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Marco Antônio Silveira: Mobilidade Urbana e Saúde

Você já parou para pensar em como a forma como nos deslocamos pelas cidades afeta diretamente a nossa saúde? A mobilidade urbana é um dos pilares da qualidade de vida nas cidades, e sua relação com o bem-estar físico, mental e social é cada vez mais evidente.

Nas cidades de médio e grande porte, os deslocamentos diários se tornaram um desafio. Além do custo financeiro — seja com automóvel, ônibus, metrô, moto, trem ou outro meio de transporte —, existe o custo oculto: o impacto direto na nossa saúde. Enfrentar congestionamentos, superlotações e atrasos afeta não apenas nosso tempo e bolso, mas também nosso equilíbrio emocional e físico.

Quantas vezes você já ouviu (ou mesmo disse) frases como:

Cheguei atrasado para a reunião, o trânsito estava engarrafado demais hoje cedo.

Saí cedo de casa, mas os ônibus estavam tão cheios que nem paravam no ponto. Me atrasei 40 minutos.

Essa avenida vive congestionada por causa de acidentes. Preciso sair 15 minutos mais cedo todos os dias.

Ir ao Mineirão virou um transtorno. O estacionamento é caro, e na saída é mais de uma hora preso no trânsito.

Tem muita motocicleta no trânsito e muitos motoqueiros fazendo manobras perigosas. Fico apavorado.

Essas queixas refletem o cotidiano de milhares de pessoas e mostram o quanto a mobilidade urbana impacta diretamente nossa saúde e bem-estar. Mas como isso se relaciona com o tema proposto?

Pense comigo…

O deslocamento em si não é nosso objetivo final. Nós nos movemos para realizar atividades como trabalhar, estudar, cuidar da saúde ou ter momentos de lazer. A mobilidade, portanto, é uma atividade meio, não fim. E ninguém quer perder tempo, dinheiro e saúde com algo que não é o objetivo principal do dia.

Cada obstáculo nos deslocamentos representa um custo — não apenas financeiro, mas também emocional: impaciência, frustração, ansiedade e estresse. Ficar preso no trânsito com fome, sede ou sob calor intenso gera uma sensação de impotência. E se estivermos em pé dentro de um ônibus lotado, esse desgaste se multiplica. Chuva, calor excessivo, más condições de transporte — tudo isso potencializa o mal-estar e contribui para o adoecimento físico e mental.

Além disso, o tempo perdido no trânsito compromete o descanso, o lazer e a convivência familiar. Sem contar a poluição do ar gerada pelos congestionamentos, que afeta diretamente nossa saúde respiratória e cardiovascular.

A realidade também aparece nas artes. Gonzaguinha, por exemplo, retratou com sensibilidade em sua música “Dias de Santos e Silvas” o cotidiano de quem enfrenta o transporte público:

O dia subiu sobre a cidade que acorda e se põe em movimento, um despertador bem barulhento badala bem dentro em meu ouvido; levanto e engulo o meu café, corro e tomo a condução, que como sempre vem cheia, anda, para e me chateia….

… a noite desceu sobre a cidade, nas filas calor, suor, cansaço, meu corpo está que é só bagaço, e se está de pé é de teimoso; eu desejando minha cama, furam a fila e alguém reclama, louvaram a mãe do rapaz que diz que faz e desfaz; e só falta uma briguinha e eu ir para o xadrez, pobre não tem mesmo vez, não dá sorte ou dá azar…

E os profissionais do volante?

Motoristas de ônibus, caminhão ou táxi muitas vezes enfrentam jornadas exaustivas de trabalho, expostos continuamente a essas condições adversas. É comum que desenvolvam problemas de saúde que, com o tempo, os afastem do trabalho de forma definitiva.

E o pedestre?
As cidades, em geral, não foram planejadas para quem anda a pé. Calçadas estreitas, ausência de passarelas ou faixas de pedestres e a insegurança tornam os deslocamentos perigosos e desconfortáveis, afetando também a saúde de quem opta — ou depende — de caminhar.

E os sinistros de trânsito?

Acidentes, que muitas vezes resultam em morte ou invalidez, têm impactos profundos. Ocupam leitos hospitalares, sobrecarregam o sistema de saúde e destroem famílias emocional e economicamente. As marcas deixadas vão além do corpo — atingem também a saúde mental dos sobreviventes e de seus entes queridos.

Para melhorar a mobilidade e, consequentemente, a saúde da população, é preciso pensar em soluções integradas: investir em transporte público de qualidade, criar ciclovias seguras, ampliar calçadas e áreas verdes, além de incentivar o urbanismo sustentável e participativo.

A forma como nos movimentamos diz muito sobre a cidade que queremos construir. É preciso repensar a mobilidade urbana, pois assim estaremos na verdade, criando caminhos mais saudáveis, humanos e sustentáveis para todos.

Por fim, proponho que façamos uma reflexão sobre as considerações que expusemos nesse artigo, como um ponto de partida para pensarmos que é imprescindível colocar a questão da mobilidade urbana como uma das prioridades de cada um de nós e sobretudo do poder público, para que possamos ter uma vida menos estressante e mais saudável em nossas cidades.

Marco Antônio Silveira é Engenheiro Civil e especialista em engenharia de tráfego e transportes

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