Passados quase um mês do início do pagamento do Auxílio Brasil com seu novo valor, de R$ 600, e do início da campanha eleitoral oficial, com direto a debate na Band e sabatina dos candidatos pela Globo, e a menos de 30 dias para a votação, as pesquisas sobre as intenções de voto têm um valor preditivo mais alinhado com o resultado que deve sair das urnas. E o que elas dizem? Numa linha, que nada mudou.
Desde as sabatinas e o debate, todas as pesquisas divulgadas apontam na mesma direção.
Levantamento Genial/Quaest divulgado na madrugada da quarta-feira (31/8) mostra que Lula segue liderando a corrida à Presidência com 44% das intenções de voto contra 32% de Bolsonaro. A diferença entre os dois ficou em 12 pontos, a mesma das pesquisas anteriores, de 3 e de 17 de agosto. Essa pesquisa também mostra que a intenção de votos no presidente parou de crescer, apesar de alguma melhoria na avaliação do governo que, nesta rodada, chegou a 30% de ótimo/bom contra 40% de ruim/péssimo – menor percentual na série da pesquisa Genial/Quaest.
Na pesquisa PoderData divulgada em 31 de agosto, a vantagem do petista sobre Bolsonaro estava em 8 pontos percentuais, a mesma registrada 1 mês antes.
Na pesquisa Ipec/TV Globo divulgada na segunda-feira (29), Lula segue com 44% da preferência do eleitorado, contra 32% de Bolsonaro. São os mesmos índices revelados no levantamento anterior, do dia 15 de agosto.
A pesquisa XP/Ipespe, também divulgada em 31 de agosto, registra Lula com 43 e Bolsonaro com 35% – diferença de 8 pontos percentuais, com variação negativa de um ponto em relação ao levantamento anterior, que era de 9 pontos.
Já o Datafolha, divulgado na quinta, dia primeiro 1º, mostra Lula com 13 pontos de vantagem sobre Jair Bolsonaro.
Ou seja, depois de uma semana de campanha de rádio e TV, uma entrevista ao Jornal Nacional, participação em debate na TV; R$ 600 depositados nas contas de mais de 20 milhões de famílias cadastradas no Auxílio Brasil, pagamento de benefícios para taxistas e caminhoneiros, queda no preço da gasolina e diesel, recuo da inflação, ligeiro crescimento do PIB e da taxa do emprego, Bolsonaro segue estacionado e até perdendo espaço, conforme o levantamento.
De forma geral, as pesquisas também reafirmam o favoritismo de Lula no Nordeste e no Sudeste e sua competitividade nas outras regiões, entre as mulheres e no eleitorado de mais baixa renda, inclusive entre quem recebeu o Auxílio Brasil de 600 reais.
Ou seja, trata-se de um quadro geral de grande estabilidade apesar de todo o esforço que o governo vem fazendo para conduzir a economia de modo a produzir bons resultados para Bolsonaro. Definitivamente, somente algum evento de altíssimo impacto poderá alterar o curso da disputa tal como tem se desenrolado até agora. E não há nada no horizonte próximo que aponte nesta direção.
Mais uma vez, as pesquisas mostram que alguns analistas fazem uma leitura errada sobre o modo como o eleitor forma sua opinião.
Como já comentei em outro artigo, a questão social e a economia serão fatores decisivos na definição do voto na eleição deste ano, com pouco espaço para as chamadas questões morais.
Com base nesta percepção, o bolsonarismo apostou pesado numa virada do jogo via a chamada PEC Kamikaze, que distribuiu recursos equivalentes a 4% do PIB, como mostram cálculos do jornalista José Paulo Kupfer. Essa monumental massa de recursos, naturalmente, teria (como teve) efeitos positivos sobre a imagem do governo, mas não foi suficiente para melhorar a imagem de Bolsonaro.
Neste ponto reside o erro de interpretação a que me referi acima sobre como a população forma sua opinião. A decisão de em quem votar reflete uma expectativa de futuro e uma projeção (no caso da eleição presidencial) sobre o país no qual o cidadão e a cidadã quer viver. Considerações sobre a situação da economia fazem parte desse juízo, mas não só.
O fato é que o eleitor já percebeu que as medidas econômicas foram feitas com propósito eleitoral, o que o desobriga de qualquer gratidão. Esta constatação também confirma a sensação geral que, não é de agora, a população tem sobre o presidente. Ele não é uma boa pessoa. É um oportunista e não possui uma preocupação sincera com o povo, particularmente com os mais necessitados. Ele não demostrou compaixão com as vítimas da pandemia, por diversas vezes menosprezou o dilema da pobreza, ele mente, ele agride, é misógino, estimula o ódio sem constrangimentos e, finalmente, a pecha de corruptos “colou” de vez no clã com a compra dos tais imóveis pagos em dinheiro vivo pelo próprio Bolsonaro, reduzido o efeito de sua principal “arma” contra o ex-presidente Lula.
Não surpreende, nesse sentido, que ele seja o presidente candidato à reeleição com a maior rejeição da história política brasileira.
Seu maior problema, entretanto está em um aspecto extremamente singular desta eleição. De modo inédito, temos uma disputa entre um presidente no exercício do cargo e em busca da reeleição e um ex-presidente. Dessa forma, a população tem a oportunidade de avaliar a ambos a partir dos sentimentos e lembranças que despertam como pessoas e como lideranças. Nessa disputa, um homem como Bolsonaro não tem a menor chance contra um homem como Lula – a maior liderança popular da história desse país.
Ivanir Corgosinho é sociólogo.