Cara leitora e caro leitor, imagine um motorista que dirige o tempo todo olhando para o retrovisor e que deixa de olhar para a frente. O que acontece? Mais cedo ou mais tarde, ele baterá o carro. Agora, outro exemplo: imagine um condutor que deixa de se preocupar com a direção do seu veículo para afrontar outro motorista que, na visão dele, cometeu um erro. O que acontecerá? Ele provocará uma briga infantil, que poderá vitimá-lo, como já vimos tantas vezes no trânsito das grandes cidades.
Calma! O assunto aqui ainda é a política. A metáfora do trânsito é mero elemento de linguagem para fisgar os queridos leitores e leitoras para que acompanhem meu raciocínio. No plano nacional e no plano estadual, temos visto exemplos do que não se deve fazer do ponto de vista de estratégia e narrativa política. Os números de pesquisas variadas mostram que os caminhos adotados pelo presidente Lula e pelo governador Zema não são as melhores escolhas.
Explicando: Lula e Zema optaram por governar olhando para o retrovisor. Lula não passa uma semana sequer sem citar o nome do antecessor, que capitaneou (perdoem o trocadilho!) um verdadeiro desgoverno em seus anos à frente da Presidência da República. Zema, por sua vez, mantém o mesmo discurso surrado e cansativo há mais de seis anos, dizendo que herdou do governo Pimentel um Estado quebrado, que passou a pagar em dia os servidores e que mora em sua própria casa em vez de um palácio com 32 empregados.
Ao ler o que escrevi agora, alguém já vai me perguntar:
– Freitas, você está comparando Lula e Zema?
– Não – eu responderei seguro.
Entretanto, igualmente seguro, devo dizer que, em alguns casos, os dois estão cometendo o mesmo erro – cada um à sua maneira. Governar olhando para trás não diz nada ao eleitor. Apenas comparar governos não enche a barriga das pessoas, não resolve problemas de mobilidade, não amplia o atendimento na saúde, não gera uma educação mais qualificada. Em Minas, governar olhando para o retrovisor cria, por exemplo, uma cortina de fumaça para que o governador não explique às mineiras e aos mineiros porque elevou a dívida de Minas em mais de 50% desde que assumiu o Palácio Tiradentes.
Por sua vez, Lula insiste em uma comparação estéril com os anos sombrios de Bolsonaro em vez de apresentar, enaltecer e repetir à exaustão os bons números de seu governo. Em meio às provocações ao líder da extrema direita, Lula deixa, por exemplo, de citar com mais ênfase e peito cheio o crescimento do PIB de 3,4%, o pleno emprego e a redução da pobreza. Marketing é repetição, Lula!
Voltando a falar de Zema, o governador mineiro vai além: para tentar se tornar relevante no cenário nacional e emplacar seu nome como candidato a presidente em 2026, ele age como o motorista que provoca o condutor ao lado em uma briga pueril. Zema força o embate com Lula como fez ao comer banana com casca na rede social e protagoniza, a despeito da tradicional educação e hospitalidade mineiras, uma retórica pouco elegante como fez nas últimas agendas em que esteve com o presidente em Betim e em Ouro Branco.
O problema para Romeu Zema é que, mesmo rosnando a todo o tempo para Lula, sua postura não lhe rendeu reconhecimento nacional. Os bolsonaristas raiz não se empolgam. Nos outros Estados, ele não é conhecido nem visto como um líder da direita, conforme pesquisa Genial/Quaest divulgada em fevereiro. Quando questionados sobre quem seria o nome da direita com Bolsonaro fora do páreo, só 2% dos eleitores paulistas apontaram Zema. No Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, 1%. Em Pernambuco e Goiás, nem 1%.
Na melhor das hipóteses, o ato de comer banana com casca para viralizar apenas virou chacota no meio político até mesmo entre congêneres do governador. Ficou apenas no campo de uma provocação vazia e barata, claramente orientada pelo novo marqueteiro. Se quer ter estatura nacional em seu campo político, Zema deveria ir por outros caminhos, que não os insólitos. Os números apontam isso!
No caso de Lula, os números de uma popularidade em queda livre apontados por todas as pesquisas deveriam provocar no presidente uma reflexão. Porque as pessoas desaprovam um governo com bons números para ostentar? A meu ver, é porque seu maior timoneiro está gastando mais tempo na defensiva do que falando de seu governo. Apenas trocar a comunicação sem ouvir de fato o que o novo ministro da Secom tem a dizer é trocar os móveis de lugar. Lembre-se, Lula, de que marketing é repetição. Marketing é afirmativo e não defensivo!
Em Contagem, a prefeita Marília Campos dá o exemplo. Tem suas posições políticas claras e históricas, mas isso não a impede de conversar com quem pensa diferente. Está criando pontes até mesmo com vereadores de oposição ao estender a mão ao diálogo. Mantém uma relação boa e republicana com o governador Zema, a despeito de todas as diferenças que há entre eles.
Muito acima disso, Marília é uma liderança afirmativa. Ela não se preocupa em desconstruir seus antecessores e, sim, em governar a cidade pensando no presente e no futuro. Isso é o que realmente interessa ao cidadão e é, por isso, que mesmo aqueles que estão longe de gostar do PT gostam de Marília. Para ela, as questões políticas devem ficar para os anos de eleição.
Marília não dirige olhando para o retrovisor o tempo todo. Tampouco, “caça briga” com o motorista que está ao lado. Ela faz o dela com competência, capacidade de gestão e de comunicação com o contagense. Talvez por isso, ela nunca tenha sequer esbarrado o carro, mesmo nas curvas mais difíceis e nas estradas mais esburacadas.
Rodrigo Freitas é jornalista