções pelos mandatos parlamentares com direções mais representativas, como temos em Contagem, com capacidade política e ascendência sobre a militância, os parlamentares e nosso governo. E precisamos “destravar” a organização de base do PT Contagem, empoderando s núcleos de base, as regionais do e os setoriais do nosso Partido, fazendo de nossa cidade um “laboratório” do PT de base que tanto sonhamos. E não dá para fazer o trabalho de base “olho no olho” do povo sem recuperar as mídias sociais tradicionais, como jornal, carros de som, e outras. É destas questões que trato a seguir, que estão na cartilha de minha autoria “Análises e propostas do petismo de Contagem para o PT Nacional e para o governo Lula”.

Sugerimos ao PT uma nova forma de organização partidária, a partir dos territórios, a partir de nossos municípios, sem abandonar a organização em outros segmentos como o sindicalismo e outros setores sociais. Ou o PT se reconstrói a partir das cidades, de baixo para cima, no “chão do Brasil”, ou nosso partido não terá futuro. Antes das eleições municipais, travei um diálogo pelo ZAP com um grande interlocutor político meu. Eu disse para ele: “A derrota do extremismo, em minha opinião, deve ser de baixo para cima, no chão do Brasil, em nossas cidades. Contagem pode virar um exemplo para o Brasil. Marília está inspiradíssima e pode liderar este grande combate democrático”. Meu interlocutor me respondeu: “Não há outra opção. É na base que se muda a história. As vitórias nacionais acabaram encastelando lideranças, que se afastam do povo. Um perigo! Sorte a nossa de ter a Marília”. Diálogo maravilhoso! Repetindo a frase que explica a nossa história e que define o nosso futuro: É na base que se muda a história!

Contagem, com Marília vive uma “explosão” de participação popular; é preciso que está maré participativa “transborde” para dentro do PT Contagem. O governo Marília Campos tem um amplo sistema de participação popular, que, além dos conselhos de participação social tradicionais, implantamos conselhos regionais nas oito regiões da cidade e mais recentemente foi eleito e empossado o Conselho de vilas, favelas e periferias. Contagem tem uma política de massas de cultura, lazer e esportes, que funciona articulada com a economia solidária, que dá suporte às atividades e, ao mesmo tempo, garante a vida de dezenas de famílias. Contagem tem festa e lazer o ano inteiro; são 15 grandes atividades no calendário da cidade, atividades sempre lotadas. Um grande destaque é o Luzes de Natal, que leva às praças todo ano em torno de 400 mil pessoas, numa cidade que tem 650 mil pessoas. Veja a corrida “Contagem por Todas”, em homenagem ao mês da mulher. Impressionante: as inscrições para a corrida e para o kit da corrida são abertas no site da Prefeitura, fica tudo congestionado e em menos de 1 hora são cinco mil mulheres inscritas, que comparecem em massa na avenida João César de Oliveira. Difícil explicar esta “explosão popular” em Contagem. Recentemente formulei uma tese. Nosso companheiro Etevaldo Brito Dias, professor aposentado, fez uma descrição monumental ao escrever certa vez: “Marília não brilha sozinha, ela é uma estrela no meio da constelação”. Eu agora acrescento: “Marília mobiliza a cidade porque ela é uma liderança do protagonismo coletivo”.

Que fique claro: mais que criar as condições para a continuidade do PT na Prefeitura de Contagem, em 2028, é preciso pensar grande: precisamos organizar o povo para não permitir retrocessos, para consolidar aquilo que conquistamos em nossa cidade; onde os avanços de nossos governos se incorporem na vida política, econômica, social, ambiental, cultural de nossa cidade. Ou seja, a garantia da continuidade de nosso projeto democrático e popular em nossa cidade depende, em grande medida, de um PT forte, respeitado e consolidado nos bairros e nas oito regiões em aliança com partidos de esquerda e do centro democrático. Não sou de comparar lideranças petistas com o próprio PT. Lideranças petistas, por mais importantes que sejam, não existiriam se não fosse o projeto coletivo e combativo do PT. Portanto, em minha opinião, Marília “não é maior que o PT”; o “PT é muito maior com Marília”. Que estejamos à altura deste enorme desafio. Vamos fortalecer o “protagonismo coletivo” em nossa cidade. Para isso precisamos fazer com que a “maré participativa” dos governos Marília “transborde” para dentro do PT Contagem; “transborde” para as nossas instâncias participativas: núcleos, regionais, setoriais e para os movimentos sociais em que estivermos presentes.

