topo_M_Jose_prata_Ivanir_Alves_Corgozinho_n

SEÇÕES

Moara Saboia: O cala-boca dos mineiros e a ameaça sobre as águas de Contagem

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on print

Demoraram duzentos anos para eleger uma mulher negra na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Mas bastou uma madrugada para calarem o povo mineiro. Às quatro e meia da manhã, 52 deputados aprovaram em primeiro turno, contra apenas 18 votos contrários, a chamada PEC 24, que o povo já apelidou, com precisão, de PEC do Cala a Boca.

Essa proposta, enviada pelo governador Romeu Zema, muda a Constituição estadual para tirar do povo o direito de decidir, por referendo, se as nossas empresas públicas, como a Copasa, podem ser vendidas. É um ataque direto à democracia e ao patrimônio de Minas. Zema propõe e a Assembleia chancela. O governador quer vender o que é do povo, e o Legislativo faz o serviço sujo de autorizar em silêncio, na calada da noite.

Acabar com o referendo popular é acabar com um dos instrumentos mais importantes da democracia. O referendo é o momento em que o povo deixa de ser espectador e assume o papel de protagonista, decidindo diretamente o rumo de temas que afetam sua vida. Retirar esse direito significa concentrar poder nas mãos de poucos, reduzir a transparência e calar a participação popular. É abrir caminho para decisões tomadas a portas fechadas, longe do olhar da sociedade, favorecendo os interesses econômicos de poucos em detrimento do interesse coletivo. Quando o povo deixa de ser ouvido, o Estado deixa de ser democrático.

Mas enquanto eles votavam de portas fechadas, do lado de fora da Assembleia o povo resistia. Trabalhadores, movimentos sociais e a sociedade civil organizada passaram a madrugada inteira em vigília, enfrentando o frio, gritando palavras de ordem e tentando fazer ecoar a voz que lá dentro tentavam silenciar. Foi uma cena dura e, ao mesmo tempo, bonita: o contraste entre a covardia dos que votavam contra o povo e a coragem de quem não abandonou a luta nem de madrugada.

A mobilização popular tem mostrado força. Nesta semana, a base do governo tentou incluir a Gasmig dentro da PEC e o povo barrou. Foi a pressão nas redes, o olhar atento do bloco de oposição e a coragem de quem não se cala que impediram mais esse golpe. Essa vitória parcial é uma prova: porque governo é igual feijão. Funciona na pressão. Nós precisamos estar atentos e fortes e seguir pressionando.

Zema tem o olho tão grande na venda da Copasa que esqueceu do básico: dialogar. Não conversou com o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, que representa o maior mercado consumidor da Copasa em Minas Gerais. Também não conversou com a prefeita de Contagem, Marília Campos, cidade onde a Copasa atua e que é outro polo estratégico da empresa de extrema relevância. Zema, além de querer acabar com a consulta popular, tenta vender o que não lhe pertence sem ouvir quem de fato administra as cidades.

Em Contagem, essa proposta tem impacto direto e grave. Privatizar a Copasa significa colocar em risco a represa da Vargem das Flores, a grande caixa d’água da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Um dos maiores patrimônios ambientais e hídricos de Minas Gerais, responsável pelo abastecimento de centenas de milhares de pessoas.

Uma empresa privada, movida pelo lucro, não pode ser a guardiã de um bem tão essencial. A lógica do lucro não combina com o cuidado com as águas. A represa da Vargem das Flores não é uma mercadoria. É um patrimônio natural, histórico e social que pertence ao povo. Entregar sua gestão ao mercado é colocar em risco o futuro da nossa cidade e de toda a RMBH.

Em Brasília, o povo fala em Congresso inimigo do povo. Pois aqui em Minas, é a Assembleia Legislativa que vem cumprindo esse papel. O inimigo do povo é quem governa de costas pra ele. É quem vende o que é nosso, quem legisla escondido, quem tenta calar a voz da sociedade para agradar a meia dúzia de acionistas.

Mas não vão nos calar. A água é do povo mineiro. A energia é do povo mineiro. E a voz do povo não se privatiza.

Minas vai resistir, nas ruas, nas redes e na história. Porque democracia de verdade se faz com o povo participando, não sendo silenciado.

Moara Saboia é vereadora pelo PT em Contagem

Outras notícias