topo_M_Jose_prata_Ivanir_Alves_Corgozinho_n

SEÇÕES

Viviane França: Diálogo com os evangélicos: políticas de segurança e combate à violência contra a mulher

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on print

Em 2024 participei da Conferência Internacional de Mulheres Graciosas, um encontro de mulheres cristãs, organizado pela Pastora Consuello, uma liderança evangélica de Contagem. O tema da minha fala, que contou com a colaboração da Patrulha da Mulher da Guarda Civil e do Consórcio Mulheres das Gerais, foi a importância da informação para superar ciclo de violência doméstica. No entanto, a participação nesse encontro me levou a uma reflexão mais abrangente sobre o papel que as organizações e lideranças evangélicas podem desempenhar na efetivação das políticas públicas nos territórios.

A Pesquisa “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, publicada em 2025 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Instituto Datafolha, revela que 42,7% das mulheres que vivenciaram violência ou agressão por parceiro íntimo ao longo da vida são evangélicas e 35,1% são católicas. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública indica um crescimento em todas as modalidades de violência contra as mulheres no último ano. Mesmo com a Lei Maria da Penha, uma das legislações mais modernas de combate à violência doméstica, ainda existem barreiras significativas no acesso à informação e aos serviços de proteção, principalmente para mulheres de baixa renda e moradoras de periferias.

A população evangélica no Brasil tem demonstrado um crescimento notável e contínuo, conforme indicam os Censos Demográficos do IBGE. Em 1970, o segmento representava 5,2% da população. Esse percentual mais que triplicou até 2000, chegando a 15,4%, e continuou sua ascensão para alcançar 22,2% em 2010. Essa trajetória evidencia uma expansão histórica e significativa.

O crescimento das igrejas evangélicas em Contagem, MG, segue essa tendência nacional de expansão desse segmento religioso. A realização de eventos como a “Marcha para Jesus” em Contagem, com apoio da prefeitura, incluída no calendário oficial da cidade desde 2011, e a presença de grandes nomes da música gospel, indica uma forte e organizada presença evangélica na cidade. Isso não apenas reflete um número significativo de fiéis, mas também a capacidade de mobilização e influência do segmento.

Segundo a jornalista Anna Ballousser, autora do livro O Púlpito – (2024) “em questão de anos, teremos mais evangélicos do que católicos no Brasil. Se os prognósticos demográficos se confirmarem, será um conjunto com maioria de mulheres negras e pobres”.

Esses elementos reforçam duas dimensões fundamentais: a gravidade da violência doméstica entre as frequentadoras das igrejas, e a capacidade que as igrejas têm de ser um canal de acolhimento e de incentivo para que essas mulheres rompam o silêncio, busquem ajuda e denunciem.

Além de considerar crescimento da comunidade evangélica no Brasil, precisamos atentar para o protagonismo social e político que assumem. As igrejas evangélicas estão presentes nos rincões, no Brasil profundo, mas, sobretudo, nas periferias das grandes cidades. Chegam primeiro e onde o Estado não chega, com a coordenação de projetos sociais que atendem de forma irrestrita e acolhedora as pessoas em vulnerabilidade, estabelecendo uma relação de apoio e confiança com membros ou não.

Os dados acima são uma pequena amostra da capilaridade das igrejas e lideranças evangélicas nos territórios e que essas podem e devem se construir cada vez mais como interlocutoras sócias estratégicas para o poder público, principalmente para as prefeituras.

As comunidades religiosas, em seus territórios, podem orientar mulheres em situação de violência para os serviços públicos competentes, somando esforços para que a resposta seja mais rápida e eficaz.

O expressivo número de mulheres evangélicas que vivenciaram violência ou agressão por parceiro íntimo, combinado com o crescimento contínuo e a grande capilaridade das igrejas evangélicas, demonstram que essas comunidades têm um papel essencial no enfrentamento à violência contra a mulher em Contagem. Assim, o Município pode e vem consolidando a colaboração com essas instituições para proteger e fortalecer as mulheres.

No Governo Marília, o enfrentamento à violência contra a mulher é uma sólida realidade. Seguindo as prioridades e diretrizes da Prefeita, empenhamos esforços de diversas esferas do poder público e da sociedade civil para prevenir e reduzir as violências de gênero, além de promover a participação ativa das mulheres em diversas áreas, com autonomia e liderança.

