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Rodrigo Freitas: Integração no transporte é necessidade urgente para o futuro das cidades

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A integração metropolitana no transporte é – ou pelo menos deveria ser – uma questão prioritária nas discussões sobre mobilidade urbana no Brasil. Com o crescimento acelerado das cidades, tornou-se muito necessário construir sistemas de transporte que permitam a articulação eficiente entre diferentes modais, facilitando a mobilidade dos cidadãos e minimizando os impactos ambientais. Essa integração precisa ser feita não apenas como um benefício logístico para o direito constitucional de ir e vir, mas inclusive como um vetor de inclusão social e desenvolvimento econômico.

Recentemente, li sobre sobre a experiência de Goiânia, que se destaca com um modelo de bilhetagem unificada, representando um exemplo de sucesso que pode ser replicado em outras localidades, como a Região Metropolitana de Belo Horizonte. A capital goiana implementou um sistema de bilhetagem unificada que integra ônibus municipais e intermunicipais, permitindo que os usuários transitem entre diferentes linhas com um único cartão. Por óbvio, isso resultou em uma redução significativa no tempo de deslocamento e um aumento na satisfação dos passageiros. Mais do que isso, o cidadão goiano, segundo li, se sente incentivado a utilizar o transporte público – algo que é regra em países desenvolvidos, mas infelizmente é exceção em terras tupiniquins.

O modelo goianiense demonstra que, por meio da tecnologia e de uma gestão eficiente, é possível otimizar o uso do transporte público, promovendo uma alternativa viável ao transporte individual. Durante a pandemia, em meio ao isolamento social, me lembro de ter lido um estudo realizado por Mariana Almeida e Oskar Ferraz(1) em que os autores ressaltam a importância de integrar sistemas de transporte para melhorar a qualidade de vida nas cidades e garantir acesso igualitário aos serviços urbanos.

Vamos falar, então, do nosso quintal. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a situação atual é desafiadora. Apesar de iniciativas isoladas por meio do BRT Move e de estações do BHBus, a integração entre os diversos modais e as diversas cidades conurbadas com a capital permanece fragmentada. Volto a bater na tecla da bilhetagem unificada. A falta de um sistema como este limita o acesso dos usuários ao transporte coletivo, impede uma efetiva integração, cria concorrência entre linhas dos sistemas municipal e metropolitano e, consequentemente, faz cair ainda mais a qualidade da mobilidade urbana.

No entanto, nem tudo é escuridão neste debate. Há esperança com as iniciativas, por exemplo, da prefeita de Contagem, Marília Campos. Reconhecendo a importância da articulação entre os municípios da região metropolitana, Marília tem apostado em encontros com outros prefeitos e com o governo do Estado para discutir a mobilidade urbana e buscar soluções conjuntas. Na minha visão, a cereja do bolo dessa atuação destacada de Marília em prol da mobilidade é a visão dela que é preciso a criação de um consórcio metropolitano, o que viabilizaria, por exemplo, a implementação de um sistema de bilhetagem unificada e o aprimoramento das rotas de transporte.

Governança metropolitana, articulação metropolitana, pensamento metropolitano, visão para além dos limites das cidades. Aqui está a chave! Essa união política, muito para além de partidos políticos e de ideologias dos governantes, é fundamental para superar os desafios apresentados, mostrando que a mobilidade metropolitana deve ser uma prioridade nas agendas das lideranças municipais. Mas, para isso, é preciso que o governo do Estado entenda o papel que tem e atue, inclusive do ponto de vista legislativo, para implementar essa agenda. Há pelo menos 10 cidades no entorno da capital cujas populações seriam beneficiadas diretamente por um sistema integrado. Seria o G10 da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Em visita recente às obras do SIM em Contagem, o deputado estadual João Vítor Xavier deu a tônica ao dizer que Marília hoje é a única prefeita de Minas que consegue colocar todos sentados à mesa para discutir o problema da mobilidade. Porém, as iniciativas em torno de uma integração que seja metropolitana não podem ser resolvidas a partir da atuação dos prefeitos. O transporte metropolitano é responsabilidade do Estado, que, repito, precisa entender seu papel e chamar para si a responsabilidade.

A integração metropolitana no transporte é uma questão que demanda atenção urgente, especialmente na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A exemplo de Goiânia, a adoção de um sistema de bilhetagem unificada e ação una de municípios e governo pode ser o primeiro passo para começar a transformar a nossa mobilidade. Além disso, os esforços da prefeita Marília Campos em reunir lideranças metropolitanas para sanar os problemas de mobilidade devem ser amplamente apoiados. Um olhar mais atento à mobilidade urbana é essencial para garantir cidades sustentáveis e inclusivas, promovendo uma qualidade de vida digna para todos os cidadãos. Volto a dizer: ir e vir é um direito constitucional garantido pela Constituição, mais precisamente no artigo 5º, inciso XV. Precisamos e devemos efetivá-lo, a começar por nossas cidades.

Rodrigo Freitas é Jornalista

(1) ALMEIDA, Mariana L. S.; FERRAZ, Oskar D. D. Mobilidade Urbana e Sustentabilidade. Editora Universidade, 2020.

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