Precisamos partidarizar os mandatos parlamentares e construir direções mais representativas; este é um dos maiores desafios que vai definir o futuro do PT. O Brasil é um dos poucos países grandes do mundo que adota a lista aberta, onde os eleitores “votam na pessoa” e não na “lista partidária”. Mas a lista aberta e o predomínio quase absoluto dos parlamentares sobre a vida partidária precisa ser modificado profundamente. Os parlamentares monopolizam tudo: a representação nos nossos governos; os cargos nos legislativos; os cargos nas instâncias partidárias; as finanças partidárias e para as eleições. E mais ainda: a lista aberta é autofágica porque como o adversário de um parlamentar do partido é outro parlamentar do próprio partido se reparte a máquina partidária entre todos, mas ninguém lidera quase nada. Cada um cuida da “sua própria vida”. Não tem um planejamento coletivo; é cada um para si e muitos vezes os cargos exercidos por parlamentares se misturam com seus mandatos. Este tipo de partido verticalizado, sem a presença forte de segmentos representativos da sociedade (militantes sociais, intelectuais, técnicos respeitados) não dá conta das enormes tarefas de reconstrução partidária. Em Contagem temos uma ótima experiência: o ponto central de nossa reorganização foi a constituição de uma direção muito representativa de nosso acúmulo na Cidade, com membros da Executiva do Partido, três de nossos principais formuladores, nomes representativos do governo Marília, vereadores e vereadoras. A nova direção do PT Contagem continuará sendo composta por nossas principais lideranças políticas, além disso os quadros políticos que ficarem de fora das direções serão sempre bem vindos em nossas reuniões da Executiva e do Diretório.

O PT precisa rever sua vinculação com os movimentos sociais; incorporar o debate no dia a dia do Partido; empoderar os setoriais e núcleos como direção política nos movimentos e trabalhar por movimentos sociais mais amplos e unificados. O PT foi fruto da confluência de segmentos sociais e ideológicos bastante diversos: sindicalismo combativo que construiu a CUT; setores progressistas da Igreja Católica, como os adeptos da Teoria da Libertação; partidos de esquerda clandestinos mais à esquerda; setores importantes da intelectualidade, dentre outros segmentos sociais. Depois de muitos desencontros, uma resolução partidária exigiu corretamente a “diluição” das organizações políticas autônomas no partido e, para garantir a pluralidade, formalizou a existência de tendências. Mas isto resultou em um modelo de organização muito problemático: a verticalização por tendências, onde quem não pertence a uma tendência não tem “identidade partidária”, e é considerado “independente”. Eu, como “independente”, sempre brinco com meus amigos: “Se eu sou independente, então o PT é uma federação de partidos e eu sou um filiado avulso na federação”.

Na verdade a implantação das tendências foi somente no plano institucional, nos movimentos sociais as tendências são autônomas e atuam diretamente sem qualquer mediação partidária. As composições partidárias se deram somente no plano institucional, nos diretórios, porque ali se encontra decisões fundamentais, como a definição de candidaturas, finanças, participação nos governos, dentre ouras atribuições; mas nos movimentos sociais, que não tem a atratividade institucional, o PT nunca chegou a se compor como partido; as correntes são autônomas e atuam sem mediação partidária. Eu mesmo e Marília, como petistas, quando sindicalistas bancários, éramos da “CUT pela Base” e vivíamos sempre meio em guerra com os petistas da “Articulação Sindical”.

E mais: sem mediação partidária, nossa atuação nos movimentos sociais se tornou cada vez mais fragmentada, cada corrente, parlamentar, cria o “seu” movimento social, muitas vezes, com cinco, dez militantes, apenas para dar argumento e marca de vinculação aos movimentos sociais. Não são movimentos nem “cartoriais”, porque nem em cartórios são registrados.

Com isso, as lutas sociais deixaram de ser “assunto de partido” e raramente, ou quase nunca, foram pautadas nos encontros e congressos partidários; assuntos “partidários” pautados nos congressos e encontros são: discussão de estatuto; definições do perfil ideológico do partido; táticas eleitorais; resoluções sobre conjuntura. As secretarias setoriais foram completamente esvaziadas por não terem o que coordenar, já que não existe partido organizado e unificado nos movimentos sociais. Esta organização partidária “meio Frankenstein” não impediu o forte avanço do PT nos momentos de ascenso das lutas sociais, mas nos últimos anos vem impedindo a renovação e revitalização da vida partidária.

O Partido precisa discutir isto urgentemente, passando a ser uma referência organizada nos movimentos sociais (onde as tendências atuam atualmente como partidos autônomos), com a “diluição” ainda que tardiamente, das tendências nas secretarias partidárias e núcleos de base. E veja que coisa potente: se adotamos o território como a nova âncora fundamental da reconstrução partidária, podemos liderar a criação de grandes movimentos sociais nos municípios unificando não somente os petistas mas também todos os segmentos progressistas. Movimentos unificados de mulheres, de jovens, de pessoas LGBT+, de defesa da igualdade racial, de meio ambiente, de proteção dos animais, de moradia. Quem sabe esta proposta não pode levar a uma reorganização de base sem precedentes da esquerda brasileira, sendo o instrumento que nos falta para capitalizar politicamente para o Partido os enormes avanços de nossos governos nas cidades, no “chão do Brasil”. Repetindo, mais uma vez, a frase que explica a nossa história e que define o nosso futuro: É na base que se muda a história!

José Prata Araújo é economista.

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