É assim que o Elo por Elas, nosso programa de prevenção e redução da violência contra mulheres em Contagem, instituído em novembro de 2023, ganha ainda mais força. Ao dialogar com a vasta rede de acolhimento que as igrejas representam, estabelecemos laços firmes com as lideranças de fé, criando um elo pungente de informação e fortalecimento por toda a cidade. O sucesso no combate à violência contra a mulher se potencializa quando as iniciativas públicas se aliam à sociedade. Nesse sentido, as igrejas evangélicas são parte fundamental da solução, pois ampliam vozes, fortalecem redes de proteção e auxiliam mulheres a romperem o ciclo de violência, transformando e protegendo cada vez mais vidas.

Em Contagem, compreendemos que a informação é uma das ferramentas mais poderosas no combate à violência. Por isso, o Elo por Elas propõe uma série de ações de capacitação, desenvolvidas para dialogar sobre as múltiplas formas de violência de gênero. Essas ações são multifacetadas e abrangem diferentes públicos, visando fortalecer a rede de proteção à mulher e promover a prevenção.

Considerando todo o estudo técnico e em atenção ao olhar cuidadoso da Prefeita Marília, que orienta a aproximação do poder público das instituições religiosas, no dia 08 de março de 2025 o Elo por Elas iniciou uma nova série de ações direcionadas às igrejas, reforçando todo o simbolismo e importância da data.

Criado para capacitar nossa rede de proteção, equipamentos públicos e estabelecimentos, o programa Elo por Elas está se expandindo. Ele vem ganhando força e capilaridade para levar informação a locais que antes não eram alcançados. A experiência com as igrejas é reveladora: ela nos mostra o papel crucial que as organizações e lideranças religiosas têm ao aproximar a sociedade das políticas públicas e atenuar os efeitos da violência. Para este ano, 2025, nossa meta é clara: queremos capacitar no mínimo 30 instituições religiosas, com a expectativa de que o efeito de multiplicação nos permita alcançar 15 mil pessoas.

A Patrulha da Mulher da Guarda Civil de Contagem, em conjunto com outros agentes da rede de proteção, percorre o município, levando informações e se aproximando da população. Isso fortalece a confiança da sociedade na pronta resposta que a segurança e a rede de proteção oferecem quando os direitos das mulheres são violados. A atuação especializada da patrulha demonstra a sensibilidade da nossa gestão municipal com a temática, e como a integração e a participação ativa das forças de segurança, rede de proteção e sociedade são cruciais para romper o ciclo de violência.

A receptividade do programa pelas igrejas e a participação das mulheres que as frequentam reforçam a importância de unir forças na luta contra a violência de gênero e outras pautas relacionadas à segurança pública. Além disso, evidencia a necessidade de que o poder público reconheça o protagonismo das instituições religiosas, valorizando-as como parceiras estratégicas no enfrentamento aos problemas sociais.

Destaco ainda que em março de 2024 criamos o Portal Mulher. Nele, compilamos dados da rede de proteção e dos serviços municipais voltados para mulheres, além de apresentar informes relevantes sobre o tema. Nosso objetivo é conscientizar sobre os direitos das mulheres e orientar sobre os canais de denúncia e acolhimento disponíveis na cidade.

Entre as ações do Elo por Elas, há também o protocolo de atuação para estabelecimentos como bares, boates, casas noturnas e hotéis, criado em novembro de 2023. O protocolo é fundamental, pois orienta na identificação de casos de vulnerabilidade ou possível violência contra mulheres e estabelece a conduta adequada para cada situação.

Além disso, em 2025 foi criada a Secretaria Municipal da Mulher e Juventude, simbolizando a consolidando de que as mulheres são prioridades na gestão Marília.

Em Contagem, estamos comprometidos em construir uma cidade onde todas as mulheres se sintam seguras, respeitadas e fortalecidas. Essa é uma luta de todas e todos nós, um verdadeiro Elo por Elas!

Viviane França é advogada, mestre em Direito Público pela PUC/MG e especialista em Ciências Penais. Vice-presidente do MDB Contagem. Secretária de Defesa Social em Contagem. Autora do livro Democracia Participativa e Planejamento Estatal: o exemplo do plano plurianual no município de Contagem.

Outras notícias