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Marco Antônio Silveira: Mobilidade urbana – é fundamental investir no transporte público coletivo

Começaremos nossa conversa lembrando que todos nós precisamos nos mover para realizar as atividades do nosso cotidiano. Fácil perceber que o nosso objetivo, de forma geral, não é o deslocamento propriamente dito, mas sim a finalidade pela qual estamos nos deslocando para desempenhar as mais diversas atividades tais como trabalho, educação, saúde, compras, lazer ou por quaisquer outros motivos.

Esses deslocamentos na área urbana costumam ser cada vez mais demorados e penosos para a população, seja pelo custo, pela falta de conforto, pela insegurança e pela imprevisibilidade do tempo de deslocamento. Quem nunca chegou atrasado para um compromisso e se justificou dizendo que a culpa foi do trânsito ruim ou dos ônibus que demorou a passar?

Pessoal o engarrafamento do trânsito hoje está demais; saí cedo de casa, mas só agora consegui chegar para a reunião de trabalho. E além disso não achava vaga para estacionar; tive que parar o carro a três quarteirões aqui do escritório. Tá difícil viu!”

Gente, andar de ônibus nesta cidade tá osso. Demora demais e quando vem já passa lotado; isso quando não quebra no meio do caminho. E pagamos uma passagem cara demais. Se eu tivesse dinheiro compraria um carro e nunca mais andaria de ônibus.

Manifestações assim acontecem quase que cotidianamente em todas as médias e grandes cidades do Brasil, exemplificando o quanto a mobilidade urbana interfere na vida da população.

Mas vejamos com mais cuidado as duas manifestações citadas acima. De um lado temos uma pessoa que aparentemente tem um poder aquisitivo maior, possui um carro e o utiliza para os seus deslocamentos, mas reclama dos congestionamentos e da dificuldade de estacionar; de outro temos uma pessoa usuária do transporte coletivo por ônibus, que acha a passagem cara e reclama da falta de conforto e demora dos ônibus.

Será que a solução seria todo cidadão ter um automóvel próprio e fazer todos os seus deslocamentos de carro pela cidade? Ou, por outro lado, o certo seria termos um transporte coletivo por ônibus mais barato, seguro e confiável, para que as pessoas pudessem utilizar de forma mais tranquila nos seus deslocamentos?

Estamos diante de uma questão delicada:

Qual é a aposta que devemos fazer para ver efetivas melhorias na mobilidade urbana em nossas cidades? Alguém se atreve em responder? Qual a melhor opção?

A resposta não é simples, mas é possível buscar soluções no equilíbrio das alternativas e no bom senso!

Certamente você que está lendo esse artigo tem a exata noção de que a cidade não pode depender do transporte individual motorizado para o deslocamento da população. Não é viável que todos usem carro ou moto para os seus deslocamentos diários. Isso geraria problemas ainda maiores de congestionamentos e dificuldades imensas para estacionar os veículos nos seus destinos, dentre outros aspectos, como por exemplo a emissão excessiva de gás carbônico. Essa certamente não é a solução pura e simples para o problema da mobilidade urbana!

Por outro lado, é fácil perceber que se houvesse um sistema de transporte coletivo de passageiros confiável, confortável e com uma tarifa acessível, seja por ônibus ou outro modal (trem ou metrô, por exemplo), provavelmente muitas pessoas passariam a optar por utilizar esse sistema e deixariam seu carro ou moto em casa, na rotina diária. E com isso os congestionamentos de trânsito seriam reduzidos e os tempos de viagem seriam menores, trazendo conforto e melhor qualidade de vida para a população.

Qual o ponto de equilíbrio a ser adotado? Como resolver a questão?

Importante lembrar que não estamos nos posicionando contra o automóvel ou motocicleta. Possuir um automóvel ou motocicleta é uma aspiração legítima e muitas pessoas de fato sonham em ter seu veículo próprio. A questão é que não é possível que todas as pessoas usem, todos os dias, para todos os deslocamentos, os seus veículos próprios. Isso inviabilizaria a vida nas cidades, como já dissemos anteriormente.

