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Marcos Coimbra: Vai ser no primeiro turno?

Carta Capital – 17/06/2022

É impossível responder à pergunta com certeza absoluta, mas a chance de uma vitória de Lula em 2 de outubro tem aumentado consistentemente

Há outras, mas a única pergunta que resta é se Lula vence a eleição no primeiro turno ou no segundo. No longo prazo, uma dúvida de pequena importância.

Desde o início efetivo do processo eleitoral em abril do ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal devolveu ao ex-presidente o que lhe havia sido ilegalmente subtraído, tudo indicava que era para esse cenário que caminhávamos. E aqui chegamos.Muita gente se ofereceu como opção de terceira, quarta ou quinta via. Muitos interesses se conjugaram para construir e lançar outros nomes. Mas só ficaram Lula e o último zumbi produzido nos laboratórios de nossa elite para tentar derrotá-lo.

É impossível responder à pergunta com certeza absoluta. Mas a probabilidade de uma vitória do petista em 2 de outubro, data do primeiro turno, tem consistentemente aumentado desde o começo do ano. Em primeiro lugar, porque <strong>as intenções de voto em Lula estão em crescimento</strong>. Se considerarmos os resultados médios mensais de todas as pesquisas relevantes (as presenciais, feitas por meio de entrevistas pessoais) realizadas de janeiro para cá, vemos que Lula foi de 50% dos votos válidos para 49% em fevereiro, alcançou 51% em março e se manteve acima da metade, na margem de erro, em abril. Em maio, ultrapassou-a e chegou a 53%. Nas pesquisas feitas até agora em junho, repetiu essa taxa. Nas mais recentes, obtém 54%. Algo que parecia uma hipótese no fim do ano passado tem sido confirmado mês após mês.

Em segundo lugar, o conjunto das pesquisas mostra que Bolsonaro não consegue crescer por nada que faça. Note-se que o governo dedica à tentativa de melhorar suas chances de reeleição o maior volume de recursos públicos de nossa história eleitoral, com a tolerância daqueles que se horrorizavam com o gasto social dos governos do PT. Se considerarmos a multiplicação de programas de puro populismo distributivo, sem quaisquer finalidades de promoção e melhora estável dos beneficiários, o capitão torra, mensalmente, o equivalente a um Bolsa Família anual. Seus apaniguados na Câmara e no Senado fazem festa com as tais “emendas de relator”, ao destinar verbas para comprar apoios locais, pagar “artistas” e alegrar o povo (quem sabe, para que pare de se preocupar com a vida).

E, como Bolsonaro não tem mesmo nada de útil a fazer, aloca perto de 80% de seu tempo a fazer campanha país afora, com o dinheiro dos contribuintes. Enquanto isso, a ralé militar grunhe para a população e parte da liderança religiosa faz coro, prometendo as chamas eternas para quem não votar como manda. A imprensa corporativa reprova o cafajestismo do chefe, mas está tão comprometida com sua agenda oportunista que não vai além da crítica superficial. Ainda há dinheiro para ganhar, como mostra a jogada da privatização da Eletrobras no apagar das luzes.

Nada que Bolsonaro, seu governo e aliados tenham feito parece ter produzido efeito em suas intenções de voto. De janeiro para cá, ele melhorou, no voto de primeiro turno, somente por consequência de fatores externos à sua campanha: a saí­da do páreo de Sergio Moro e, depois, de João Doria. É verdade que parte expressiva do eleitorado de ambos retornaria ao capitão em um segundo turno, mas, pelo que as pesquisas sugerem, nem todos.

A soma dos votos em outros nomes (sem considerar Ciro Gomes) foi de 15% para 5% dos válidos, entre janeiro e junho. O capitão melhorou 6 pontos porcentuais, de 28% para 34%, Ciro ficou igual e os demais foram para Lula. Resultado: Bolsonaro, que precisava ter um crescimento espetacular, reduziu a diferença para Lula em apenas 2 pontos. Ciro, que teria de subir estratosfericamente, não se moveu. Com isso, Lula se aproximou de uma vitória no primeiro turno, chance que aumentaria se a metade dos simpatizantes de Ciro, que pretende votar no petista no segundo turno, optar por fazê-lo já no dia 2 de outubro.

Aritméticas à parte, pesquisas qualitativas em andamento sugerem que parcelas crescentes do eleitorado sentem que não precisam mais tempo para escolher entre Lula e Bolsonaro, não se mostram interessadas em conhecer “novidades” de última hora e não veem Ciro Gomes como opção. Para a grande maioria do povo, quanto menos tempo tivermos desse capitão, melhor.

Para Lula, em suas duas eleições, não vencer no primeiro turno nunca foi problema e ele próprio disse, depois da eleição de 2006, que foi melhor vencer com 60% dos votos no segundo que por 50% e poucos no primeiro. Neste ano é diferente, mas o que importa não é o dia em que o capitão deixa de atrapalhar o Brasil. É ele ir embora. Se depender do voto, irá.

Marcos Coimbra É Sociólogo E presidente do Instituto Vox Populi.

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