O que estamos querendo dizer é que se torna cada vez mais necessário e imprescindível que os sistemas de transporte coletivo de passageiros sejam confiáveis, acessíveis e rápidos, para que as pessoas possam se deslocar utilizando-os diariamente nos trajetos mais rotineiros, como por exemplo de casa para o trabalho ou de casa para a escola.

Assim é imperativo que o poder público invista e crie as condições para viabilizar um transporte coletivo acessível e de qualidade, priorizando espaço na via pública para os ônibus e/ou investindo no transporte sobre trilhos. Estamos aqui falando de prioridade no sentido mais amplo, o que pode ser feito de diversas formas, como por exemplo a implantação de corredores exclusivos para os ônibus (como é o caso dos sistemas de BRT), de ampliação da malha metroviária existente, e, sobretudo buscando a integração intermodal e a modicidade tarifária. Em outras palavras, é preciso priorizar o transporte coletivo sobre o individual, com tarifas mais baratas e compatíveis com a realidade da população usuária deste transporte.

Alguns podem dizer que esse discurso é antigo e que sempre se falou muito sobre isso e pouco foi efetivamente feito para propiciar um melhor transporte público coletivo nas cidades e trazer a melhoria da mobilidade urbana. E eu concordo em parte com os que pensam assim, mas não me alinho com os que acham que tudo está perdido e que não há solução.

A questão envolve diversos aspectos e comporta muitas discussões, estudos e decisões de ordem prática, mas que dependem de vontade política por parte dos gestores públicos, de um lado, e de uma conscientização da sociedade, de outro. Somente a união do poder público e da sociedade poderá criar as condições para resolver essas questões. E ela passa por se estabelecer como uma prioridade a questão da mobilidade urbana, com foco claro que é preciso investir no transporte público coletivo de passageiros.

Não é preciso buscar em outros países a solução, pois temos bons exemplos no Brasil, onde medidas de priorização ao transporte coletivo de passageiros surtiram efeitos bastante positivos para a população, como é o caso da cidade de Curitiba, a pioneira em implantar corredores exclusivos de transporte por ônibus – o famoso “ligeirinho” – no final da década de 1980. De lá para cá, muita coisa evoluiu, mas o conceito principal foi mantido e está presente nos sistemas BRT (“Bus Rapid Transit”) que foi adotado em várias cidades do país, inclusive na capital mineira, Belo Horizonte.

Ganha relevância neste contexto, a título de exemplo na atualidade, o investimento que a Prefeitura de Contagem vem fazendo com a implantação do SIM – Sistema Integrado de Mobilidade, em fase avançada de obras e que deve entrar em operação em 2025, com 4 terminais de integração (Sede, Petrolândia, Ressaca e Darcy Ribeiro) e 10 estações de transferência ao longo do corredor norte-sul, com destaque para a Av.João César de Oliveira. E além disso, para efetivamente garantir a priorização da circulação dos ônibus, várias obras viárias foram implantadas, como é o caso da duplicação dos viadutos sobre a BR 040 (na Av. das Américas e na Av.Helena de Vasconcelos Costa/Av.Severino Ballesteros, na região do CEASA/MG), dentre outras tantas em fase de implantação.

Evidentemente que o caso de Contagem não é isolado, pois outras cidades no Brasil estão implantando soluções para priorizar a circulação do transporte coletivo por ônibus e outras soluções, como o transporte sobre trilhos (metrô, VLT, etc.). A implantação desses sistemas demanda recursos vultosos e financiamentos de longo prazo, o que requer planejamento e ação contínua para efetivamente poder viabilizar a operação dos mesmos e, consequentemente, trazer os benefícios esperados para a mobilidade urbana.

Aliado às obras propriamente ditas (terminais, estações, viadutos, trincheiras e outras), um passo relevante é buscar a integração tarifária, no intuito de tornar acessível para a população os sistemas públicos coletivos de passageiros, principalmente para a camada menos favorecida da sociedade.

Por fim, convidamos você caro leitor e leitora para refletir sobre o tema aqui exposto: transporte motorizado individual ou transporte público coletivo de passageiros? A sua resposta sincera e, principalmente, o seu engajamento na discussão e busca por soluções na sua cidade, vale uma vida melhor e mais saudável.

Marco Antônio Silveira é Engenheiro Civil e especialista em engenharia de tráfego e transportes

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